Como várias coisas que envolviam muita grana antigamente, computadores definitivamente não fizeram parte da minha infância, e mesmo depois de encostar em um, usar eles para jogar foi algo que demorou um bocado. Então é bem óbvio que eu deixei passar muita coisa para a plataforma, incluindo os famigerados point and clicks, também conhecidos como adventures. Mas tem um em especial que sempre me chamava muita a atenção em revistas antigas e atualmente em comentários de internet: Full Throttle. O motivo mais provável é que ele tem essas motos custom, que pra variar eu não tenho grana para comprar, mas fico babando quando passo na frente.
Só que Full Throttle é um jogo um bocado velho, da época em que você precisava digitar linhas de comando para fazer qualquer coisa funcionar em seu computador, e por incrível que pareça, não possuí nenhum port para qualquer plataforma atual. Com esse cenário nada animador, resolvi trilhar o tortuoso caminho dos emuladores. Instalei umas paradas no meu celular e comecei a curtir o jogo no buzão mesmo, o que não durou muito por dois motivos: tela pequena e comandos (do emulador) nada amigáveis. No final das contas, tomei vergonha na cara e deixei essa dor de cabeça de lado, fui atrás de uma cópia do jogo e... não é que eu consegui uma zero bala, em um preço bem razoável e localizado para o português?
Depois dessa pequena saga para começar a jogar, coloquei o DOSBox para rodar no Ubuntu, digitei umas linhas de comando (adoro linhas de comando) e pronto, lá estava eu em um mundo aonde resta apenas uma fabricante de motos, a Corley Motors, e cheia de gangues de motoqueiros. E a parada já chega com os dois pés no peito, em uma das introduções mais empolgantes que eu já vi, saca só:
Assim somos apresentados a Ben, o líder de uma das gangues, conhecida como Polecats (Doninhas). O protagonista da história acaba se metendo em uma trama "de matar" e agora tem que salvar toda a sua gangue de uma grande cilada. Enfim, uma aventura em um mundo cheio de tretas, bebidas e muito rock ’n’ roll. Não vou ficar contando os detalhes, se não perde a graça do jogo.
Na parte visual, ignorem os pixels que vocês estão vendo, apesar de velho, os gráficos são muito bem desenhados e nítidos, não atrapalhando em nada a jogatina. A ambientação é excelente, e não só por conta dos cenários e personagens, mas também por conta das próprias gangues. Existem quatro delas, cada uma com características, tecnologias e comportamentos completamente diferentes. Claro que se você topar com qualquer uma delas, com certeza o couro vai comer, então é melhor preparar as suas correntes, pedaços de madeiras e até mesmo moto-serras para a briga.
A jogabilidade é o feijão com arroz do gênero, bastar sair clicando em objetos e lugares para se movimentar e futucar nas coisas. Rolam algumas funções pré-definidas, como ver, falar, chutar e socar/interagir com os objetos e pessoas. Pode parecer simples, mas as vezes o jogo é bem cruel, e a lógica para seguir adiante na história nem sempre é muito clara, assim como o que você pode interagir no cenário... não foram poucas as vezes que eu fiquei empacado em um pedaço por não saber o que fazer, mesmo após ter tentado praticamente de todas as formas possíveis e clicado em todos os cantos da tela.
Como eu falei lá em cima, existem alguns trechos onde você controla Ben e sua moto em algumas estradas infestadas de motoqueiros de gangue rivais, tendo que sair na porrada com eles. A ideia é até bacana, mas a jogabilidade neste ponto é muito estranha, mesmo se você levar em consideração a época do jogo, sendo talvez o ponto mais baixo dele.
Por outro lado, um dos pontos altos é a sua trilha sonora, afinal, estamos falando de um jogo sobre motoqueiros. E ela nada mais é, do que um álbum completo (e mais alguns extras) de uma banda chamada "The Gone Jackals", que manda muito bem, com um som que caiu como uma luva para Full Throttle. Para quem curtir, procurem pelo álbum "Bone to Pick".
A dublagem também é indecentemente foda, melhor do que muito jogo novo por aí. Ben sempre está tagarelando algo, mesmo quando está sozinho, e é legal ver o cara resmungando de um milhão de coisas diferentes, como pérolas do tipo "I’m not putting my lips on that".
A localização dos textos para o português também ficou ótima, um trabalho de primeira da BraSoft, que foi quem distribuiu o jogo aqui no Brasil na época. Esqueçam das traduções meia-boca, desde o manual até o jogo, tudo é muito bem adaptado para que você sempre capte o clima exato, as ironias e tudo mais, o que deve ter sido bem complicado em um jogo com tantas gírias e piadas.
No final das contas eu gostei muito de Full Throttle, só demorei um bocado para zerar ele por conta da minha aversão a jogar no PC. Claro que ele tem os seus defeitos, mas foi o suficiente para que eu passe a olhar com um carinho maior os point and clicks. A epopeia de Ben e sua gangue, apesar de simples, é daquele tipo que te deixa grudado na cadeira, querendo saber o que vai rolar em seguida, e é impossível não simpatizar com o motoqueiro canastrão e vários outros personagens únicos que vão aparecendo durante a aventura.
Então é isso aí kambada, peguem as suas motos, coloquem um Steppenwolf bem alto, pisem fundo, sigam na estrada dos jogos... e Vão Jogar!
Não é por menos que Full Throttle é um grande clássicos dos adventures. Com uma história simples, porém bem escrita e personagens extremamente cativantes, é um daqueles jogos que prendem a atenção do início ao fim. Porém os objetivos nem sempre são lógicos, deixando o jogador sem saber o que fazer muitas vezes, e as partes de briga sobre as motos possuí comandos ruins, ainda que a ideia seja interessante. Avaliado noDOS (entenda o nosso sistema de notas)
Agora, sério. Parece muito legal. Quando você disse que tinha comprado, eu nem imaginei como seria. Eu sempre penso nos jogos antigos de PC com preconceito. Eu sei, erro meu, mas eu não sabia que tinha um "LucasArts" na capa. Eles mandavam nos PCs nessa época...
E só a abertura já me deu vontade de jogar...
Pesquisando na Net (cofwikicofpediacof), li que teve um projeto de lançar uma continuação pra PS2, mas que foi cancelada do nada. Acho que seria interessante..
Apesar de ter PC depois de muito tempo, eu cheguei a jogar algumas coisas na casa de amigos, como o saudoso F-22 Raptor e Need For Speed 2, então fico mais de boa com esses jogos.
Eu não sei se cabe uma continuação, a história de Full Throttle é muito simples e fecha ali mesmo.
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