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O que eu joguei em 2023 - Tchulanguero

As vezes nem eu sei de onde eu tiro tanto tempo para jogar.

autor Rafael "Tchulanguero" Paes   datahora 16/03/2024 às 14:46:37   tagarelices 4

As vezes nem eu sei de onde eu tiro tanto tempo para jogar.


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Pensaram que eu havia desistido deste escrito aqui por uma mera questão temporal? Pois ele demorou um pouco, mas chegou, apesar da campanha oficial do meme este ano não ter rolado, acontece. Mas como eu havia prometido no editorial de aniversário, desta vez eu quis escrever um pouco mais do que o de costume sobre cada jogo, então para não sair tudo corrido demais, apesar de eu ter escrito boa parte cansado depois do trabalho, preferi atrasar um pouco mesmo. Mas o resultado está aí, mais uma vez o listão de jogos do que joguei no ano anterior, agora cheio de detalhes.

Relembre o que eu joguei em 2022

Como eu havia profetizado no ano passado, 2023 foi um ano em que a quantidade de jogos foi menor, ou quase, mas em compensação foram muitos jogos gigantes, o que significa que eu joguei muito de qualquer forma, sabe-se lá como, considerando o pouco tempo livre que eu tenho. E já de antemão eu digo que 2024 provavelmente vai seguir nessa mesma linha, em parte também porque eu estou tentando conter aquele sentimento de "tenho que jogar imediatamente a próxima coisa" e me permitindo ficar um pouco mais tempo com os jogos... as vezes muito mais tempo.

Então sem mais delongas, eis os jogos que eu joguei em 2023.

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Xenoblade Chronicles 3 (Switch)

Personagens Noah e Mio, de Xenoblade Chronicles 3, tocando flauta

Eu já havia falado sobre Xenoblade 3 no ano passado, mas esse jogo vale a pena ser mencionado sempre que houver oportunidade. A terceira entrada numerada da já tradicional série de JRPG da Nintendo é o ápice de tudo o que seus antecessores traziam de melhor, em um grande primor técnico visual, sonoro, musical e, principalmente, narrativo. Ainda que ele possua uma história própria que não dependa muito de você ter jogado os títulos anteriores, é muito interessante como sutilmente ele acrescenta novos elementos a esse universo que começou lá no Wii.

É um jogo que também soube olhar para as burocracias de títulos passados, sejam nas mecânicas de batalhas ou emaranhados de equipamentos dificílimos de entender, simplificando tudo de uma forma em que batalhar se torna muito mais dinâmico. Sim, ainda é o esquema meio MMORPG em que o personagem tem ataques automáticos mesclados com ações disparadas pelo jogador, que eu sei não agradar todas as pessoas, mas dessa vez foi tudo na medida certa. Claro que existe uma mecânica aqui ou acolá que carecia de um melhor polimento, mas nada muito comprometedor.

Mas de longe o que Xenoblade 3 traz de melhor é a construção de seus personagens principais. Muito longe de qualquer estereótipo comum do gênero, os protagonistas se apresentam como pessoas reais, que ainda que em um mundo de fantasia, se comportam como seres falíveis e cheios de dúvidas, com conversas sinceras sobre o que eles são ou almejam, que apesar de unidos por circunstâncias forçosas, constroem laços emocionantes de amor e amizade. Isso cria momentos em que mesmo quando a história principal caia em velhas e conhecidas narrativas de jogos, você realmente se importe com o que está acontecendo e com o destino daqueles personagens. E tudo isso com um esmero não só de escrita, mas também de direção de cenas e, especialmente, de dublagem, ao menos na versão em inglês, que foi com a qual eu joguei. Como todo JRPG, é um drama um tanto quanto brega em diversos momentos, o que não é um demérito, mas definitivamente é um jogo emocionante e feito com um esmero ímpar.

God of War (2018) (PlayStation 4)

O personagem Kratos, de God of War, de machado em punho de frente a um grande troll

Falando em jogo emocionante, eu, acompanhado da Letícia, finalmente cheguei ao final da jornada pessoal de Cleiton e seu filho. E como foi bom ter uma boa história de God of War, que ainda que tenha tido os seus momentos épicos, se preocupou muito mais em olhar para dentro de Kratos e refletir sobre o que é o personagem. Em diversos momentos era quase como se os desenvolvedores não estivessem falando do deus caído e sim do que era God of War no passado e qual é o seu lugar nos tempos atuais. Isso tudo sem renegar o que Kratos foi e muito menos descaracteriza-lo. Dá para resumir boa parte do que é esse jogo como uma grande reflexão do protagonista sobre o seu passado, como isso o moldou e o que isso lhe trouxe, como um grande fantasma a ser exorcizado através de uma jornada de autoconhecimento.

Mecanicamente eu gostei muito do ritmo mais cadenciado que o jogo ganhou, ainda que com lógicas de batalhas bem simples. Apesar de se distanciar bastante do hack ’n’ slash do passado, com um Kratos bem mais lento e auxiliado por seu filho Atreus, que atua como um elemento estratégico e narrativo, o tempo todo há um reforço sobre o quão forte o personagem é, você sente o peso de cada golpe e essa lentidão me foi essencial nesse quesito. E o machado, nova arma de Kratos, complementa muito bem esse combate dando a dinamicidade que ele precisa. Só é uma pena que em relação a parte de equipamentos o jogo se perde em menus desnecessariamente complexos, em que eu só equipava o mais óbvio para não ter que lidar mais com aquilo.

No final das contas eu acabei não explorando muito o jogo além de sua narrativa principal, mas o mundo ali trazido é muito interessante, explorando bem uma nova mitologia e adaptando de maneira acertada o personagem estrangeiro naquele universo. Apesar do gancho absurdo para uma nova história, o final dele é um ótimo encerramento de arco, seguindo a linha do que foi o jogo inteiro, respeitando o personagem e o trazendo a uma nova era. Eu sei que God Of War Ragnarok no geral não foi bem recebido, mas definitivamente eu ainda quero ver onde esse "novo" Kratos vai chegar.

Vampire Survivors (Android)

Tela do jogo Vampire Survivors, com um personagem esqueleto ao centro, cercado por um campo de proteção e centenas de imimigos ao seu redor, em um cenário de biblioteca

O surto em forma de jogo me pegou de vez, eu simplesmente fiquei fissurado em Vampire Survivors, curiosamente em sua versão para celular mesmo, que funciona muito bem. Nomeado por muitos como um "bullet hell invertido", toda a lógica de ficar tentando ir cada vez mais longe nas fases e aos pouquinhos melhorar os equipamentos, descobrindo as melhores combinações e sem querer esbarrando em cada vez mais segredos, estrategicamente liberados paulatinamente, me pegaram muito de jeito. Quantas vezes eu não comecei jogando no ônibus no caminho de volta do trabalho e terminei em casa, só porque eu estava quase conseguindo passar uma determinada fase, faltando apenas mais um pouquinho de alguma coisa. Aliás, jogo perfeito para o trabalhador que vai em pé no transporte público, sendo facilmente jogado com uma única mão e com o celular em pé.

