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Não busque uma Player 2

Os problemas da incansável busca por um dos maiores fetiches nerd: a namorada que joga videogame.

autor Rafael "Tchulanguero" Paes   datahora 12/06/2016 às 07:11:10   tagarelices 18

Os problemas da incansável busca por um dos maiores fetiches nerd: a namorada que joga videogame.


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A figura do homem jogador de videogame possuí um esteriótipo bem marcado na cultura popular: do cara recluso, tímido, que não sai muito de casa e nunca tem uma namorada. Ainda que esta seja uma projeção bem preconceituosa, não significa que certas características não sejam reais, individualmente ou em conjunto. E nessa época do ano, em decorrência da proximidade com o dia dos namorados, é muito comum o coro de homens solitários, em geral mais jovens, dizendo algo como "quem me dera conseguir uma namorada que jogue videogame". Qualquer um que já lide com esse meio a algum tempo já escutou/leu isso, ou alguma variação, inúmeras vezes. É a famosa busca pela Player 2, que é o equivalente "nerd gamer" para expressões como "tampa da panela" ou "alma gêmea".

Seja meu Player 2

Pessoalmente, por mais inocente que seja, eu acho essa busca bem problemática. Falando de relacionamentos, eu sempre achei um erro as pessoas buscarem por coisas muito específicas no outro. Claro que é ótimo conhecer alguém com os mesmos gostos que o seu, isso facilita muito no princípio com as conversas e atividades juntos, mas a longo prazo não é o que vai fazer diferença. Sim, é preciso que se tenham afinidades, existem características básicas que cada um prioriza ao conhecer outra pessoa, mas eu não vejo o gosto por jogos como um fator decisivo para um relacionamento em qualquer cenário, por isso considero um erro quando pessoas focam apenas nessa característica.

Claro que existem casais que jogam juntos, eu mesmo conheço mais de um e não há nada de errado com isso, até porque o "jogar videogame" é só uma das muitas atividades de ambos, mas não é o que os mantém unidos. No meu caso, a pretendente não torcendo a cara quando eu digo que jogo, faço coleção e tenho um site sobre, já é mais do que suficiente, é puramente uma questão de respeito pelas minhas atividades, que por um acaso são jogos.

Mas eu sei que a maioria de vocês ainda vai estar suspirando na frente do computador ou celular, mesmo após lerem essa breve opinião, então vamos a alguns fatos, para que ao menos vocês entendam um pouco melhor o "problema" dessa busca de vocês.

Jogar videogame não torna ninguém especial

Daigo Umehara
Ok, o Daigo é especial, mas você não é o Daigo.

Esse é um fato que muitos fazem questão de ignorar, mas a dura e cruel realidade é que jogar videogame, não importa o quão bom você seja, não te faz melhor que ninguém como pessoa. NINGUÉM! Na melhor das hipóteses, dependendo do tipo de jogo no qual você é bom, você terá uma vaga em alguma equipe de e-sport e conseguirá uma boa grana, o que hey, é bom para cacete, mas ainda não lhe torna um ser humano superior. Isso muitas vezes acaba sendo tão irrelevante, que nem mesmo para escrever bem sobre jogos é necessário ser bom neles, uma vez que senso crítico não tem relação direta com habilidade, motivo pelo qual contestações como "então vai lá e faz melhor" ou "você está falando mal porque não sabe jogar" são tão sem sentido.

E o motivo de eu estar falando isso, é justamente para que tiremos esse status de jogador do pedestal. Jogar videogame é uma atividade completamente comum, tanto para homens quanto para mulheres, portanto idealizar alguém com ela como se fosse algo extraordinário não faz nenhum sentido. Aliás, aqui no Brasil, existem muito mais mulheres jogando do que homens, ou seja, nem é algo raro para que se faça todo esse drama em cima.

Os gêneros e plataformas nas quais você joga também não lhe tornam especial

Candy Crush
Candy Crush Saga pode não ser o melhor jogo do mundo, mas ainda sim é um jogo como vários outros, com sua base instalada e tudo mais.

