Eu nunca fui muito fã de ter vários termos para definir algo, sempre fui da opinião de que complica as coisas muito mais do que facilita. Até hoje não entra na minha cabeça o tal do "hardcore melódico"... aliás, qualquer estilo musical que termine com "melódico" não entra na minha cabeça. E já que eu falei do tipo de música que eu mais gosto, em outra área, existe um "hardcore" que eu detesto: o "hardcore gamer". Na minha opinião, essa foi uma das piores "invenções" que surgiram na indústria dos jogos nos últimos tempos. E que venham as pedras...
Eu me lembro razoavelmente bem de quando o termo surgiu, pelo menos popularmente, foi uma época em que eu estava voltando ao mundo dos jogos após uma pausa de alguns anos, eu vivia enfurnado em sites e blogs lendo sobre o assunto. Nesses tempos os jogos de redes sociais davam as caras no finado (?) Orkut, e outros como Wii Sports, vendiam consoles que nem água no deserto. E foi mais ou menos assim que surgiram os jogos casuais, e claro, os jogadores casuais... ou pelo menos o termo. Mas aqui, para muitos, apareceu um grande problema, que foi a democratização dos jogos. Para esse pessoal, é realmente importante ser o cara que passa todo o tempo livre com a bunda no sofá ou na frente do PC, jogando aquele mesmo jogo ad infinitum, criando personagens de nível astronômico, e esfregando na cara dos "amigos" o quão foda ele é nesse mundinho virtual... é a essência da "medição de pinto". O problema é que a partir do momento que a mãe, pai, irmãos, avós, tios, cachorro, papagaio, gato e tudo mais desse cara também se tornam jogadores, ou em uma concepção mais idiota, invadem o território dele, ele deixa de ser "especial", e para solucionar isso ele precisa novamente de algo que o diferencie, então ele cria uma nova subcategoria, o infame "hardcore gamer". Sim, esqueçam qualquer coisa que vocês leram a respeito, o termo só ganhou a força que tem por conta disso, essa falta de autoestima gigante por parte dos jogadores. A princípio, o "hardcore gamer" simbolizava aquele cara que se dedicava muito a um jogo, normalmente de dificuldade elevada, o que demandava muito treino e habilidade, diferente desses outros que qualquer um pode jogar e se divertir instantaneamente. Grande parte dos jornalistas de jogos, que a essa altura estavam totalmente perdidos tentando entender o mercado, adotaram e espalharam rapidamente a parada, afinal, isso facilitava (e muito) o trabalho deles.
Seguindo aquele velho ditado, de que "merda, quanto mais você meche, mais ela fede", as coisas começaram a se tornar mais problemáticas do que quando começaram. O primeiro grande problema, que persiste até hoje, é a discriminação dos jogadores casuais. Embora o termo realmente faça sentido se aplicado corretamente, ele passou a ser utilizado de maneira tão pejorativa, que hoje a maioria das pessoas tem a visão de que jogo casual é ruim, e mais uma vez a nossa querida imprensa entra diversas vezes na pilha errada. Pior de tudo, é que isso afasta as pessoas que não são jogadoras, e isso incluí a sua namorada que você vive enchendo o saco para jogar com você, e ainda por cima contribuí com a visão de que jogos são coisas para crianças e/ou geradores de violência.
O segundo problema é a crise de identidade entre os próprios hardcores. Se a princípio essa definição diferenciava muito bem quem eram os "verdadeiros jogadores" (que aliás, é outro termo ridículo) dos outros, por outro ela excluía vários clássicos que não poderiam ficar de fora da lista de "jogos verdadeiros". Coisas como Street Fighter e Fifa, por exemplo, também podem ser jogados casualmente, e não requerem obrigatoriamente um tempo de dedicação tão grande para serem aproveitados, o que praticamente os colocam como jogos casuais. Então os jogos hardcore, passaram a ser aqueles dotados de uma temática não infantil, muitas vezes envolvendo algum grau de violência e custos de produção altíssimos.
Deu para notar que na verdade, tudo não passa de um "hardcore é o que eu gosto de jogar", e volta e meia, um jogo passa a figurar como tal. A coisa é tão ridícula, que eu já ouvi jornalistas declamando pérolas como "mid-hardcore", ou algo parecido, para definir jogos como Guitar Hero, por exemplo, já que apesar de ele entrar completamente no tal conceito de casual, é queridinho demais para entrar nessa categoria tão esnobada. Engraçado também que grandes expoentes dos jogos casuais, como o excelente Angry Birds por exemplo, podem requerer tanta dedicação quanto qualquer outro jogo "hardcore", o que acaba levando a grande questão: "hardcore é o jogo, ou a forma como a pessoa joga?".
O mais triste dessa história toda, é que além de toda essa segregação imbecil de jogadores, a idéia ganhou tanta força, que hoje está completamente estabelecida no mercado. É normal as grandes empresas anunciarem jogos como casuais, ou foco no mercado de hardcore gamers. Até mesmo os jogadores, incluindo os que não estejam no meio dessa briga de egos, utilizam os termos amplamente... então no final das contas, eu sou apenas um rabugento bravejando contra o vento que bate na minha cara.
Mas independente dos termos que vocês usam, tenham em mente que não importa se a pessoa joga Fruit Ninja ou Battlefield, todos são jogadores. Alguns se dedicam mais, outros menos, mas ainda sim, todos estão no mesmo balaio. E quando a dúvida surgir e você começar a pender para o lado imbecil da força, lembrem-se que existe Tetris, que apesar de você poder enquadrar como casual, é de longe uma das coisas mais geniais já feitas na face da Terra. Não se preocupem se vocês estão agitando um bastão de plástico, dando dedadas em uma tela, esfregando um rato ou controlando um personagem com dezenas de botões e dois "cogumelos", o importante é se divertir, isso sim é ser um verdadeiro jogador. E como verdadeiros jogadores, o que vocês estão fazendo aqui, perdendo tempo lendo sobre jogos? Ora, VÃO JOGAR!
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