Apesar do visual meio tosco, literalmente chupinhado de sprites de Castlevanias antigos, a pirotecnia visual desse jogo também é outra coisa que me pega. Assim como acontece em jogos de outros gêneros, como Bayonetta, por exemplo, há momentos em que simplesmente não se vê o que está acontecendo, é só luzes piscando, inimigos vindo de todos os lados e os números de dano subindo. E eu adoro essas coisas!

Apesar de no momento eu estar com ele um pouco em pausa, principalmente por ter exaurido todo o seu conteúdo base, eventualmente eu vou cair na besteira de comprar as DLCs que foram lançadas para novamente cair em outro buraco sem fundo.

Mass Effect Legendary Edition: Mass Effect (PC - Windows - EA App)

Cena de Mass Effect 1, com a personagem Sheppard de armadura e arma em punho, mirando para uma nave espacial alienígena ao fundo, de frente a uma base

Em algum momento do passado eu havia prometido não mais retornar a Mass Effect para não quebrar a magia da minha história, mas eu acabei não resistindo a possibilidade de jogar novamente a trilogia completa, com todas as DLCs e tradução (não oficial) para o português brasileiro. Mas para mudar um pouco as coisas, dessa vez eu joguei com a versão chata masculina de Shepard.

Mass Effect segue como o meu preferido da série, um CRPG de ficção científica bem aos moldes de jogos antigos do gênero, com uma história épica, muita ação, exploração espacial, personagens cativantes, um pouco de romance e trocentas possibilidades de rumos a serem tomados. Tudo bem que mesmo com essa versão melhorada as coisas ainda sejam um pouco datadas, o tiroteio é estranho, os menus de equipamentos são incompreensíveis, a exploração dos planetas com o Mako varia do frustrante ao enfadonho, as missões secundárias no geral ocorrem sempre na mesma meia dúzia de mapas e muitas delas vão terminar simplesmente com uma grande caixa de texto explicando o que aconteceu, ainda que nos futuros jogos sejam histórias de grande importância.

Apesar desse modo meio desengonçado, com esse pé em jogos de computador do milênio passado, e de fato em diversos momentos Mass Effect se parece com um jogo dos anos 1990 lançado nos anos 2000, o clima regado a sintetizadores, aquela diversidade alienígena digna de um Star Trek, em que cada espécie foi minuciosamente escrita e pensada, a construção de mundo, os diálogos excelentes e o senso de grandiosidade fazem dele algo único entre os videogames. Eu sei que hoje não dá para negar que Shepard tenha uma vibe meio canastrona demais, com toques de misoginia e fortes tendências a discursos fascistas, o que deixa um tom meio agridoce por toda uma narrativa muito bem escrita, mas ainda assim é um jogo que se sustenta por apresentar um universo rico e único.

Leia a nossa análise da Trilogia Original de Mass Effect

Mass Effect Legendary Edition: Mass Effect 2 (PC - Windows - EA App)

Personagem Thane, de Mass Effect 2, em destaque

Eu acho um grande feito da BioWare de como em um espaço de mais ou menos três anos dentro de uma mesma geração ela deu um salto técnico tão absurdo em uma sequencia, Mass Effect 2 é visualmente mais bonito que o primeiro, com ambientes muito mais detalhados e ricos. O problema é que boa parte do clima de ficção científica acabou se perdendo no caminho, a exploração foi reduzida a menus e minigames, trazendo um jogo muito mais focado na ação com toques de RPG, ainda que os longos diálogos e foco na história tenham sido mantidos.

Mas o grande destaque do jogo dessa vez não está em uma narrativa épica, ainda que ela esteja lá, e sim em seus personagens. Com uma história estruturada como um clássico filme de roubo, como Onze Homens e um Segredo, na maior parte do tempo o foco estará em recrutar, conhecer, ajudar e se afeiçoar aos membros da sua equipe, que são bem melhores construídos do que no primeiro jogo. Aliás, rever alguns dos seus velhos companheiros, agora cada qual tomando conta de sua própria vida, é todo um acontecimento. Infelizmente para mim aqui também está o "Calcanhar de Aquiles" do jogo, já que mecanicamente as coisas são um pouco estranhas.

O sistema de personalidade de Shepard deixou de se apoiar na lógica de pontos de "carisma" e "intimidação" na ficha, para incorporar de vez a lógica de "paragon" e "renegade", que diga-se de passagem, são herança de Star Wars: Knight of the Old Republic e seu sistema de "Lado Luminoso" e "Lado Sombrio" da Força. Então conforme as decisões são tomadas você vai pendendo para um lado ou outro, o que seria excelente se não fossem determinadas situações que só podem ser resolvidas com números muito altos de um dos lados. Felizmente nessa versão as coisas foram amenizadas, mas ainda sim pode ser bem frustrante ver uma impossibilidade diante dessa mecânica, que ainda por cima vai te privilegiar bem mais em termos de narrativa se você for puramente "bonzinho".

Outro problema que eu tenho com o jogo são com o relacionamentos românticos de Shepard. Legal a diversidade, legal que agora a versão masculina do comandante também possa ser bissexual, mas é meio triste que os melhores diálogos com os personagens estejam atrás da decisão de com quem você irá levar o relacionamento adiante. Sabe, eu não quero ter que ficar jogando um milhão de vezes só para cada vez escolher um novo par e ter mais um pedaço da história.

Ainda que com os problemas apontados e a persistência na construção problemática do personagem de Shepard, Mass Effect 2 foi outro grande jogo, que faz com que você realmente se importe com os personagens e o que vai acontecer com eles... ou quase, eu ainda não consigo gostar 100% da Miranda e seu discurso de "nossa, como é difícil ser a mulher perfeita, por isso eu vou ser pau no cu com todo mundo". Ele abandona muito dos pontos fortes do primeiro jogo, mas transforma isso em melhorias para outros aspectos e construções de mundo.