Eu sei que vocês clicaram no link do parágrafo acima, que diz que 52,6% do público de jogadores aqui no Brasil é composto de mulheres, e após lerem a matéria já estão com os seus argumentos prontos para me contestar. Eu já até sei o que irão dizer, que jogos de celular não são jogos de verdade, que vocês querem uma mulher que jogue Call Of Duty, Dark Souls, BlazBlue ou algo do tipo.

Essa é uma coisa contra a qual eu luto desde o seu surgimento, ou melhor, desde que ganhou uma forma mais definida com a divisão entre jogadores "hardcores" e "casuais". Não dá para você classificar jogos e pessoas dessa forma, todos nós sabemos que é perfeitamente possível jogar casualmente até mesmo Dark Souls, e existem pessoas que se dedicam ferrenhamente a Candy Crush tal qual você se dedica a coletar todas as penas em Assassin’s Creed 2. Acreditem, eu já testemunhei uma discussão sobre o puzzle de doces onde o pessoal debatia com o mesmo fervor com que nós discutimos sobre Street Fighter. Se achar "mais jogador" que os outros só por conta dos títulos e plataformas na qual você joga é simplesmente estúpido, ninguém é mais ou menos jogador do que o outro.

É bizarro também pensar que muita gente aí veio de uma tradição de mini-games e brick games, onde basicamente jogávamos inúmeras variações de Tetris, um dos melhores jogos já feitos e ainda sim, de acordo com os parâmetros atuais, casual, e não respeitar uma mina que gosta de jogar uma variante de Puzzle Booble no celular, o que é, mais uma vez, completamente sem sentido. Quer dizer, sério mesmo que além de você estar a procura de alguém por conta de um gosto específico, ainda está querendo definir o perfil dessa pessoa dentro desse gosto também? Se você curte RPG e jogos de luta, e ela MOBA, então nada feito? Caso você não entenda o motivo disso ser errado a nível humano, pense ao menos que só está diminuindo as suas chances... e depois se esforce para entender o lado humano e esqueça os números.

Mulheres que jogam existem aos montes, só que nós as afastamos da "comunidade" antes de as conhecermos

Angela Caldas
Conhecem a Angela? Arquiteta urbanista, escreve sobre jogos e tudo mais em um site super maneiro aí na internet.

A esta altura acho que já deixei bem claro que essa coisa de que não existirem mulheres que jogam videogame é balela, certo? Mas então porque sempre há essa impressão de que a comunidade de jogadores é composta quase que exclusivamente por homens? A resposta é: por que nós homens as afugentamos.

Quem nunca ouviu um relato ou até mesmo presenciou: basta uma mulher se apresentar como tal em um ambiente virtual, e imediatamente ela é assediada de todas as formas possíveis, seja recebendo pedidos de namoro ou solicitações de nudes. Já pensaram que elas, sei lá, de repente só querem... jogar?!

Some a isso o fato de que apesar de toda a reivindicação de que jogos devam ser considerados arte, ainda não atingimos a maturidade suficiente enquanto comunidade para discutir questões sociais dentro dos jogos e da indústria, como o sexismo existente nesse meio e também das questões de representatividade, que sempre recebem diversas críticas negativas quando são postas a mesa para debate. Basta lembrar do emblemático caso do Gamergate, onde a desenvolvedora Zoe Quinn e a jornalista Anita Sarkeesian chegaram a receber ameaças de morte devido a uma série de acusações infundadas por parte do grupo. Não preciso nem dizer que não importa o quanto você discorde da opinião de alguém, ameaçá-lo de morte não é uma coisa muito legal, certo? Aqui mesmo no Vão Jogar! já aconteceu de eu ter que moderar comentários em escritos da Angela, que felizmente não eram ameaças tão graves, mas onde basicamente ela foi atacada por ser uma mulher que criticou o jogo preferido de um homem.

Alguns vão argumentar que jogos deveriam ser só sobre diversão e que isso não deveria ser pauta, mas lamento dizer que estar envolvido em questões sociais é algo que faz parte da arte desde sempre. Não se pode utilizar isso apenas como um status para demonstrar que o seu hobby não é coisa de criança, é preciso também assumir as responsabilidades inerentes a ele.

