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DegustaçãoThe Legend of Zelda: Twilight Princess

Análise de The Legend of Zelda: Twilight Princess - Uma visão sobre a disputa entre a luz e as sombras de Twilight Princess, atravessando três gerações e dez anos após seu lançamento.

autor Rafael "Tchulanguero" Paes
datahora 05/08/2016 às 13:55:25   tagarelices 5

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Uma visão sobre a disputa entre a luz e as sombras de Twilight Princess, atravessando três gerações e dez anos após seu lançamento.


A esta altura do campeonato, difícil falar alguma grande novidade sobre Twilight Princess. Com um desenvolvimento conturbado, fruto da pressão dos jogadores que não gostaram muito da direção de arte tomada por Wind Waker, hoje um jogo bem aclamado, o título é de toda a série Zelda o que possuí gráficos o mais próximo do "real". O problema, é que ao contrário do senso comum, nem sempre entregar exatamente o que os fãs querem é uma boa ideia, ao menos não nos casos de reclamações infundadas.

Wind Waker
Com gráficos em cel shading, Wind Waker sofreu severas críticas por parte dos jogadores em sua época de lançamento. Atualmente o jogo possuí um remake para o Wii U e costuma figurar entre os favoritos dos fãs.

Desde muito tempo que Ocarina of Time é tido como o melhor Zelda de todos, ao menos no que tange a era 3D da série. Até mesmo o excelente, e melhor na minha opinião, Majora’s Mask sofreu diversas críticas frente ao seu antecessor, que de fato é um jogo indiscutivelmente excelente, e que junto a Mario 64, definiu a base das mecânicas de praticamente todos os jogos em 3D que temos hoje. E no final das contas, Eiji Aunuma, responsável pela série desde exatamente Majora’s Mask, não contente em entregar o estilo gráfico que os fãs almejavam na época, também apelou completamente a nostalgia das pessoas, fazendo uma grande releitura de Ocarina of Time.

Não temos a mesma história, mas a todo o momento, TP faz questão de nos lembrar que estamos no mesmo universo de seu antecessor. Existem várias referências diretas, como locais, chefes e templos. Até mesmo o Templo do Templo, uma das masmorras que acabou ficando de fora de OoT, acaba encontrando o seu lugar no jogo. A coisa foi a tal ponto, que O "herói do tempo" aparece presente de alguma forma, lhe ensinando técnicas de luta diversas ao longo da história.

O espírito do Herói do Tempo
Twilight Princess é de longe o jogo da série com a maior gama de movimentos, que são ensinados por um misterioso stalfo fantasma. Embora isso não seja dito de forma direta no jogo, ele na verdade é o espírito do Link de Ocarina of Time, o Herói do Tempo.

Muitos de vocês também já devem ter ouvido diversas críticas a TP, não somente aos controles imprecisos e cansativos da versão de Wii, uma adaptação da versão original de GameCube, que sofreu um longo atraso para que o título fizesse parte da primeira leva do então novo console da Nintendo, mas também de como ele não é um bom Zelda per se. Embora o título figure entre os meus jogos favoritos da série, por muito tempo "O" favorito inclusive, hoje eu tenho que concordar com boa parte dessas críticas. Mesmo na época em que eu joguei pela primeira vez, super empolgado no meu GameCube, já me era nítido o desgaste que a fórmula da série vinha passando.

Para quem não está muito habituado a Zelda, uma rápida explicação: Ocarina of Time adaptou muito bem a estrutura de A Link To The Past, terceiro jogo da série, originalmente lançado para Super Nintendo. Nessa estrutura, temos a introdução do jogo, a busca do herói por um importante item que irá ajudá-lo em sua tarefa de salvar o mundo do mal, que ocasionalmente o irá levar a algumas masmorras, a conquista do item e luta contra o vilão, uma reviravolta, mais uma busca por mais alguma coisa para enfrentar o vilão, mais masmorras e por fim a derradeira luta final. E por mais que isso tenha funcionado bem em ALttP e OoT (Majora’s Mask segue uma estrutura diferente, mais direta), Wind Waker havia demonstrado que na terceira vez isso já havia ficado meio batido, na quarta então nem se fala, ainda mais tendo esse lance de fazer uma ligação com outro jogo o tempo todo. Claro que este não é o único defeito do jogo, mas eu diria que de longe é o mais evidente para mim.

Agora, posto o elefante para fora da sala, vamos falar do que realmente se trata Twilight Princess. Sim, porque por trás de toda essa confusão de agradar a fãs e apelos nostálgicos, existe um jogo realmente bom e original.

Midna
The Legend of Midna seria um nome apropriado para este jogo.