Mass Effect Legendary Edition: Mass Effect 3 (PC - Windows - EA App)

Personagem Sheppard, de Mass Effect 3, de armadura e arma em punho, com um grande ser alienígena ao fundo disprando raios sobre um planeta rochoso

Toda história uma hora chega ao fim e com a saga de Shepard não seria diferente, Mass Effect 3 é o grande épico sobre como o famoso herói terráqueo vai salvar toda a galáxia de uma grande ameaça. Esqueça qualquer sutileza que Mass Effect 2 ainda mantinha, esse jogo abraça um tom militaresco chatíssimo, transforma Shepard no "Rambo do espaço" e te coloca em uma linha quase reta de muitos tiros e destruição. Ok, mais uma vez eles conseguiram melhorar as mecânicas de combate e é divertido sim sair chutando bundas alienígenas pelo espaço.

Mas se o final do jogo em seu lançamento foi decepcionante, sendo até hoje um caso bizarro em que os desenvolvedores tiveram que reescrevê-lo e lançar como uma atualização gratuita depois, eu diria que Mass Effect 3 tem vários finais e que eles são legais para um caramba sim. Claro que hoje com jogos como Disco Elysium e Baldurs Gate 3 é fácil olhar para as decisões de Mass Effect como um simples organograma, mas ter acompanhado vários personagens e histórias ao longo de tantas horas, com decisões e mais decisões sendo tomadas, para finalmente ver os efeitos de tudo isso em grandes épicos contidos dentro de um épico maior ainda, é sim bem emocionante. Foda-se se o final é chato, a história principal de Mass Effect nunca foi lá grandes coisas, mas o desfecho de cada personagem, cada raça alienígena e seu planeta, com aquele sentimento de que foi você que fez tudo aquilo acontecer, faz sim com que Mass Effect 3 seja um bom jogo. E eu perdoo a BioWare pelo Shepard militar chato só porque existe "Cittadel", de longe a melhor DLC de todos os três jogos, com um tom que hoje a gente associaria facilmente a um filme da Marvel, mas que mescla bem humor, ação e termina com uma grande celebração de todo aquele universo e uma calorosa despedida dos companheiros que eu acompanhei por tantas horas.

Embora suas mecânicas narrativas já tenham sido superadas em outros jogos atuais, Mass Effect 3 ainda segue sendo a culminação de um projeto muito ousado, em moldes que hoje em dia dificilmente veremos novamente, ainda que isso não seja nem melhor, nem pior, apenas único. Mesmo que muitas coisas ao longo da trilogia pudessem ter sido bem diferentes, com menos intervenções administrativas atrapalhando a parte criativa, com talvez o futuro da série não alcançando nunca mais o que já foi em outros tempos, eu não consigo olhar para Mass Effect 3 e me sentir insatisfeito, é uma história que com seus erros e acertos eu sempre vou levar no meu coração de videogameiro.

Cuphead: The Delicious Last Course (Switch)

Personagem Cálice, de Cuphead, em um porão de castelo deserto

Depois de comer o pão que o diabo amassou em Cuphead, foi a hora de voltar para The Delicious Last Course, a única DLC lançada para o jogo. E é estranho falar dessa expansão, já que ela acrescenta "apenas" mais uma ilha ao jogo de correr e atirar de Xicrinho e Caneco, agora acompanhados da Srta. Cálice, mas quando você pensa no nível da perfeição da produção que esse jogo tem, é completamente compreensível, a animação segue primorosa como sempre e a trilha sonora está em diversos momentos ainda melhor.

Apesar de tudo, a experiência de The Delicious Last Course não difere muito do jogo base, ainda é um grande exercício de paciência, em que os ataques de cada chefe devem ser memorizados, a vontade de jogar o controle na parede superada, para então enfim ver a vitória acontecer, e sim, as vezes esse processo demora muito. A inclusão da Srta. Cálice ajuda um pouco a dar uma variada na mecânica, já que ela pede um modo de jogar um pouco diferente dos outros dois personagens, com alguns chefes claramente sendo pensados para as novas mecânicas e movimentos da protagonista.

É um encerramento digno de um jogo primoroso que demorou tantos anos para ser lançado, com um nível de paixão em sua produção que o faz alcançar um lugar especial junto a tantos outros grandes títulos, com aquele olhar maroto para jogos infernalmente difíceis de outras épocas.

The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom (Switch)

Personagem Link, em Tears of the Kingdom, em uma plataforma de pedra, em uma ilha no céu, com Hyrule ao fundo e algumas outras ilhas flutuantes

Breath of the Wild foi um grande marco para os videogames. Não só era um novo jogo da série Zelda, mas também um jogo que repensou o modelo de mundo aberto, fazendo de sua mecânica central o simples ato de ir do ponto A ao ponto B. Você olhava um local distante e calmamente ia na direção, escalando montanhas, matando monstros, atravessando rios e desviando constantemente de seu rumo porque tudo naquela nova Hyrule parecia interessante. Era um cenário tão bem pensado e ao mesmo tempo complexo, que parecia que demorariam anos para outra coisa chegar ao menos próxima daquela experiência. Bom, demorou "apenas" seis anos não somente para se aproximar, mas também para superá-la.

Tears of the Kingdom é uma expansão absurda do que foi Breath of the Wild em todos os seus aspectos. Não é um jogo sobre calmamente planejar como transpor um grande obstáculo em seu caminho, é sobre você literalmente se atirar para os céus, subir em uma ilha flutuante, para logo em seguida se jogar para o mais profundo subterrâneo de Hyrule, tudo isso da maneira mais trivial possível e ainda sim mágica todas as vezes que acontece. É um jogo muito mais rápido e dinâmico, bem diferente de seu antecessor, contradizendo completamente quem diz que ele é apenas uma DLC de luxo. Por isso que eu até entendo quem diz que ainda prefere Breath of the Wild, apesar de agora olhar para o título passado e pensar que ele parece quase um grande protótipo que não havia alcançado todo o seu potencial.

E a mudança na exploração não se deve somente a uma mudança e expansão de cenário, mas também as novas ferramentas de Link. Desde poder fundir itens em suas armas e flechas dando efeitos variados, passando por voltar objetos no tempo, construir veículos ou seja lá o que mais a sua imaginação mandar, até a incrível habilidade de atravessar o teto de qualquer lugar no qual exista uma superfície na qual Link possa pisar do outro lado, faz com que o simples fato de se movimentar por aquele mundo se torne uma expressão criativa, não importando se você vai fazê-lo de uma maneira simples e prática ou do modo mais mirabolante possível. E o jogo meio que não se importa, porque de qualquer forma você vai alcançar o seu objetivo e mais uma vez o clichê de que "o que importa não é o destino e sim a jornada" se aplica aqui, e funciona, e é foda para um kct, e roda na porra de um celularzão de uns 8 anos atrás sem dar um mísero problema.