Então se vocês acham que existem poucas mulheres nas comunidades de jogadores, que tal colaborarem para que o ambiente seja menos hostil para elas? No final das contas, todos saem ganhando. Encare-as primeiro como jogadoras, afinal, é para jogar que todos nós estamos nesse meio, não é mesmo?

Ah, e antes que eu me esqueça, não utilizem isso uma tática para conseguir uma namorada. Não se trata disso, se trata de aprender a respeitar as pessoas, e isso é mais importante para um relacionamento do que jogar videogame.

Você procura por uma namorada ou um achievement?

Gamer Girl Achievement

Passando por esses pontos, o maior problema que vejo no assunto, é que a maioria dos caras que dizem que querem uma namorada que jogue videogame com ele não querem uma namorada de verdade, querem um troféu, alguém para mostrarem para os amigos o quão "foda" ele é, uma mulher para poder passar o final de semana inteiro jogando videogame sem preocupação e depois levar para a cama. Ah sim, a maioria pode não falar muito sobre isso, mas a verdade é que isso muitas vezes não passa de um grande fetiche sexual, transar com a mulher que joga videogame.

Se você quer alguém para jogar ou conversar sobre jogos com você, não precisa de buscar uma namorada para isso, chame os seus amigos, seja pessoalmente ou virtualmente. Relacionamentos não são, ou ao menos não deveriam ser, só sobre jogar videogame o tempo todo e depois dar uns amassos, ao menos não o tempo todo. Existem muito mais coisas para se aproveitar, e no final das contas você vai perceber que jogos realmente nem são tão importantes nessas horas. Aliás, já parou para pensar também que às vezes você pode acabar sendo o Player 2 de alguém? E se você pensou que ser o Player 2 é ruim porque é... o Player 2, então pense direito, porque existe um outro problema aí na sua lógica, que remete justamente ao lance do troféu.

Repensar e mudar essas coisas não é fácil mesmo, é um processo que leva tempo, é só olhar a minha própria trajetória com o Vão Jogar! e no quanto demorou para o teor dos textos chegar até onde está hoje, mas é preciso nos esforçarmos para que no final seja legal para todo mundo.

Nesse dia dos namorados, não se preocupem tanto com jogos ou em conquistar alguém que gosta de jogos, pessoas são muito mais que os seus hobbies e não devem ser medidas por eles, deixem que isso seja apenas uma mera característica dada pelo acaso. Então o que estão fazendo aqui ainda? Vão Namorar!!

* Revisado em 12/06/2019 às 12:00:00

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  • avatar de Angelo ( do Filopoisquilo)
    Angelo ( do Filopoisquilo)
    12/06/2016 às 10:13:14   localizacao Fortaleza/CE
    Post Perfeito pra essa galerinha que não deixa de ser babaca. A parte da pesquisa me fez descurtir alguns canais que eu gostava no youtube, porquê o cara saia dizendo que só os ~hardcore~ contam.

    Amei a postagem de cima a baixo.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      12/06/2016 às 14:45:37   localizacao Vespasiano - MG
      É triste que em pleno 2016 ainda tem gente com esse tipo de pensamento, não é?

      Obrigado :)

    Responda!
  • avatar de Gamer Cristão
    Gamer Cristão
    12/06/2016 às 12:14:15   localizacao São Paulo
    Ela pode não jogar, mas é mais que uma Player 2: ela é meu Healer, pois sempre que estou doente ela cuida de mim; ela é meu Support, pois sempre que eu preciso de apoio ela está lá, torcendo por mim; e, acima de tudo, ela é a minha rainha! (princesa não, pois está sempre em outro castelo e eu a quero aqui do meu ladinho!)

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      12/06/2016 às 14:46:49   localizacao Vespasiano - MG
      Companheirismo é tudo, não é?! :)

    Responda!
  • avatar de Ulisses 8Bit
    Ulisses 8Bit
    12/06/2016 às 17:06:53   localizacao Curitiba - PR
    O estereótipo sempre possui algum resquício de verdade, sempre. Claro, às vezes acaba deturpando toda a imagem de um grupo inteiro, mas mesmo assim, estereótipos, como você mesmo disse, possuem certas características reais.