O maior destaque fica por conta da personagem principal desse jogo, Midna. Não, Link não é importante, ele é só o cara que você usa para jogar, mas como personagem, ele só aparenta ser importante porque os outros personagens dizem que ele é importante, mas ele não o é de fato. Diferente da maioria dos outros assistentes de Link, como Navi e Fi, Midna está diretamente ligada a história principal, sendo parte fundamental da mesma, com seus próprios objetivos e motivações, que você vai descobrindo ao londo do jogo. Não somente isso, a personagem é de longe uma das mais carismáticas da série, com diversas passagens que variam do engraçado, como ao se apresentar em sua forma original a Link, mas também ao dramático, como sua triste despedida no final do jogo. Recentemente ela também deu as caras em Hyrule Warriors, como um dos personagens controláveis em sua forma amaldiçoada, e como parte de um DLC em sua forma original.

E embora em uma escala bem menor, TP também trás outros personagens bem interessantes e diferenciados dentro da série, como Telma, a dona do bar da cidadela de Hyrule, que secretamente abriga um grupo de guerreiros que formam uma espécie de resistência dentro da cidade, o Príncipe Ralis e a Rainha Rutela, dos Zoras, o casal de ietis Yeto e Yeta, além de vários outros. Mas outro que vale menção, é Zant, que até certo ponto é o grande vilão da história, sendo o grande nêmesis de Midna. Ele se apresenta realmente como um personagem original, um vilão assustador, insano e opressor, mas que infelizmente perde completamente a sua força como personagem quando o jogo introduz Ganondorf, que a grosso modo, está na história só para fazer a já mencionada ponte com Ocarina of Time.

Zant e Midna
Zant é um vilão com grande potencial, mas que em dado momento do jogo perde grande parte de sua importância com a introdução de Ganondorf. Mesmo a sua controversa apresentação no final do jogo acaba compondo muito bem a natureza insana do personagem.

E ainda que preso a uma estrutura desgastada, existem grandes momentos no jogo, mesmo que isolados, em especial antes da primeira metade. Há, por exemplo, uma sequencia onde Link ao se reencontrar com um personagem, é surpreendido por alguns inimigos que o sequestram, dando início a uma perseguição e luta a cavalo, culminando em uma disputa similar a uma justa sobre uma ponte. Detalhe que todo esse trecho é jogável e não somente uma grande cutcene. Outra sequencia que eu gosto bastante é uma em que Link tem que fazer uma escolta para uma carroça por todo o campo de Hyrule, que embora não seja um desafio muito grande, é um pouco mais complexa do que eventos similares presentes em jogos anteriores.

As masmorras, ainda que não sejam excepcionais e acabem caindo no problema da repetição, também reservam momentos memoráveis, em especial em algumas batalhas contra sub-chefes e chefes. A primeira vez que se enfrenta um Darknut, por exemplo, pode sem bem desesperadora e complicada. Os chefes em geral são bem fáceis, alguns de maneira bem ridícula, como Morpheel, mas outras batalhas, como a contra o esqueleto gigante Stallord e principalmente contra o dragão alado Argorok, são verdadeiramente empolgantes. Nesta última, você batalha no melhor estilo Homem-Aranha, equipado com duas Clawshots, garras com correntes retráteis, debaixo de chuva e em pleno ar, até alcançar as costas do dragão e cravar a sua Master Sword em seu ponto vital. A batalha final contra Ganondorf também é bem divertida, apesar de extremante longa, onde você enfrenta o vilão em diversas de suas formas clássicas, passando inclusive por uma batalha épica a cavalo pelos campos de Hyrule com a ajuda de Zelda, até culminar em um duelo de espadas no mano a mano.

Batalha contra o dragão alado Argorok
Embora não ofereça um desafio de nível muito elevado, a batalha contra o dragão alado Argorok e facilmente um dos melhores momentos do jogo.

Falando dos campos de Hyrule, embora sua vastidão e ausência completa de objetivos faça com que ele tenha problemas similares ao mar de Wind Waker, pegar a Epona e sair cavalgando por ele não deixa também de ser uma experiência bem relaxante, de modo similar ao que acontece em Shadow of the Colossus. Ainda que a possibilidade de poder utilizar a espada mesmo montado seja subutilizada com a presença de poucos inimigos, os cenários são muito bonitos e as variações de clima, que vão desde uma tempestade até um dos entardeceres mais bonitos presentes em jogos de videogame, fazendo jus ao nome do jogo, são válidos o suficiente para que se tenha vontade de sair cavalgando sem rumo.