Apesar de não ser o grande foco, me surpreendeu também o quão boa é a narrativa desse jogo, por mais que estruturalmente ela seja idêntica ao que tivemos em Breath of the Wild. É mais um jogo em que você olha e diz que a história não tem nada de incrível, mas que o desenvolvimento dos personagens faz toda a diferença, em especial da própria Zelda. Não foi dessa vez que nos deixaram jogar com a portadora da Sabedoria, mas Zelda tem um excelente desenvolvimento, com momentos legitimamente profundos que me surpreenderam positivamente, deixando bem de lado o estereótipo da donzela em perigo. Ganondorf também se apresentou como um bom personagem, apesar de em menor medida, é um vilão que aparece apenas pontualmente, mas que faz a diferença, fora o fato de proporcionar uma batalha final foda, cheia de detalhes que me deixaram de queixo caído em diversos momentos. Além disso, foi gostoso reencontrar personagens do jogo anterior e ver as suas histórias, o que fizeram nesse meio tempo e a suas evoluções enquanto pessoas. Curiosamente é um jogo que foca muito pouco em Link e se atém a como a população daquela Hyrule seguiu em frente e está tentando se reconstruir após a grande calamidade. Apesar de ter adorado todo esse cenário e o desfecho que a história teve, me fez ver o quanto de potencial narrativo ainda pode ser explorado na série Zelda.

Street Fighter 6 (PlayStation 4)

Cena do jogo Street Fighter 6, com Ken e Ryu lutando em um beco na cidade de Metro City

O mais novo jogo da minha série de luta favorita finalmente foi lançado e eu confesso que joguei muito menos do que eu gostaria, mas ainda sim consigo dizer com segurança que é um título excelente, com uma renovação de temática e elenco muito bem vinda, mesmo que eu seja órfão dos gráficos em 2D de 3rd Strike e sonhe com uma nova Street Fighter com aquele tipo de visual.

Diferente de muita gente eu nunca foco no modo online desse tipo de jogo, até por eu nem ser assinante da Plus, mas a minha diversão atual em jogos do gênero sempre está em dominar os controles contra a máquina mesmo, especialmente em dificuldades mais altas, ainda que eu raramente me torne bom nisso. Talvez por isso o novo esquema de controles, chamado de "moderno", não tenha me pego tanto, ele de fato torna o ato de jogar muito mais fácil, em especial para quem não tem muita familiaridade com jogos de luta, mas ao mesmo tempo ele me tira um pouco esse aspecto da jornada do aprendizado. Mesmo assim, excelente adição e muito bem executada, em um jogo que mecanicamente é muito bom, equilibrado e, principalmente, gostoso de jogar.

Acabou também que eu não aproveitei muito o modo World Tour, que permite montar o seu personagem e jogar uma espécie de jogo de mundo aberto bem simplificado, onde qualquer pessoa na rua pode ser desafiada e os personagens principais são mestres marciais, que apesar da simplicidade é bem divertido. Aliás, não somente nesse modo, mas também toda estética do jogo que remete a algo "das ruas" foi extremamente acertada, afinal, é literalmente um jogo de briga de rua. Ainda que pontualmente, com certeza seguirei o jogando por um longo tempo.

Metal Gear Solid V: Ground Zeroes & The Phantom Pain (Xbox One)

O personagem Snake, de Metal Gear Solid V, segurando um cachorro no ar, com o personagem Revolver Ocelot ao seu lado

Sim, eu vou falar dos dois jogos juntos, porque Ground Zeroes é nada mais que uma primeira parte do jogo que foi vendida separadamente e antes do lançamento completo, mas é literalmente a mesma coisa que Phantom Pain.

Metal Gear Solid V foi o último título da série dirigido por Hideo Kojima, e após a sua turbulenta saída da Konami provavelmente assim o será para todo o sempre, dessa vez contanto mais um episódio da história de Big Boss. E apesar de não ser o ápice narrativo de Kojima para a série, Metal Gear Solid V foi um passo significativo no que é Metal Gear Solid em termos de mecânicas, com uma boa reformulação do que estávamos acostumados desde as aventuras de Snake em Shadow Moses no primeiro PlayStation.

Apesar de parecer estranha em um primeiro momento a ideia de um Metal Gear de mundo aberto baseado em missões, e em diversos momentos é mesmo, parecendo vazio e sem sentido, isso tornou o ato de invadir uma base algo muito mais dinâmico e criativo. As ações básicas de Snake ainda são meio que as mesmas dos jogos anteriores, você pode desacordar ou matar os inimigos de diversas formas, se eles te verem um alarme irá soar e você terá que fugir e se esconder até que eles te esqueçam, mas poder abordar os lugares de formas diferentes e por lugares diferentes, faz com essa ação seja muito menos guiada e interessante. Apesar da furtividade seguir sendo a mecânica principal, o jogo agora não mais te pune se você resolver agir igual a um Rambo e sair atirando em todo mundo, muito pelo contrário, você terá as ferramentas adequadas para isso, ainda que existam consequências. Agora até mesmo você pode ir acompanhado nas missões, sejam por animais, pessoas ou robôs, mudando muito as estratégias adotadas com cada um. É uma abordagem nova para mecânicas antigas que funciona surpreendentemente bem, que apesar do futuro muito incerto da série, eu espero que Kojima consiga trazer a sua máxima fruição em sua nova e recente anunciada série de espionagem.

Como eu disse antes, em termos de narrativa Metal Gear Solid V de fato não é o ápice da série, mas isso não significa que seja uma história ruim. O novo segmento da trajetória de Big Boss traz aspectos bem interessantes ao mundo de Metal Gear, com a introdução de personagens chave do futuro da história, ainda que o Kojima crie os seus conceitos narrativos bizarros em cima de entendimentos bem precários sobre como a biologia do mundo real funciona. Infelizmente mais uma vez as personagens femininas do diretor são terrivelmente retratadas, a despeito do quão interessante suas histórias possam ser e sim, eu estou falando de Quiet. O conceito da atiradora de elite que fica andando de biquíni para cima e para baixo não faz sentido nenhum, não importa a explicação que o jogo dê, e o fato de que em determinados momentos em que você está com ela no helicóptero a caminho das missões, ela literalmente vire a bunda para Snake e dê uma olhadinha para trás, só faltando dar uma piscadinha, diz muito sobre a visão do jogo para a personagem, mesmo que ela seja de longe a com o melhor desenvolvimento depois de Snake. Como comum na série, é um excelente jogo, apesar de seus inúmeros tropeços.