    Por isso que o estereótipo de jogador de videogame ainda é forte, muitos NERDS, os de verdade que eram bons em MSX e Física não os pseudos Nerds compradores de Iphone e gadgets hoje em dia, eram desta forma mais reclusa e tímida.

    Enfim, se hoje os jogadores são mais heterogêneos e mais comunicativos, isso não invalida a origem "nérdica" que é um fenômeno social real.

    Eu tenho a impressão que esta coisa de querer uma Player 2 mulher é apenas uma fase, é um problema específico de adolescente, não vejo homens adultos com esta preocupação de ter uma namorada gamer, em geral, pessoas solitárias estão em busca de qualquer namorada, mas buscando características outras, seja físicas ou pessoais. A impressão que eu tenho (posso estar muito enganado, pois não tenho dados sobre) é que seu argumento neste texto é válido para um grupo muito específico de jogadores. Os adolescentes.

    Concordo 100% com você sobre a gente buscar e projetar no outro uma imagem daquilo que seria o "perfeito" para nós. É claro que vamos nos decepcionar, é claro que não vai dar certo.

    Sobre a questão do tipo de jogador se é casual ou hardcore e essas definições que eu também acho sem sentido, a questão não é exatamente menosprezar quem joga em celular, mas entender que a maioria das mulheres possuem um estilo de jogatina diferente da maioria dos homens. Se todo jogo é tudo igual e não existe um estilo superior ao outro, por outro lado existe afinidades entre estilos e quem sempre jogou em celular e nunca teve um videogame, obviamente possui uma visão e interesses diferentes de um garoto jogador de Playstation, por exemplo.

    Você pode afirmar que bananas e laranjas são frutas e estão no mesmo nível, mas tem que aceitar que elas possuem sabores diferentes. realmente não dá para classificar jogos e pessoas mas com certeza dá para perceber padrões de gostos e preferências entre eles.

    É isso que talvez afaste o público de celular do público de consoles, sabores e interesses distintos dentro de um mesmo conjunto de atividade. O jogar videogame.

    Eu entendo perfeitamente a questão do assédio das mulheres em games, isso é real e concordo com você. Mas eu discordo quais os meios que você sugere para resolver essa questão.

    Jogos devem ser ARTE?
    Jogos devem ter "RESPONSABILIDADE SOCIAL"?
    O "sexismo" é um problema apenas dos jogos?
    Meu Deus do céu, jogos devem ter REPRESENTATIVIDADE?

    Eu não vejo problema nenhum em jogos possuírem TUDO isso, o problema que eu vejo na sua fala está na obrigatoriedade de ter que ser assim.

    Cadê a coerência argumentativa no seu texto Rafael?

    Você precisa escolher uma via.
    Ou videogames são uma atividade comum e jogadores não são melhores do que ninguém só porque jogam videogame ou... Videogame são arte, ferramentas sociais de inclusão e jogadores são cavaleiros da verdade e homens e mulheres escolhidos pelos deuses para fazer o mundo um lugar melhor.

    Percebe como você mantém ao mesmo tempo o videogame como uma simples forma de entretenimento e depois sugere que o mesmo deva ser instrumento de mudanças sociais?

    Afinal, o que é videogame para você afinal? Não dá para ficar em cima do muro ou seu texto fica muito contraditório.

    "é preciso também assumir as responsabilidades inerentes."

    Eu respeito sua opinião Rafael, mas discordo totalmente desta tese de assumir responsabilidades sobre o ato de "apertar um play e sentar no sofá" para curtir um jogo, eu acho que é forçar demais a barra.

    Seu texto está ótimo no sentido de desmistificar essa coisa de querer alguém pelo simples fato de jogar, também gostei da questão que videogame é um todo coeso e não faz sentido falar que um jogo é superior a outro só porque é de console, mas por outro lado existe uma contradição absurda no que você entende por videogame.

    O dia que um artista tiver que pensar...

    "-Será que vou agradar ou desagradar alguém com meu game?"

