Mesmo com todas as dificuldades, a #CPMG3 termina com saldo positivo e expectativas otimistas para 2019.
Apesar do forte engajamento da população nos últimos tempos, a maioria das pessoas não gosta muito de falar sobre política e economia, considerando algo chato, ainda mais em um site que se propõe a falar de videogames, invariavelmente sob a já desgastada bandeira do "é só diversão". Mas quer você goste ou não, isso influência o meio, mesmo que indiretamente, seja no preço dos jogos por conta da cotação do dólar, seja na realização de eventos, que dependem de uma economia estável para acontecerem. E isso é muito pertinente para entender e analisar o que foi a Campus Party MG 2018, ou #CPMG3, evento focado em ciência e tecnologia que aconteceu na semana passada, entre os dias 07 a 10 de novembro.
Explicando de uma maneira muito simples, embora a Campus Party seja coordenada por uma instituição internacional com um braço no Brasil, a realização dos eventos em cada cidade conta com o apoio do governo e empresários locais, inclusive no aspecto financeiro. Agora tenha em mente o cenário do país em 2018, tentando se recuperar de uma crise financeira, com níveis de desemprego altíssimos e uma crise política que coloca um grande ponto de interrogação em nosso futuro. Fica difícil pensar em realizar um evento pago com foco em ciência e tecnologia para jovens, ainda que sob a bandeira do empreendedorismo.
Não é por menos que o diretor geral da Campus Party Brasil, Tonico Novaes, tenha batido tanto na tecla durante suas declarações de como foi difícil realizar esta edição. A confirmação só veio a pouco mais de um mês, em um momento em que muitos já davam como certo a não realização da edição 2018, eu incluso, culminando em uma divulgação fraca e apressada.
Tonico Novaes Com tudo isso em mente, fica mais fácil entender o motivo da redução significativa do escopo: segundo os organizadores, foi a maneira encontrada para manter o evento vivo, garantindo uma possibilidade maior de realizações de edições futuras.
Como já dito por aqui antes, as mudanças mais notáveis, além da ida para um espaço menor, a Serraria Souza Pinto, foram a ausência da área de acampamento e bancadas com internet cabeada para que os participantes pudessem levar seus computadores, duas tradições muito fortes, daí a utilização do nome Campus Party Experience para esta edição.
Se por um lado o corte de dois dos maiores atrativos possa ter afastado uma parcela dos campuseiros, por outro a gratuidade da entrada garantiu um fluxo mínimo para o bom andamento das atividades. Segundo a organização, isso foi uma medida para democratizar o acesso a tecnologia e conhecimento, e embora isso soe muito como pós-conceito, não deixa de ser uma boa estratégia para cativar um novo público para o futuro.
O discurso sobre o tema geral também foi ligeiramente alterado, com um foco maior em questões sociais, em especial durante a fala do presidente do Instituto Campus Party, Francesco Farruggia, que durante a coletiva de abertura divulgou o projeto Include, que está levando o ensino de robótica para comunidades carentes em todo o Brasil. Mas como nem tudo são flores, o discurso de empreendedorismo meritocrático ainda esteve presente em muitas apresentações, além de mais uma vez Tonico Novaes, que em seu tradicional papel de showman e persona de "tiozão que zoa a tudo e a todos", continuar debochando de questões importantes em nossa sociedade como feminismo e antifascismo.
Menor, mas ainda interessante e movimentada
Apesar do encolhimento do evento e do público, a terceira edição mineira da Campus Party foi algo de se admirar, dada as condições em que o evento foi organizado. Embora as apresentações tenham contado com um número menor de nomes conhecidos para o público em geral, os temas continuaram bem interessantes e dispostos em palcos que eu pessoalmente achei bem mais bonitos do que os dos anos anteriores.
Infelizmente os videogames tiveram como único representante o youtuber e narrador de e-sports Gordox, que em sua apresentação se restringiu a contar como foi o começo de sua carreira na área. É algo bacana para quem o acompanha, mas não tem o mesmo peso de um Nolan Bushnell ou traz o nível de conhecimento agregado de uma Mariá Scárdua, como aconteceu no ano passado. Fora isso o que havia de jogos se resumiu a uma espécie de lanhouse gratuita no meio do evento, algumas estações equipadas com um Xbox One e trazendo jogos como Just Dance, Marvel Vs. Capcom 3, Street Fighter 4 e FIFA, exatamente como nos anos anteriores.
Gordox Por outro lado, atividades como workshops, hackathons e apresentações de projetos talvez tenham sido impactadas somente pelo espaço menor, mas me pareceram tão atrativas e movimentadas quanto em anos anteriores, o que é um ponto muito positivo.
O futuro
Obviamente somente no ano que vem é que teremos uma visão melhor de como o cenário político-econômico mineiro e do país irá caminhar, mas a impressão que tenho é que dada a boa organização do evento em meio as dificuldades, o mais provável é que a maior incógnita fique em torno do formato, se seguirá reduzido ou voltará ao tradicional, e não em torno da realização ou não. Inclusive o governador eleito de Minas Gerais, Romeu Zema, visitou a Serraria no sábado (10) e elogiou o evento, sinalizando que provavelmente apoiará as próximas edições. Embora o discurso adotado pelo político durante a campanha indique uma forte retração no incentivo a cultura do estado, o foco em empreendedorismo que a Campus Party traz dá um aspecto diferenciado e mais alinhado com as convicções do futuro governador.
Fica agora a expectativa agora de que em 2019 a organização consiga reestruturar o evento, que ainda segue sendo o único do tipo no calendário anual da capital mineira, voltando a trazer os expoentes do cenário mineiro de desenvolvimento de jogos, ajudando a expandir este mercado que mais do que nunca vai precisar de todo o apoio e visibilidade possível para os próximos anos.