Fallout 4: GOTY Edition (Xbox One)

Personagem feminina de Fallout 4, cabelos pretos presos em um coque, agachada e acariciando um cachorro da raça pastor alemão

Eu nunca vou esquecer do arrepio que senti quando vi pela primeira vez o trailer de anúncio de Fallout 4. É estranho, porque na época eu só havia jogado o terceiro jogo, mas foi um jogo que eu joguei tanto e tão intensamente, que a série acabou virando uma de minhas favoritas. E confesso que veio um desânimo devido as diversas críticas que o jogo recebeu posteriormente, mas 2023 foi a hora de parar de fugir e encarar definitivamente o jogo, que na verdade eu já havia comprado há um tempo.

Apesar de algumas melhorias técnicas e de interface, a mudança de geração e até uma simplificação de vários de seus sistemas, que eu confesso não ter gostado muito, já que coisas como "lábia" e "furtividade" ficaram banalizadas e sem graça, Fallout 4 é meio do que se convencionou a chamar de um "Bethesda Game", sendo o que já se espera de qualquer jogo do estúdio, para o bem ou para o mal. É aquele RPGzão de tiro e mundo aberto pós-apocalíptico, meio bugado, com umas histórias interessantes que colorem aquele vasto mundo, com alguns personagens legais, mas que dificilmente você vai conseguir extrair muita substância. É o triste caso onde nada é necessariamente ruim, mas também nada é muito bom. O jogo até tenta criar uma sensação de escolha, mas a verdade é que você nunca vai tomar nenhuma grande decisão. Em termos de narrativa, o que eu tive de melhor mesmo foi durante a DLC "Far Harbor", mas que ainda sim não apresentou nada de muito incrível. Definitivamente é um jogo que ficou bem aquém de seu antecessor, New Vegas, que aliás não foi feito pela Bethesda e sim pela Obsidian (The Outer Worlds), mesmo que tenha tentado trazer novidades para a série.

Agora, isso não significa que eu não tenha gostado do jogo e transformado ele na minha casinha por muitas horas a fio. Sim, nem história, nem personagens me pegaram muito, ainda que eles tenham incluso a possibilidade de romances, o que sempre é interessante em jogos do gênero, mas Fallout 4 é muito gostoso de se jogar, eu sinto que a mecânica de tiro está muito mais refinada que seus antecessores, em especial se escolher o perfil de franco atirador, que é como em geral eu sempre jogo jogos de tiro. A parte de construção eu confesso não ter me aprofundado muito, mas legal que tem, imagino que muita gente tenha pirado muito nesse modo. Também não acho que a forma como eles tentaram criar um senso de comunidade dentro daquele mundo funcionem muito bem, mas ainda sim eu acabei investindo uma boa parte do meu tempo nisso. No final foi um bom jogo para simplesmente esquecer de tudo e me afundar naquele mundo caótico infestado de mutantes, necróticos e toda sorte de pessoas sedentas pelas minhas parcas posses, todos obviamente recompensados com muitos tiros e granadas.

Transistor (PC - Linux - Steam)

Cena de batalha do jogo Transistor, com a protagonista Red enfrentando algumas pequenas criaturas em um cenário urbano futurista

Esse é um caso curioso de jogo que eu já gostava muito, mas nunca havia jogado. O motivo? Ele tem uma trilha sonora maravilhosa, que eu já escuto de tempos em tempos há muitos anos, mas dessa vez eu resolvi conhecer o jogo em sua totalidade e ver se ele fazia jus às suas composições.

Mecanicamente ele é um RPG de ação meio tático bem simples, com visão isométrica, linear e curto, não por menos muito rápido eu entendi e dominei as suas mecânicas, apesar dele ter me apresentado vários bons desafios. Mas justamente por ser um jogo mais limitado é que ele também acaba sendo muito bem polido e amarrado, você vê claramente que as coisas acontecem como os desenvolvedores planejaram e elas funcionam bem. Ele não quer ser revolucionário ou excessivamente grandioso, e essa honestidade em jogos é algo que eu pessoalmente valorizo bastante.

Agora, quando se entra no mérito de criatividade e direção artística, aí é onde o jogo brilha. A narrativa é simples, mas cheia de simbolismos interessantes sobre a vida em grandes cidades, processos de gentrificação e corrupção, e em como pessoas poderosas tentam controlar tudo simplesmente por não conseguirem conceber algo diferente do que imaginam ser o ideal. E até a questão da música é muito bem integrada a narrativa da protagonista, com momentos muito bonitos em todos os sentidos. É o tipo de jogo em que quando você pega as partes individualmente você não vai encontrar nada de muito incrível, mas quando tudo está junto funciona de uma maneira maravilhosa, fazendo o "como" ser mais importante do que "o que".

Marvel’s Spider-Man: GOTY Edition (PlayStation 4)

Homem-Aranha, gruado em uma parede de um pequeno prédio residencial, soltando uma teia para frente

O Homem-Aranha é aquele super-herói com o qual a maioria de nós se identifica em parte, não por conta da inteligência ou poderes, mas por ser um fodido que mal dá conta de pagar os boletos, é empatia instantânea. E o que dizer de um jogo dele, no qual além desse simpático e bem humorado personagem, nós também temos toda uma Manhattan para explorar com uma mecânica de combate altamente inspirada na excelente série Batman Arkham? É a receita do sucesso... ou quase.

Uma parte importante da mecânica desse jogo está na travessia. Pular por entre prédios, lançando teias e balançando de um lado para o outro é de longe o maior acerto que esse jogo faz, é absurdamente prazerosa a movimentação do personagem e quanto mais você vai pegando o jeito, mais ela melhora. Embora no começo eu achasse tentador ficar me jogando o mais alto possível só para ter uma visão panorâmica da cidade, logo eu aprendi que ficar próximo ao chão traz velocidade e foi nessa pegada que eu passei a maior parte do tempo. Curiosamente, mesmo dessa forma e com um jogo por diversas vezes funcionando como uma carta de amor a Nova Iorque, é curioso como o "cabeça de teia" acaba sendo uma coisa aparte da cidade, ele está ali, mas sempre em um plano diferente de todo mundo.

Infelizmente no combate as coisas não fluem tão bem. Ok, no começo tudo parece bom e rapidamente você aprende que se manter no ar é a resposta para praticamente todos os combates. Porém diferente de sua inspiração, Batman Arkham, aqui as mecânicas são mais simples, o que não seria um problema se o jogo não começasse a exigir tanto do jogador conforme a história avança. Chega um momento em que os inimigos começam a dar mais trabalho, só que não de uma maneira necessariamente difícil, mas sim chata e burocrática. E aqui está o meu maior problema com o jogo, ele se alonga demais em uma lógica de "maior e mais difícil" que muito pouco o beneficia. Mas para ser justo, a batalha final é bem legal.