    "-Será que eu estou fazendo as inclusões sociais necessárias no meu game?"

    "-O que será que as pessoas vão pensar de mim se eu não incluir esta opção?"

    O dia que isto acontecer Rafael. O videogame como nós conhecemos, desaparece.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      12/06/2016 às 19:00:39   localizacao Vespasiano - MG
      Não tem como fazer essa afirmação sem uma pesquisa e tal, mas realmente parece que isso é muito comum entre homens mais jovens, não necessariamente adolescentes. Mas o problema é que mesmo que depois de um tempo, embora a maioria pare de suspirar pelos cantos, muitas coisas que vem disso permanecem, o que também é um problema.

      O ponto é justamente que existem perfis diferentes, mas que não há um melhor do que outros e todos são jogadores do mesmo modo. Mesmo eu e você, que estamos mais envolvidos no meio, provavelmente vamos ter perfis bem distintos.

      Hum, acho que você fez uma pequena confusão entre produto e meio, talvez eu não tenha deixado claro. Jogos não tem que ser só sobre questões sociais ou só sobre diversão, eles podem ser sobre qualquer uma dessas coisas, mas nós enquanto comunidade e indústria temos uma responsabilidade sobre isso sim, pelo simples fato de não existirmos alheios ao mundo, se existem problemas, eles devem ser discutidos. Não há problema nenhum em ter um jogo puramente voltado para diversão mecânica, eu particularmente adoro, mas é preciso entender o espaço e necessidade para outras questões que vão além. Não são coisas excludentes, é possível ter a diversão de só sentar no sofá e dar o play e ao mesmo tempo ser engajado nessas questões.

      E sobre videogames como conhecemos desaparecer, se você olhar para trás, vai ver que as coisas já mudaram completamente. A forma como tratávamos jogos em nossa infância já não existe mais, as coisas mudam e isso não é necessariamente ruim, é só uma questão de se adaptar e seguir em frente.
    • avatar de Ulisses 8Bit
      Ulisses 8Bit
      12/06/2016 às 20:29:30   localizacao Curitiba - PR
      Eu também acho que dá pra fazer duas formas de games. Uma descompromissada e focada no jogo em si, e outra, com uma ambição maior tentando combater um problema ou mostrar algum tipo de injustiça. Mas desde que isso seja voluntário.
      Essa responsabilidade que você fala sobre nós não sermos seres isolados e estarmos sim, imersos em uma comunidade, eu também concordo. Mas isso não pode ser um motivo para alguém imputar um sentimento de culpa em mim fazendo que eu seja forçado a ter um engajamento em todos os aspectos da minha vida, inclusive jogos.
      Eu posso comprar um jogo Tomb Raider só por causa dos peitos da Lara e nem por isso eu mereço ser tachado de conivente com o sexismo, da mesma forma que ir ao cinema ver um filme de guerra não me torna um conivente da violência.
      Se você descarta a variável - obrigatoriedade - e troca por "atitude voluntária" em ser responsável em algum aspecto da nossa convivência social, então deste jeito eu concordo com você.

      Sobre os games mudarem eu penso diferente.
      No natal de 1977 uma criança pegava seu cartucho colocava no console e curtia na frente da TV.
      No natal de 2015 uma criança pegava seu jogo em disco, ou na nuvem, e curtia na frente da TV.
      E nos dois casos, provavelmente um belo sofá servindo de apoio.

      Se a gente for se ater em detalhes técnicos, obviamente muita coisa mudou, jogar on-line com outras pessoas etc, mas se a gente for olhar as motivações básicas e essenciais que levam alguém a jogar um videogame, está tudo absolutamente igual, com a única diferença que o público cresceu e ficou maior.
    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      16/06/2016 às 20:33:56   localizacao Vespasiano - MG
      Cara, desculpa a demora, semana de E3 tá sendo foda, não deu para responder antes.

      Então, essas questões funcionam de maneira muito simples: quando um problema surge e é exposto, a partir do momento em que você não faz absolutamente nada, você está sendo condescendente com a situação. O sentimento de culpa ou não é pessoal, mas existe a sua parcela de responsabilidade. Não estou falando que é você ou eu que temos que resolver a situação, mas saber criticar e principalmente, escutar, é essencial. Sim, ninguém vai te obrigar literalmente a fazer algo, mas não fazer nada quando necessário também é um posicionamento, assim como comprar um jogo só por conta dos peitos da personagem principal.