O grande chamariz do jogo, que é a possibilidade de se transformar em lobo, também é interessante, mas subaproveitada e com mecânicas muito mastigadas e ausentes de desafio, embora eu não ache os trechos em que você é obrigado a jogar como lobo tão entediantes assim, como muitos acham. Porém, as partes onde você aprende as canções através de uivos, as mesmas de Ocarina of Time, são particularmente momentos muito bonitos e originais, além da possibilidade de rastrear cheiros e enxergar fantasmas, mais uma vez mostrando o potencial desperdiçado.

Wolf Link
Embora pontuais e mecanicamente simples, os trechos onde se aprende as canções clássicas de Ocarina of Time através de uivos são particularmente muito bonitos.

Recentemente o jogo ganhou uma versão em HD para o Wii U baseada na versão do GameCube. Infelizmente, diferente do excelente remake de Wind Waker, esta versão não passa de um remaster em HD com leves modificações, que embora se utilize do GamePad, não foi obviamente tão bem adaptado assim neste sentido, e mesmo os gráficos sofrem do mesmo problema do original, com algumas texturas em baixa resolução perdidas em vários trechos. Para quem já possuí as versões anteriores, o remaster quase nada acrescenta, uma vez que mesmo a versão de GameCube continua um jogo muito bonito até hoje. Eu mesmo só acabei comprando por conta do bundle com o amiibo de Wolf Link, que futuramente poderá ser utilizado em Breath Of The Wild, mas que também serve para acessar um desafio extra dentro do jogo, uma masmorra especial onde não há como recuperar energia e que você obrigatoriamente batalha na forma de lobo, lembrando bastante outra masmorra opcional de TP, a Cave Of Ordeals. Embora definitivamente não vá ter a mesma pegada, para os que não conhecem muito bem a série, pode ser uma porta de entrada enquanto se espera o lançamento de Breath Of The Wild.

Ter revisitado Twilight Princess recentemente, embora tenha deixado para mim os problemas do jogo mais claros do que antes, foi uma experiência bem agradável, ainda mais quando se percebe mais claramente toda a originalidade perdida em meio ao desenvolvimento conturbado, como eu já expliquei antes. Ainda o considero um bom jogo, apesar de não o achar mais tão sombrio quanto antes e ter achado que a jogabilidade não é mais tão acurada o quanto eu lembrava. Aliás, alguns de vocês talvez notem que já existe uma outra análise que eu escrevi sobre esse jogo anos atrás, e além da diferença gritante na qualidade de escrita, que felizmente melhorou bastante de lá para cá, vão notar que muito do que eu disse aqui hoje contradiz o Rafael de 2010. Sabem como é, vamos ficando mais velhos, e para o bem e para o mal, mais exigentes e críticos.

Ponte de Eldin

E tal como antes, eu convido vocês a mais uma vez montarem em seus cavalos, sacarem as suas espadas e percorrerem os campos de Hyrule sob o entardecer, Vão Jogar!

* Revisado em 30/04/2018 às 17:46:59

The Legend of Zelda: Twilight Princess
The Legend of Zelda: Twilight Princess

* * * . .  Twilight Princess é um bom jogo da série Zelda, com diversas referências ao aclamado Ocarina of Time, mas que sofre pela repetição da fórmula base vinda dos jogos anteriores. Existem vários momentos marcantes ao longo da aventura de Link e Midna, mas eles acabam se perdendo em uma grande tentativa de agradar aos fãs.
Avaliado no Wii U
(entenda o nosso sistema de notas)


Série: The Legend of Zelda
Estúdio: 
Plataformas: GameCube, Wii e Wii U
4

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  • avatar de Ulisses 8Bits
    Ulisses 8Bits
    06/08/2016 às 00:29:12   localizacao Curitiba
    existe um pecado e vou confessar
    nenhum jogo de Zelda eu tentei terminar
    e mesmo assim, misturando vergonha e covardia
    seu texto me trouxe alegria
    para que eu possa - um dia -
    meu coração descansar

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      11/08/2016 às 19:20:35   localizacao Vespasiano - MG
      É... hum... beleza então, hwa hwa hwa.
    • avatar de Ulisses 8Bits
      Ulisses 8Bits
      12/08/2016 às 19:28:41   localizacao Curitiba
      Zelda é um pecado gamístico, jogarei em breve.
      :)

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  • avatar de Juca
    Juca
    07/08/2016 às 17:44:12
    Os gráficaram ficaram fascinantes, os melhores da série.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      11/08/2016 às 19:22:15   localizacao Vespasiano - MG
      Se ao dizer gráficos você se refere a direção de arte, eu gosto também, mas prefiro quando há experimentações diferentes como em Wind Waker, Skyward Sword e agora em Breath Of Wild. Acho que Zelda não combina muito com hiper-realismo, quanto mais pirado for, melhor.

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