No quesito história não há muito a se comentar, é o padrão de um arco de super-herói sem grande impacto, mas divertido o suficiente. O jogo tem os seus momentos, com um Peter Paker já não mais tão novo, relembrando do seu passado para pontuar o presente e inclusive lidando com a sua (não) relação com Mary Jane, que aliás traz momentos bem legais ao longo da história. Porém acaba sendo outro pecado do jogo, já que isso é diluído ao longo da história principal e em inúmeras missões secundárias que logo se tornam repetitivas. Definitivamente é um jogo que precisava ser menor e não maior.

Death Stranding (PC - Windows - Epic Games)

O protagonista de Death Stranding, com sua roupa especial, segurando um BB no colo

Antes da Letícia se perder de vez em Tears of the Kingdom, ela ficou me assistindo jogar Death Stranding, basicamente por conta do Norman Reedus e do Mads Mikkelsen, porque é assim que ela faz para ver histórias de jogos que ela tem interesse, mas não tem saco para jogar, rzs. Mas brincadeiras a parte, eu também estava curioso para ver a nova empreitada do Kojima após a sua saída da Konami. E bom, é um jogo do Kojima né, para o bem e para o mal.

Na verdade eu acabei dando uma largada nele, tanto por deixar para só jogar nos finais de semana com a namorada assistindo, mas também porque eventualmente eu entrei em uma série de correrias de final de ano em que ele acabou ficando para trás, mas eventualmente eu pretendo voltar. No entanto é inegável que por mais que por vezes ele seja um pouco monótono, e o Kojima seriamente precise de alguém para dizer que por mais criativo que ele seja, ele não é tão inteligente quanto pensa que é, ele sabe como pegar uma ideia simples, como andar de um ponto A ao B, e transformar isso em um jogo com mecânicas rebuscadas e interessantes. Porque esse jogo é literalmente sobre isso, andar de um lugar ao outro e todos os desafios que envolvem o trajeto, que até onde eu joguei pelo menos, são estupidamente simples, mas ao mesmo tempo desafiadores.

No mais é como eu disse antes, é um jogo do Kojima com a marca dele, e por mais que seja uma outra temática, não é tão diferente do que por anos nós nos acostumamos a ver na série Metal Gear Solid, onde o absurdo é rotina, a ciência é tratada como magia e o sobrenatural é algo literal. Vamos ver se ano que vem eu volto aqui para contar como foi a minha experiência completa.

Marvel’s Spider-Man: Miles Morales (PlayStation 4)

O personagem Miles Morales, vestindo o uniforme de Homem-Aranha, porém sem máscara, em cenário urbano noturno e nevando

Miles Morales é quase uma DLC de Marvel’s Spider-Man, herdando assim muitas de suas qualidade e defeitos. Mas tem algo que torna esse título superior ao original: o escopo reduzido. Todos os problemas que eu tenho com o ritmo e mudanças com os níveis dos inimigos no primeiro jogo aqui quase que não existem, já que quando começam a aparecer, o jogo termina.

Isso não significa que ele seja meramente o mesmo jogo, só que menor, a começar pelo seu protagonista, Miles Morales. Apesar de mais novo, o moleque preto e latino do subúrbio de Nova Iorque acaba sendo um personagem ainda mais carismático e com uma construção bem melhor ao meu ver que a de Peter. Além disso, ele não só tem os poderes do miranha original, como também dá socos de choque e fica invisível por algum tempo, deixando o combate mais legal e trazendo um elemento estratégico às missões de furtividade.

A história também não é lá grandes coisas, mas explora bem as questões decorrentes dos acontecimentos do primeiro jogo e sobre como é a vida de Miles se adaptando a sua nova vida de vigilante. As missões meio bucha continuam lá, mas também tem os seus momentos. Felizmente foi um bom fechamento para esse primeiro capítulo da nova fase de Homem-Aranha nos videogames.

Suika Game (Switch)

Imagem do jogo de quebra-cabeça, Suika Game, com algumas frutas dentro de um grande jarro

Aparentemente esse jogo fez sucesso entre streamers ou algo do tipo, mas o meu contato com ele se deu através da semana em que ele ficou gratuito para testes para quem tem a assinatura do Nintendo Switch Online, onde eu simplesmente fiquei fissurado por esse jogo de quebra-cabeça muito divertido.

Todo o lance dele é sobre colocar o máximo de frutas possíveis em um jarro, onde frutas iguais quando se tocam formam outras frutas maiores de maneira recursiva. Não é uma mecânica inovadora, mas é bem feita o suficiente para prender a gente por horas na tentativa de quebrar o recorde de pontos da partida anterior. Sinceramente eu só não comprei ele depois porque a fila de jogos está grande, mas com certeza é um ótimo jogo para manter ali instalado para umas partidas rápidas em momentos oportunos.

Trilogia No More Heroes

Vou quebrar um pouco a ordem aqui, mas é por um bom motivo. Na última semana do ano eu estava de folga, mas como tinha uma viagem próxima, não queria engajar em um jogo muito grande, resolvi pegar algo que eu pudesse zerar rápido, em alguns poucos dias. O eleito acabou sendo No More Heroes 3, que eu já havia comprado para o Switch há algum tempo. Acontece que ao terminar o jogo o Suda alugou um triplex na minha cabeça e eu resolvi jogar os dois primeiros jogos... isso tudo em menos de uma semana. Então para ficar mais fácil de organizar as ideias eu vou colocar os três aqui na sequência, mas eu joguei mesmo na ordem 3, 1 e 2.

No More Heroes (Wii)

Cena do jogo No More Heroes, com o personagem Travis em sua moto futurista andando pelas ruas de Santa Destroy

Um dos jogos que me fez desejar um Wii anos atrás, No More Heroes é um hack ’n’ slash maluco com um misto de controles tradicionais e sensores de movimento, regado por zilhões de referências a cultura pop e... pornografia. Ok, nada muito pesado, mas o que no passado me fazia achar graça, hoje só me gera um sentimento de "tá bom, né", apesar que eu confesso que ainda acho engraçado a mecânica de "punhetar" o controle para recarregar o sabre de luz do protagonista... sim, Travis Touchdown é um assassino, otaku, pervertido, fã de luta livre e que usa uma espécie de sabre de luz para lutar. Na letra fria definitivamente não é um personagem adorável, mas apesar de algumas críticas aqui e acolá, o jogo não se esforça muito nesse sentido e no fim ele é colocado como um personagem tão pateta, que eu não consigo odiá-lo. Malditos, era isso que eles queriam, não é?!