      Sobre comportamento de mercado, essa hegemonia que você alega simplesmente não existe mais. Muitas crianças estão muito mais vidradas em celulares, as vezes nem com jogos, os perfis estão completamente variados, assim como o mercado.

      As motivações também de longe são as mesmas. A princípio, tudo o que tínhamos eram desafios mecânicos, e por isso para quem é mais velho é tão difícil de desassociar jogos com diversão. Hoje existem pessoas que buscam diferentes tipos de experiências, algumas buscam histórias, outros socialização, e até mesmo vivências de experiências, em jogos como The Freshman Year ou That Dragon Cancer.

    Responda!
  • avatar de sucodelarAngela
    sucodelarAngela
    13/06/2016 às 13:33:30   localizacao São Luís - MA
    Eu também acho muito problemática essa busca pelo "par perfeito", a pessoa que tem todas as qualidades que VOCÊ valoriza. Conhecer alguém com os mesmos gostos é bom, claro, mas acredito que o melhor é que cada um tenha sua individualidade, suas qualidades e gostos. IMO, é muito mais interessante um relacionamento entre "desiguais", onde você possa aprender coisas novas com o outro, vivenciar coisas diferentes do que você já vivencia na sua vida, ver as coisas sob novas perspectivas... E, claro, o respeitar as diferenças entre seus gostos.

    (E ainda bem que eu não sou o Daigo, esse bicho é fei que dói)

    É outra coisa que eu acho muito tosca é essa definição de jogador hardcore/casual. Cada um joga o que gosta, do jeito que gosta. Eu prefiro jogar single player, enquanto muita gente joga no multi, e nem por isso sou melhor que ninguém e vice-versa. Jogo super bem nos PS3 e no PS4, mas me dê um controle de X1 e me veja "catando milho" na frente da TV... Minha mãe nunca jogou nada em consoles ou PCs (não sabia nem como funcionava), apesar de sempre nos assistir jogando e se divertir com isso. No entanto, ninguém (nem eu) conseguia bater o recorde dela num joguinho de um antigo Nokia que ela tinha e que era um precursor do CandyCrush. Todos somos jogadores, bons em algumas coisas, ruins em outras, mesmo que seja Paciência no velho XP.

    Olha eu! ♥

    E como jogadora, posso confirmar que somos realmente afugentadas por outros jogadores, não apenas com os pedidos de nudes e afins (afinal 99% daquelas fotos de mulheres lambendo o joystick não condizem com a realidade), mas também por sermos vistas com inferioridade pelos homens (como se já não bastasse isso no trânsito, no emprego e até em casa). E não somos afugentadas por medo (com exceção dos casos de ameaças), mas simplesmente pela falta de respeito e decência.

    Troféu se conquista nos jogos. Na vida real, se conquista respeito e confiança.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      16/06/2016 às 20:47:06   localizacao Vespasiano - MG
      Pois é, se relacionar com alguém muito diferente é meio assustador a princípio, mas é uma boa forma de aprendizado também, galera se esquece disso.

      Ah, feio que dói eu já sou, mas se eu conseguisse dar parry no especial da Chun-Li, pelo menos eu seria um feio mais descolado. :P

      Até hoje ainda é normal rolar aquela "zoação" de "ih, que feio, vai perder para uma mulher?" por parte de muita gente. E eu consigo entender completamente o motivo de muitas mulheres preferirem ficar longe de multiplayers ou se fingirem de homens, o ambiente por si só já é extremamente hostil, com gente se xingando e fazendo ofensas gratuitas, aí ter mais essa dor de cabeça para que, não é mesmo? Mas ainda sim, deveria ter espaço para quem curte esse tipo de interação poder curtir tranquilamente.

