Análise de Firewatch - Ao invés de falar sobre heróis que salvam o dia, Firewatch é um jogo sobre pessoas comuns, que não sabem ou querem lidar com os seus problemas e por isso fogem deles.
Ao invés de falar sobre heróis que salvam o dia, Firewatch é um jogo sobre pessoas comuns, que não sabem ou querem lidar com os seus problemas e por isso fogem deles.
Videogames muito comumente nos colocam em uma posição de poder, seja através de uma arma ou da capacidade de soltar bolas de fogo pelas mãos, onde por mais adversa que seja a situação, nós temos as ferramentas necessárias para superá-las, ou seja, uma grande fantasia sobre ser um herói. Não por menos jogos são uma excelente forma de escapismo, o que utilizado com parcimônia pode até ser ótimo para desanuviar a cabeça dos problemas cotidianos, ainda mais em tempos nos quais nós estamos vivendo. Mas mesmo que esqueçamos deles por um tempo, os problemas não deixam de existir e, nesse contexto não deixa de ser um pouco irônico que justamente um jogo não somente abandone a ideia da fantasia de poder, como também nos lembre que fugir dos problemas além de ineficiente, não é lá uma tarefa muito fácil: estou falando de Firewatch, título narrativo em primeira pessoa desenvolvido pela Campo Santo e lançado em 2016.
Tudo gira ao redor de Henry, um homem de 39 anos que resolve fazer um trabalho voluntário como vigia florestal no Shoshone National Forest, no estado de Wyoming (EUA), durante o verão de 1989. Henry é uma pessoa comum, sem nenhuma grande aptidão física e que por diversas vezes tomou decisões bem questionáveis ao longo da vida, decisões inclusive que em parte cabem ao jogador tomar no início da trama, embora não alterem muito o resultado, quando você é apresentado a história de como ele conheceu a sua esposa, Julia, como foi a vida de casado dos dois e posteriormente como tudo se tornou sofrível e doloroso devido a um processo de demência precoce que ela desenvolve, culminando com a mudança dela para outro país para ficar sob os cuidados da família. Rapidamente fica claro como tudo isso o tornou uma pessoa um tanto quanto triste e amarga, procurando no trabalho uma fuga para os seus problemas: um escapismo. E justamente por ser alguém tão comum é que Henry se torna um personagem de tão fácil identificação e interessante, não é alguém com super poderes lutando contra forças divinas, é só um cara comum, falho, por vezes meio babaca e que não sabe como lidar com os seus próprio problemas, encarando a situação de uma maneira análoga a uma criança que tampa os ouvidos quando não quer ouvir algo que vai de encontro com a sua vontade.
A parte jogo de Firewatch é focada justamente no trabalho de Henry como vigia da reserva, não trazendo nada de incrível no processo, salvo admirar as maravilhosas paisagens que a desenvolvedora do jogo criou. Você até tem algumas mecânicas básicas de exploração, que em alguns momentos, eu confesso, se apresentaram um pouco frustrantes, além da utilização de equipamentos para progressão, mas no final você está ali sendo guiado mais pela história, apenas auxiliando Henry a realizar as suas atividades, que não vão muito além de reportar focos de incêndio e chamar a atenção de adolescentes aprontando alguma confusão na reserva. Em parte do material extra, os desenvolvedores descrevem a visita deles a parques reais e como eles foram utilizados como base para o jogo, mas adaptações foram feitas para que também tudo não virasse um grande e enfadonho simulador, o que nunca foi o propósito.
Apesar da rotina meio monótona e praticamente sem contato com outras pessoas, intensificado até pelo fato de que na maior parte do tempo o jogo não conta com uma trilha sonora, que aparece acertadamente apenas em pontos chave da trama, na verdade Henry nunca está literalmente sozinho, já que é possível a qualquer momento entrar em contato pelo rádio com a sua superior, Delilah, que fica em uma torre de observação do outro lado da reserva. E é justamente aí que o jogo apresenta o seu ponto alto, já que os diálogos entre os dois são muito bem escritos e dublados, expondo perfeitamente a personalidade e sentimentos de cada um. A todo instante você pode reportar algum acontecimento ou pedir uma informação para Delilah, além de eventualmente os dois conversarem sobre as suas próprias vidas. E apesar de ambos terem os seus problemas, dando um clima por vezes meio pesado a trama, há também momentos bem humorados, ainda que seja de Henry resmungando de alguma coisa, mas mais usualmente com os trocadilhos infames de Delilah. Existem outras nuances aparentemente simples, mas que ambientam o jogo de maneira brilhante, como quando você encontra uma máquina fotográfica descartável com apenas 24 poses restantes, que pode ser utilizada livremente pelo jogador e que você só vê as fotos reveladas ao fim do jogo, incluindo as poses tiradas pelo dono original. E embora seja apenas uma emulação de um processo fotográfico que só começou a ser abandonado no mundo real ali pelo meio dos anos 2000, ao menos no Brasil, a ideia de Henry e, consequentemente você, só poderem ver as fotos quando ele sair do parque e mandar revelar o filme, trazem um impacto completamente diferente ao jogo do que se ele se passasse em tempos atuais e ali fosse encontrada uma câmera digital. Inclusive os desenvolvedores chegaram a oferecer a impressão e envio das fotos de verdade, mediante um pagamento, para os jogadores da versão para computador.