No More Heroes tem toda essa estética própria bem característica dos jogos do Suda, diretor do jogo, com mecânicas com sensor de movimentos no controle, o que vale lembrar no Wii era um grande chamariz e novidade para a época, mas no fim ele se apoia em bases bem tradicionais de jogos do gênero, unindo elas de uma maneira que eu não acho ruim, mas definiria como desengonçada. Você tem um mundo aberto estranho, com um mapa vazio lotado de tarefas repetitivas, ainda que algumas vezes criativas, que aliás vão pautar como você avança na história, tornando tudo bem burocrático, mas alternadas por fases simples, repletas de inimigos e bem divertidas, coroadas com chefes bizarros estilosos e difíceis, muito difíceis.

Adentrando mais na batalhas, apesar dos controles de movimento serem o terror de muita gente, eles ficam restritos a finalizações e alguns movimentos especiais, no geral é só um apertar de botões tradicional mesmo. Não é o sistema de combate mais refinado do mundo, como eu disse antes, é um jogo meio desengonçado muitas vezes, a câmera se perde em alguns momentos, mas ele funciona muito bem. Os inimigos das fases no geral não trazem um desafio muito grande, mas eu sinto que eles estão lá literalmente para você se divertir, se sentindo um jedi da carnificina, como se a Noiva de Kill Bill tivesse um sabre de luz na batalha contra os 88 Loucos. Mas nos chefes é que a coisa pega e talvez eu ter cometido o erro de jogar no difícil achando que o normal em um save de "New Game+" deixariam as coisas sem graça me fizeram ter uma visão mais apurada sobre eles. Para ser sincero eles são sim difíceis, mas no geral nada de muito absurdo, mas existem alguns que vão exigir muita paciência e observação. A hoje infame Bad Girl, por exemplo, me tomou muitas horas dessa vez, mas a partir do momento em que eu peguei para observar ela mais atentamente e decorei os seus padrões, as coisas se tornaram mais fáceis, sendo o problema a longuíssima duração da batalha, graças a dificuldade escolhida. E foram nesses momentos que eu vi que apesar de simples, as mecânicas de batalha desse jogo funcionam muito bem.

No final No More Heroes é um jogo curioso, com lá suas falhas e alguns aspectos que não envelheceram muito bem, mas que ainda diverte bastante, com seu estilo escrachado e único.

Leia a nossa análise de No More Heroes

No More Heroes 2: Desesperate Struggle (Wii)

Cena do jogo No More Heroes 2, com o personagem Travis empunhando suas katanas duplas, enfrentando vários inimigos em um ambiente fechado

No More Heroes 2 é a clássica continuação, que pega tudo o que o primeiro jogo fez, dá uma refinada e no final satisfaz toda a base de seu antecessor. Na minha cabeça, por muito tempo, ele era um jogo superior ao primeiro, mas jogando com um outro olhar dessa vez eu percebi que as coisas não são bem assim.

De um ponto de vista técnico, ele foi um jogo bem ousado para o Wii, talvez ousado até demais, já que os gráficos estilizado bem melhores que seu antecessor trouxeram um sério problema na taxa de quadros em muitos trechos. Mas ele começa forte, com uma história que muda do "cara que quer comer uma mina" para outra sobre vingança, ou quase, com uma trilha sonora fodida e um novo sistema de combate... pior. Na base é a mesma coisa de antes, você dá espadas nos inimigos até eles morrerem, dá uns golpes de luta livre para finalizar, mas agora Travis parece leve demais, o tempo todo eu tinha a sensação de que os inimigos estavam me escapando, porque eu estava me afastando deles, tanto que é muito comum o último golpe de um combo não pegar, o que definitivamente não acontecia no primeiro. Fui traído pela minha memória saudosista e acabei decepcionado.

Por outro lado o jogo ficou mais direto ao ponto, já que toda a parte de mundo aberto foi arrancada fora. Sim, essa foi a solução que deram para o vazio repetitivo do jogo anterior, gênios! Mas certas burocracias ainda permanecem, elas só agora ficam em um menu em formato de mapa, o que só reforça ainda mais a esquisitice da solução. Os chefes continuam difíceis, embora eu sinta que dessa vez as coisas fluam mais tranquilamente, com exceção do chefe final, que é apelativo em um nível bem ruim, o que aliado com as mecânicas estranhas desse jogo, façam com que zerá-lo seja uma tarefa bem frustrante. Uma grata novidade porém foi a adição de novos personagens jogáveis, ainda que restritos a alguns trechos, mas que trazem uma variedade não só as batalhas, como também na exploração das fases, por possuírem movimentos e mecânicas próprias.

É sempre estranho se decepcionar com algo que gostamos muito no passado, mas definitivamente No More Heroes 2 foi um jogo que caiu muito no meu conceito, ele se apresenta melhor que seu antecessor, inclusive tira um pouco o lance do "Travis pervertido da seção pornô da locadora" do jogo anterior, não chega a ser ruim, mas dá a impressão de ter sido um passo maior que a perna dado pelo estúdio, que não teve tempo o suficiente para maturar o que eles queriam fazer.

No More Heroes 3 (Switch)

O personagem Travis, em sua nova moto futurista, deslizando lateralmente no meio da rua (estilo Akira), em Santa Destroy

Eis aqui o causador da discórdia, aquele que veio para equilibrar a força, mas assim como Anakin Skywalker, se bandeou para o lado sombrio. Se vocês acharam que eu tive sentimentos conflitantes em relação a No More Heroes 2, vou dizer que No More Heroes 3 é a contradição em formato de jogo, mas vamos pelo começo primeiro.

No More Heroes 3 é uma continuação temporalmente distante de seu antecessor, que leva em consideração os eventos de Travis Stikes Again, spin-off da série lançando lá no começo do Switch, que inclusive eu ainda não joguei. Travis é um personagem que continua bobo em muitos aspectos, mas que se mostra muito mais maduro, com o jogo largando muito dos seus aspectos machistas para trás. Não está perfeito, mas vamos comemorar os avanços que temos. Todo o clima de "ranking de assassinos" também foi abandonado, passando agora para "alienígenas invadem a Terra... e aí a gente faz um ranking de assassinos intergaláticos", mas acredite, a vibe está bem diferente, fazendo referências a filmes de super-heróis da Marvel e tokusatsos antigos, como Ultraman, o que inclusive me fez estranhar muito o visual dos chefes em um primeiro momento, contando até mesmo com uma animação introdutória do jogo e um encerramento de capítulos, ambos muito bem feitos, com o jogo agora se apresentando como se fosse um seriado televisivo.