    Responda!
  • avatar de Cris
    Cris
    16/06/2016 às 13:13:01   localizacao Sabará / MG
    Ótimo post! Os casais de modo geral, se aproximam pela atração e continuidade se deve as afinidades claro. A percepção e aceitação das diferenças vão surgindo com o tempo de relacionamento. Mas acho que o primordial numa relação para dar certo, além do sentimento, é o repeito. E junto com o respeito, naturalmente vem a confiança e o companheirismo. A gente basear a relação em uma afinidade, pelo menos ao meu ver, é dar um tiro no pé, pois ninguém é perfeito e ninguém é igual. Pois as pessoas costumam discordar inclusive em algo que possuem afinidade.

    Eu sou da geração mais antiga, no meu caso não sofri assédio, e sim discriminação. Sei que exite assédio, devido a essa busca pela player 2, nas redes sociais essa reclamação é constante. Mas o que posso falar é da discriminação. Alguns acham que nossa obrigação é pilotar apenas o fogão e que não somos capazes de pilotar um carro no Gran Turismo, então se aparecemos numa partida multiplayer, somos alvos de discriminação ou alvo de assédio, pois para muitos estamos ali pra atrapalhar ou para arrumar namorado. Até algumas mulheres tem preconceito também. Já percebi isso em alguns momentos, se surge um papo sobre videogames, e eu sou a única mulher que consigo opinar e render assunto, as demais ficam me "olhando estranho", como se o assunto fosse somente para homens. Enfim, são "n" tipos de situações, se fossemos pontuar todas...Eu particularmente tento não me ofendo com essas atitudes, acho desnecessário sim, pois o objetivo de todo videogame é proporcionar diversão. E até para jogos em que o gênero se resume em disputa, esta deveria ser sadia, com intuito de divertir, mas alguns transformam a disputa numa verdadeira guerra pessoal, com objetivo apenas em ser melhor que os demais jogadores.

    Por feliz coincidência eu e meu marido adoramos videogame, e isso não foi o ponto forte ou motivo para início da relação. O que importou no início e se mantém até hoje é o respeito e o amor que temos um pelo outro. Videogame é um mero detalhe e uma das afinidades que temos, porque muitas são as diferenças, e são estas que fazem com que a gente se complete.

    E o respeito entre nós se estende a tudo, incluindo videogames. Por exemplo, com relação ao gênero, nós temos preferências distintas, mas algumas vezes ele me ajuda em alguns desafios, jogamos coop, fazemos disputas e nos divertimos muito.
    E hoje, com 13 anos de convivência e 3 de casados, advinha quem mais consome e joga entre nós dois? Eu. E nem por isso eu me sinto melhor que ele ou ele se sente inferior a mim.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      16/06/2016 às 21:35:13   localizacao Vespasiano - MG
      Pois é, eu sempre digo que relacionamentos são muito mais sobre o quanto você consegue lidar com as diferenças do que com as afinidades.

      Essa questão da discriminação é problemática mesmo, eu cheguei a pontuar isso na minha resposta para a Angela acima. E engraçado o exemplo que você citou, pois no meu caso, eu piloto um fogão infinitamente melhor do que piloto um carro em Gran Turismo, eu não nasci para esse jogo. :P

      Olha, eu vou ser bem sincero, eu acho que nunca conheci um casal que ficou junto exclusivamente por conta de videogames. Talvez no máximo o assunto serviu de pretexto para uma aproximação, mas só.

      Pois é, não precisa fazer disso uma disputa né, não tem motivos.

      E seja bem vinda ao site, abraço!