E é fascinante como o jogo consegue sustentar a trama de maneira simples, fazendo você junto a Herny ao longo dos dias, criar um afeto por Delilah, mesmo que ela seja apenas uma voz no rádio, sem que para isso precise apelar para uma apresentação excessiva de diálogos, incluindo os momentos em que ocorrem alguns saltos temporais onde fica facilmente entendível a evolução da relação dos dois. Eventualmente o jogo quebra as nossas expectativas, apresentando um mistério sobre algo que acontece ali na reserva, ainda que de forma meio abrupta, mas que serve muito mais para a dinâmica das personagens do que para elaborar uma trama mais complexa e fantasiosa. No fim, são apenas pessoas quebradas emocionalmente buscando fugir dos problemas, sem nenhuma resposta pronta sobre o que fazer, que apenas veem o incêndio chegar, mas sem nenhuma capacidade de reação.
Não é incomum se referirem a Firewatch como apenas um "simulador de caminhada", que ele poderia ser simplesmente um livro ou até mesmo que ele tem um fim meio decepcionante, mas tudo isso tem relação com o que eu disse anteriormente, que é um jogo sobre pessoas e vidas comuns. Na vida real as histórias de cada pessoa são pautadas por simbolismos muito individuais e raramente tem finais grandiosos, isso quando conseguimos dizer onde uma etapa termina e a outra começa. E esse é o grande mérito do jogo, o de nos colocar no papel de uma pessoa com uma vida conturbada fazendo coisas triviais, mas ainda sim de um modo em que você entende pelo que ela está passando e isso tenha um significado. Tanto que nem Henry ou Delilah são personagens totalmente definidos, cabendo ao jogador ao final decidir o que ele mesmo acha de cada um.
Firewatch não é um título que mostra do que videogames são capazes de um ponto de vista gráfico ou de processamento, mas de como jogos conseguem criar uma interação entre jogador e narrativa de uma perspectiva única, por mais banal que sua a sua história possa parecer.
Firewatch contém uma excelente narrativa, centrada nas vidas de pessoas comuns, que buscam somente fugir de seus problemas ao se isolarem do mundo em um trabalho no meio do nada. Guiado por mecânicas de exploração simples, o título se sustenta com cenários belos e diálogos muito bem escritos, aliados a uma dublagem impecável, criando uma conexão única com o jogador. Avaliado noXbox One (entenda o nosso sistema de notas)
Quando mais novo eu cheguei a fazer trilha em um matagal de Brasília, onde tive determinado tipo de experiência no quesito estar sozinho e ter aquela sensação de estar sendo observado por alguém!!!! De um certo modo naquela época(anos 90), eu tinha mais coragem, vontade de explorar e sentir a natureza no seu lado mais cru!!!! Era uma época onde eu morava perto desse matagal onde tinha algumas fazendas ali perto e um rio que até hoje existem dividindo duas cidades...o rio hoje em dia está poluído mais do que nunca!!!! No início ia fazer trilha acompanhado com adultos e amigos, no decorrer do tempo começei a ir sozinho...aquela sensação de medo e angústia foram o que mais me incomodava com o tempo!!!! Com o avanço da idade, a violência que não para de aumentar e as queimadas que acontecem muito na Região Centro Oeste e em grandes partes do Brasil...hoje em dia eu não tenho mais essa coragem!!!! Tentei uma vez em 2002 e voltei no meio do caminho!!!! A natureza é linda em todos os aspectos, infelizmente o homem está acabando com a natureza e assim deixando um lugar belo com cara de lugar sinistro!!!! valeu!!!!
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