Mas quando a gente vai para "o jogar" é que a coisa fica estranha. Em um retorno as origens, temos de volta o mundo aberto, agora maior e... mais vazio! Sim, o primeiro No More Heroes não oferecia muito o que fazer no mapa, mas não era como se o Wii permitisse muitas extravagâncias também, mas agora no Switch resolveram deixar Santa Destroy, a cidade onde se passam os jogos, com um mapa ainda maior, mas sem praticamente nada para fazer, até existe um comentário sobre isso em uma missão secundária, mas nada que chegue perto de uma justificativa. E olha que tentaram inserir algumas novidades e alguma exploração, mas nada que funcione muito bem. O pior, é que apesar do jogo não trazer nenhum gráfico super revolucionário para o Switch, toda a parte de mundo aberto também roda mal e com vários problemas, simplesmente nada faz sentido. Na verdade tem pior sim, porque não contentes em refazer Santa Destroy desse jeito monótono, ainda criaram outras cidades, incluindo uma que se chama Neo Brazil, que de Brasil só tem o nome, tão vazias quanto a original.

Quando o assunto são as batalhas e fases, a coisa fica ainda mais estranha. Mecanicamente esse é de longe o No More Heroes com o melhor sistema de combate de todos, com a mesma base de seus antecessores, mas com uma fluidez muito maior, os personagens tem peso, a dificuldade é mais equilibrada e Travis até mesmo ganhou novas habilidades que dão uma camada mais estratégica as batalhas, incluindo um mecha que voa, vai para o espaço e tudo mais. Meu único porém é que as vantagens bônus vem com uma frequência muito alta, deixando as lutas desnecessariamente mais fáceis do que elas precisavam ser, quase como se os desenvolvedores não acreditassem muito no seu próprio trabalho. Mas o estranho mesmo é a nova estrutura de jogo, onde não há mais fases antes dos chefes, você simplesmente vai lá e luta. Ok, antes de poder enfrentar o próximo grande adversário você tem que passar por algumas lutas preliminares, mas isso é feito em pontos específicos do mapa que você precisa procurar, para então ser teletransportado para uma arena a parte e assim passar por trechos de luta curtos em formato de ondas de inimigos. Porque esses inimigos não estão espalhados diretamente pelo mundo aberto? Eu também gostaria de saber.

Felizmente as batalhas contra os chefes continuam legais no geral, com alguns momentos verdadeiramente criativos e divertidos, para não dizer nostálgicos. Não acho que os novos adversários sejam tão carismáticos quanto os dos jogos anteriores, mas as bizarrices e referências a cultura pop em geral ainda estão lá, mas não quero entrar em detalhes para não estragar a surpresa de quem por ventura for querer jogar ainda.

No final No More Heroes 3 é uma junção de várias coisas legais e interessantes, mas ligadas da pior maneira possível. Você olha para essas partes em separado e se convence de que é um bom jogo, que traz de volta aquela série antiga que nós gostamos nos anos 2000, mas ao se distanciar é tudo só esquisito e disfuncional. Eu realmente fiquei pensando muito nesse jogo quando terminei, daí o motivo de voltar para os dois primeiros e ter uma melhor base comparativa, e eu sinceramente não consegui chegar a nenhuma ideia ou conclusão de porque as coisas foram feitas do jeito que foram. Mas sei lá, o jogo termina com uma brecha imensa para uma continuação, então vai saber o que o futuro reservar para Travis Touchdown e seus amigos.

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E esses aí foram os títulos que formaram o meu 2023 nos videogames. É uma lista que teve os seus pontos médios, mas com várias coisas que eu considero excelentes e espero que esse formato um pouco mais descritivo tenha passado para vocês melhor as minhas opiniões sobre os jogos.

Esse ano como não teve campanha oficial do meme, não vai ter listinha dos outros blogs no final, mas dependendo de como for, eu atualizo aqui o texto depois com o link de quem por ventura participou, confesso que não tenho frequentando muito os sites alheios, malz aê.

Como sempre eu desejo um excelente 2024 para todes, que a gente sobreviva a este forno em forma de rocha redonda gigante em que se transformou o planeta ("obrigado por isso, capitalismo!") e que consigamos jogar tudo aquilo que desejamos, porque a gente também merece. Até a próxima, beijos! =***

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Banner: Participantes - O que você jogou em 2023?

Esta publicação faz parte do meme gamer "O que você jogou em 2023?", que foi organizado mais uma vez pelo nosso grande parceiro Marvox, segue a lista com os demais participantes desta edição:



* Revisado em 19/03/2024 às 22:38:32

outras tags: Death Stranding, Fallout 4, God of War (2018), Marvel’s Spider-Man, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, Mass Effect, Mass Effect 2, Mass Effect 3, Mass Effect: Legendary Edition, Metal Gear Solid V: Ground Zeroes, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, No More Heroes, No More Heroes 2: Desperate Struggle, No More Heroes 3, Street Fighter 6, Suika Game, The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, Transistor, Vampire Survivors, Xenoblade Chronicles 3 e Cuphead: The Delicious Last Course (DLC)

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  • avatar de Letícia
    Letícia
    16/03/2024 às 15:57:28   localizacao Belo Horizonte
    Este ano quero ver vc jogarBaldur’s Gate III e Elden Ring, prometo não deixar Zelda me abduzir novamente rzs.
    Ah e ainda quero saber de qualé que é do bebezinho do Norman Reedus.
    É mais divertido ver vc jogar, eu perco a paciência fácil .

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/03/2024 às 22:41:43   localizacao Vespasiano - MG
      Baldur’s Gate III só depois que eu jogar os dois Divinitys e Elden Ring só depois que eu passar pela série Souls, acho que vai rolar esse ano não, rzs

      Mas o Death Strading a gente tem que voltar para ele mesmo, uma hora vai, hwa hwa hwa

    Responda!
  • avatar de Thiago "T-ROK" Pulcineli
    Thiago "T-ROK" Pulcineli
    16/03/2024 às 18:35:05   localizacao Ouro Fino - MG
    Só jogão hein! 2023 eu não joguei quase nada então pretendo mudar isso em 2024. No More Heroes me chama muito atenção mas esses 2 Spiders aí, acho que quando eu começar vai ser daqueles jogos que não vou querer parar até chegar o fim logo kkkk grande abraço meu amigo, saudades daqui!!! xD

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/03/2024 às 22:42:58   localizacao Vespasiano - MG
      Ow, pior que eu acho que os Homem-Aranha são a sua cara mesmo, hwa hwa hwa. Valeu cara, abraço!

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