A discussão sobre o que são jogos, em especial se eles são ou não são arte, já ocupa as rodas de discussão dos jogadores há algum tempo. Infelizmente, muitos caem na argumentação rápida de dizer que eles são meras formas de entretenimento, muitas vezes como uma forma de fugir de assuntos como machismo, representatividade de minorias e diversas outras questões sociais, que se fazem cada vez mais presentes no meio. Por esse tipo de argumentação infelizmente tão comum, sempre me "sobe uma veia na testa" quando alguém vem com a proposta de falar sobre o assunto. Felizmente a game designer Mariá Scárdua, também conhecida como Raposa Branca, veio com uma visão mais ampla acerca do tema em seu painel na Campus Party intitulado "O que videogames NÃO são?".
Tentando ser o mais didática possível, Mariá parte do princípio de que ao invés de tentar discutir o que jogos são, o caminho ideal é se utilizar do princípio de eliminação, discutindo o que jogos não são. Conforme ela foi avançando em sua apresentação, desconstruindo os conceitos que temos sobre jogos, como puro entretenimento, narrativa, tecnologia ou arte, eu não pude deixar de notar uma linha de pensamento muito similar ao de outra game designer, Thais Weiller (Rainny Day), que recentemente escreveu um excelente texto intitulado "Games não são arte", onde esse status é fortemente contestado. A própria Mariá admitiu ter uma grande admiração em Thais e nela uma fonte de inspiração. Em ambos os casos, o que se busca não é retirar qualquer poder de crítica dos jogos, muito menos colocá-los como pura diversão, mas sim reconhecer a amplitude da mídia, como algo totalmente novo.
Apesar da visão de jogos como arte ser hoje bem mais aceita no meio, por mim incluso, Mariá expõe o fato de que ela (arte) por si só não é capaz de abranger todos os aspectos que compõe um jogo, e que embora a expansão do nosso entendimento sobre o tema possa ser algo bom, chega em um ponto em que essa mesma expansão pode acabar descaracterizado o meio por tentar abrigar tantas coisas.
Apesar de Mariá defender fortemente a sua argumentação, ela mesma admite que o tema é complexo, em vista do fato de que a própria discussão sobre o que é arte ser uma discussão eterna e inconclusiva, mesmo nos dias atuais. Apesar de não concordar inteiramente com todos os pontos abordados, é bom ver que existe uma discussão real acerca do tema, diferente da banalização que tem ocorrido em tempos recentes nas redes sociais, com visões interessantes e bem fundamentadas, que nos fazem questionar os nossos próprios entendimentos e convicções sobre o assunto, não retirando nenhuma conquista que os jogos tenham alcançado nos últimos tempos, mas sim buscando um lugar próprio para algo tão novo.
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