A sua apresentação não trouxe nada de muito especial ou novo, sendo quase uma narração de sua carreira enquanto empresário e desenvolvedor de videogames, que você vai conseguir saber fazendo uma pesquisa bem básica na internet. E por isso mesmo é que a figura humana de Nolan é que se destacou mais.
Stay alive!
Uma das coisas que ele mais defende é a de que as ideias inovadoras quando surgem são sempre estranhas, mas nem por isso devemos descartá-las, muito pelo contrário, deve-se arriscar nelas. E todos nós sabemos o quanto ele já arriscou em ideias do tipo ao longo da sua carreira, e mesmo quando confrontado com os seus tropeços, como o crash da indústria ocidental de videogames em 1983, culminando com a venda da Atari, ele sempre se mostra otimista, dizendo que no final das contas obteve sucesso, uma vez que vendeu a empresa por um preço maior do que ele havia investido inicialmente. Atualmente ele está trabalhando em sua nova empresa, a Modal, focada em jogos para realidade virtual.
Nolan elogiou o público brasileiro pela sua paixão, algo que ele julga muito importante neste processo de criatividade, chegando inclusive a dizer que ignorância e estupidez são perigos muitos mais reais para o trabalho das pessoas do que inteligências artificiais ou robôs. Como ele disse ao final de sua apresentação, de modo muito similar a Steve Jobs, que já foi seu funcionário, "mantenha-se vivo!"
Porém não pude deixar de notar que Nolan parece ter uma visão quase que ingenua das coisas, ignorando o fato de que nem sempre as pessoas podem arriscar em ideias estranhas, ainda que tenha reconhecido a dificuldade de pequenas empresas em se manter, e que talvez o novo Atari 2600 até possa estar em desenvolvimento dentro de alguma garagem de Belo Horizonte, como ele mesmo sugeriu ser possível, mas isso por si só não é uma garantia de sucesso.
O empresário da indústria dos videogames
Apesar das idealizações, é impossível não reconhecer o seu conhecimento na indústria dos videogames e suas visões de como os jogos devem se focar nos jogadores e não nas tecnologias em si, fazendo inclusive uma crítica aos desenvolvedores atuais, dizendo que lhes sobram técnica, mas por outro lado lhes faltam muitas vezes um pouco de teoria. Segundo ele, é preciso olhar para o passado e tentar uni-lo ao presente para conseguir ir além do tradicional.
Nolan também falou sobre como vê os eSports com bons olhos, e de como ele acha que tecnologias como realidade virtual ou realidade aumentada não devem substituir os jogos tradicionais, mas sim se integrar a eles em grandes ecossistemas de jogos.
Quando questionado sobre o que ele acha do Ataribox, Nolan não pareceu muito entusiasmado com o novo console de sua antiga empresa, mas disse ser um bom produto e que ainda ama a marca Atari.
O jogador de vídeogame
Como não poderia deixar de ser, Nolan foi questionado sobre o que mais joga, citando Just Dance no Kinect como o seu favorito, mas também dizendo que gosta bastante de League of Legends e Call of Duty. Infelizmente para ele, estes dois últimos exigem mais habilidade do que ele possuí, muito do que ele atribui a idade avançada (74), ainda que tente compensar com alguma estratégia.
Nolan, o ser humano
Apesar de toda a pompa com que foi recebido no evento, Nolan Bushnell se mostrou uma pessoa extremamente simpática e humana, tanto em sua apresentação no palco quanto na coletiva de imprensa posteriormente, sempre dando atenção a todos que chegassem para pedir um autógrafo, foto ou fizesse alguma pergunta.
Ele também falou um pouco sobre sua família e de como ele acha importante ter tempo e qualidade de vida com seus filhos a despeito de todas as outras coisas, e de como ele é feliz por todos terem alcançado de alguma forma sucesso na vida, alguns inclusive na indústria de videogames.
E talvez essa tenha sido a maior impressão que Nolan Bushnell tenha me deixado, não a do empresário visionário que arrisca sempre em suas ideias mais insanas, muitas vezes conseguindo grande êxito com elas, mas sim a da pessoa atenciosa que realmente espera algo bom das pessoas.
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