Nesta última segunda-feira (05), a Brasil Game Show 2016 chegou ao seu fim. Foram cinco dias de evento com intensa movimentação do público, que teve o seu ápice no sábado, dia que primeiro esgotou os ingressos. O recém reformado, e não novo como eu havia dito antes, São Paulo Expo, realmente demonstrou ter uma estrutura muito melhor para o porte do evento, não sendo por menos que também irá abrigar a Comic Con Experience em dezembro desse ano. Os 90 mil m2 da área de exposição permitiram um fluxo muito mais tranquilo entre os estandes, ainda que o ponto mais crítico da feira, a área da Sony e da Microsoft, como sempre lado a lado, oferecesse algum "engarrafamento".
Como já ocorre também há algum tempo, um grande estande dedicado aos youtubers foi montado, de modo que as confusões passadas com os astros internéticos fossem evitadas. De qualquer modo, não era incomum eu estar andando por lá e me deparar com um grande aglomerado infanto-juvenil em movimento, atrás de alguma figura que eu não tinha conhecimento para identificar.
Ainda houveram outras atrações, como a Brasil Game Jam, feita em parceria com a Rede Globo, que bizarramente resolveu que já não bastasse a pressão de fazer um jogo em 48 horas, seria legal também trancar os desenvolvedores em uma sala de vidro pelo tempo da competição, todos estudantes da área, ainda por cima sem os direitos de suas criações após o evento. Já a Dell, trouxe a tradicional Brasil Game Cup, uma competição de e-sports que ocorre durante todos anos na BGS.
Não há como negar que em termos de organização, tanto para o público quanto para os profissionais que estavam trabalhando no evento, a feira foi excelente, as filas imensas para a entrada do público ainda ocorreram, mas nada das horas intermináveis dos outros anos, assim como o transporte oferecido entre a estação do metrô Jabaquara e o São Paulo Expo, que também funcionou muito bem, até por conta da distância pequena entre os dois locais. A única coisa que ainda continua bem ruim é o preço dos alimentos oferecidos, as praças de alimentação embora em maior quantidade e melhor distribuídas, ainda contam somente com redes de fast foods que oferecem opções pobres e com um alto custo.
Outra observação que tenho, é com relação a área indie. O posicionamento dela próxima aos estandes da Sony e Microsoft proporcionou um bom movimento pelo local e uma boa exposição para os pequenos estúdios, mas a estrutura montada para o Indie Meeting, onde os desenvolvedores batiam um papo com o público sobre suas produções deixou a desejar, sendo totalmente aberta (fisicamente falando) em um dos locais mais barulhentos da feira.
Como eu já havia dito anteriormente, o grande impasse da BGS 2016 foi o conteúdo relacionado a jogos. Ainda que seja injusto cobrar grandes anúncios para o evento, uma vez que isso depende de uma série de fatores alheios a organização, muitos jogos novos e aguardados pelo público estavam expostos sob a forma de demonstrações ao vivo. Claro que haviam coisas legais para jogar, como Horizon Zero Dawn (PS4) e Gears Of War 4 (Xbox One / PC), mas ao ver uma apresentação onde alguém jogava uma demo completamente funcional de Detroit: Become Human (PS4) e The Last Guardian (PS4) na minha frente, eu ficava me perguntando o motivo de elas não estarem disponíveis para o público em estações nos estandes principais, uma vez que elas já estiveram disponíveis em eventos maiores como a E3 2016. Ficou a sensação de que poderia ter sido bem melhor, principalmente quando você pensa no valor dos ingressos, o tempo que é gasto nas filas para as estações de jogo e mais o deslocamento da maioria das pessoas, muitas vindas de outros estados do país.
Outra coisa que eu senti falta foi a presença de grandes figuras como no ano passado, onde contamos com a aparição de Yoshinori Ono, anunciando a personagem Laura de Street Fighter V e Phil Spencer, líder da divisão Xbox na Microsoft. É o tipo de coisa que em termos práticos não significa muita coisa para a maior parte do público, mas demonstra uma atenção maior das empresas pelo evento.
De qualquer forma, eu acho difícil dizer que a BGS 2016 não foi um sucesso. Embora eu ainda não saiba os números e se os objetivos da organização foram alcançados, fica claro que o interesse das pessoas ainda se mantém forte, com o local bem cheio mesmo no último dia, uma segunda-feira. A minha impressão é que enquanto ainda existe uma parte mais interessada nos grandes jogos, existe uma outra parte considerável do público que acaba sendo atraída pelas atrações "menores", como as diversas experiências de realidade virtual que estavam sendo oferecidas e os indies, embora estes possuam também o Big Festival, um evento de jogos independentes, gratuito, que também ocorre em São Paulo todos os anos. Há ainda aqueles que vão especialmente para ver alguma celebridade da internet em específico, o que é sempre mais comum entre crianças e adolescentes. Os grandes varejistas presentes também movimentaram bastante o público, aproveitando para venderem os seus produtos e ocasionalmente desencalhar algum estoque antigo.
Creio que a BGS está passando por uma espécie de crise de identidade. Ela se apresenta como uma grande feira que irá trazer as grandes novidades da indústria para o Brasil, mas cada vez fica mais claro que o que a sustenta são as atrações que teoricamente deveriam ser secundárias. A cada ano que passa o número de estandes não relacionados diretamente a jogos aumenta, enquanto alguns grandes tem se retraído, como a EA por exemplo, que só deu as caras com FIFA 2017, assim como a Warner, também representante a Capcom no Brasil, que estava com um espaço mínimo. Eu não acho que essa diversidade seja ruim, mas essa indefinição afeta diretamente o público, que precisa saber melhor sobre o que esperar e pelo o que está pagando. Agora é esperar pela próxima Brasil Game Show.
* Revisado em 14/07/2017 às 01:49:42
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