A quarta temporada de Castlevania, série original da Netflix baseada na terceira edição da série de videogame homônima, sobre caçadores de vampiros enfrentando as hordas de Drácula, chegou a plataforma de streaming já há alguns meses, mas só agora eu encontrei um tempinho para assistir e escrever sobre. Ela ainda segue os moldes das temporadas anteriores, adicionando mais 10 episódios com 25 minutos de duração em média.
Embora eu tenha tido algum contato com os jogos da série Castlevania, eu nunca nutri nenhum grande sentimento pelos títulos, de modo que quando o seriado animado surgiu, eu não esperava nada mais do que uma mera adaptação de um de seus jogos para as telas da TV. E apesar do começo um pouco anticlimático, a construção dos personagens e daquele universo me cativou, dentro de uma proposta simples e bem mais pé no chão do que eu esperava.
Eu havia dito na minha análise da temporada anterior que grandes coisas estavam sendo preparadas, o que não foi necessariamente um erro, mas digamos que as coisas foram por um caminho diferente do que eu imaginava. Sim, os acontecimentos da quarta temporada foram significativos e deram um encerramento digno para os arcos de história de vários personagens. Mas tal qual o final da segunda temporada, as coisas aqui soam mais melancólicas do que épicas, ainda que com os traços de ação e humor que permearam toda a série.
O casal Trevor e Siphya seguem com sua excelente dinâmica, mas agora em um cenário diferente, trazendo novos sentimentos: sai a empolgação da maga pelo novo e entra a desesperança e cansaço do já calejado caçador de monstros. Os grandes desafios de ambos não passam por força ou poder, o que ambos, cada um ao seu modo, tem de sobra. As coisas são mais sobre como eles estão presos em uma espiral de constantes batalhas sem nenhum sossego e, de como aquela não é a vida que eles almejam, nem como caçadores, nem como um casal.
Já Alucard, depois de todos os seus sofrimentos e decepções, o que o levou a uma vida monótona regada a muita bebida, o que é muito bem sintetizado pelo próprio personagem com a frase "me tornei Trevor", acaba se envolvendo na defesa de um pequeno grupo de aldeões próximos a seu castelo, que vinham sendo atacados por monstros, o retirando de seu enclausuramento e forçando a conviver com outras pessoas. Mais uma vez não existe nenhum grande desafio em termos de batalhas, Alucard é um ser poderoso que mesmo em momentos de dificuldades, sempre tem a força necessária para enfrentar seus adversários. Voltar a confiar em outras pessoas e aceitar que algumas delas o tentarão prejudicar sim, mas tantas outras não, é o seu grande desafio.
De modo isolado, mas igualmente interessante, temos a dupla Isaac e Hector, que embora tenham seguido caminhos distintos com a queda da corte de Drácula e sejam também dotados de muitas habilidades que os tornam muito mais que meros mortais, tem a frente o que pode ser um grande desafio para todos nós: entender nosso lugar no mundo. Não importa o que você conquiste ou por quais dificuldades tenha passado, isto não é algo fácil e, cada qual ao seu modo irá trilhar o caminho em busca desse conhecimento.
Por fim, o que permeia esta quarta temporada, que sinceramente não sei dizer se é a última da série ou apenas o encerramento de um grande arco de histórias, é a ideia de que no fim todos querem apenas um momento de sossego em meio ao seus objetivos, alguns conquistando reinos, outros derrotando inimigos, vivendo tranquilamente ou apenas se deixando levar pela vida.
Sim, toda a trama de pessoas tentando ressuscitar Drácula por algum motivo esta ali, com toda a dose de ação, sangue e violência contra monstros em batalhas épicas presente. O jogador de videogame que quer ver na série a ação que não era possível de ser exibida graficamente nas telas de uma TV de tubo acoplada a um Nintendinho não pode reclamar de não ter sido agraciado, mas este é apenas o fio condutor para uma história simples, porém bem elaborada, que não apela para uma complicação exagerada para parecer mais do que realmente é. E ao meu ver, este é o grande trunfo de Castlevania, o de não sucumbir a uma megalomania apenas para satisfazer uma base de fãs, e sim se focar em construir uma boa história em um mundo fantástico e cheio de possibilidades.
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