    Responda!
  • avatar de Gamer Caduco
    Gamer Caduco
    17/06/2016 às 01:42:27   localizacao SP
    A Internet precisa de mais textos como este. Não, sério, eu não vejo coisas cabeça assim em sites grandes que deveriam conscientizar a galera que joga videogames, eles parecem não ter coragem de fazer isso.
    Principalmente pelas partes que vou chamar de "satélites" do tema principal. Tipo não considerar certos tipos de jogos como "videogame de verdade", o lance do "bonzão dos videogames" não fazer ser melhor que ninguém como pessoa, que não precisa ser bom em videogames pra discutir sobre eles, gêneros e plataformas não tornar ninguém especial, babaquice de "hardcore" versus "casual", tudo o que as mulheres que jogam "jogos de verdade" sofrem ao se revelarem mulheres em um servidor online, entre outras questões sociais que eu também vou colocando aos poucos lá no Gamer Caduco. Fora os que vc falou que eu nunca escrevi, mas deveria ter feito, tipo sexismo dentro da comunidade (durante foruns, sites e outros tipos de discussões).
    Também pela parte de procurar coisas específicas na suposta "alma gêmea". Isso não existe. É que nem criticar um jogo porque ele não foi feito da forma que vc queria que ele fosse (e todo mundo faz isso, temos que admitir). Infelizmente me parece que é totalmente natural do ser humano cair nestas armadilhas. Uma pena, poderíamos evoluir no quesito. Melhor analogia ever seu questionamento: "Você procura por uma namorada ou um achievement?".
    Bom, eu já namorei com mulher que joga videogame, sei que tem inúmeras vantagens, mas o mundo não é só sobre videogames, né? No fim das contas casei com alguém que detesta meu principal hobby e que me fez acordar pra várias coisas que só acrescentaram na minha vidinha medíocre.
    Inclusive, se eu pudesse eu recomendaria justamente isso: procure namorar alguém que te tire da sua zona de conforto! Vc vai ter experiências ótimas e provavelmente vai viver melhor!
    É isso!
    Poste mais textos iguais a este, por favor! O mundo e a comunidade agradecem! Eu pelo menos agradeço por este!
    Abraço

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      17/06/2016 às 17:50:33   localizacao Vespasiano - MG
      Eita, rzs. Mas se como "grandes" você se refere aos famosos, por aqui realmente não tem, diferente de lá fora que é bem comum. Bom, mas tentamos fazer a nossa parte, não é?! :)

      Pois é, a galera aqui cresceu jogando videogame, continua jogando videogame, mas parece que esqueceu de amadurecer. Certas coisas quando partem de um adolescente eu até entendo, ainda não estando certo, mas é foda quando parte de marmanjo.

      Poxa, é mesmo, agora que me toquei que você vive o extremo oposto disso, rzs.

      Ah, pode deixar, abraço! ;)

    Responda!
  • avatar de helisonbsb
    helisonbsb
    23/06/2016 às 02:12:54
    conseguir namorada que curti video game é o mesmo que tentar conseguir namorada que curte iron maiden e heavy metal da vida,,,o fato é que são poucas que vejo....muitas aderem essa fase como modismo,,,,infelizmente são poucas que levam para a vida,,,,e depois que viram mães é que se torna mais dificil ainda,,,,valeu!!!!maiden na veia!!!!

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      30/06/2016 às 10:23:11   localizacao Vespasiano - MG
      Cara, esse é um erro muito comum das pessoas, o de considerar o seu círculo social como uma realidade. Você não conhecer minas que curtem metal ou jogos, não significam que elas não existam ou que sejam poucas. Também não consigo ver a relação entre filhos e hobby. Como eu disse no texto, mulheres que jogam existem, isso só não deve ser transformado em um graal.

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  • avatar de erivelto
    erivelto
    09/07/2016 às 01:05:14   localizacao varginha - mg
    Muito bom texto, Rafael. Apesar de fazer quase um mes apos esse seu escrito preciso dizer que as vezes prefiro esperar pelas opnioes dos nossos colegas. Vejo basicamente mais como um fetiche esse lance de que a garota deva gostar de games para ter um relacionamento. Afinal de contas, quem quer arrumar alguem para namorar, simplesmente arruma. Ela gostar de jogos deve ser apenas "lucro", pois o mais importante o cara ja conseguiu. Assim como os demais, concordo que e muito mais interessante encontrar alguem que te respeita e admira que simplesmente jogue. Afinal jogar e bom, mas viver o mundo real sera sempre melhor. Seja sozinho ou acompanhado Vao viver, jogar e ser feliz.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      12/07/2016 às 15:30:28   localizacao Vespasiano - MG
      Pois é, pessoal deturpa totalmente o conceito de relacionamento e cai nesse fetichismo sem sentido.

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