Eu gostava de videogames, mas não dava tanta importância a eles e jogava esporadicamente, contudo, nessa época – ano 2000 – a Editora Abril, antiga detentora dos direitos de publicação dos personagens da Marvel e DC, decidiu mudar toda sua linha de HQs lançando a Linha Super-Heróis Premium. A descaracterização da minha coleção (todas as revistas haviam sido canceladas para o lançamento das revistas Premium), o mix de personagens por revista ruim e o aumento de preço de capa fizeram com que eu parasse de comprar-las, o que só voltaria a fazer no fim de 2002. Foi ai que eu comecei a dar atenção aos games.
No início, os games que mais me chamavam a atenção eram os baseados justamente nos personagens dos quadrinhos. Eu jogava Spider-Man: Maximum Carnage, X-Men: Mutant Academy, os jogos de Batman e Superman para Snes e, principalmente, Spider-Man 1 de PS1, para mim o melhor jogo do cabeça de teia já lançado. Eu buscava compensar a minha falta de leitura jogando games relacionados aos quadrinhos.
Mas o mercado editorial de HQs muda constantemente. Durante anos a fio, a revista dos X-Men foi a mais vendida do planeta, depois a Liga da Justiça tomou seu lugar. O Homem-Aranha teve momentos de altos e baixos, mas eis que, do nada, uma HQ passa a fazer sucesso e a chamar a atenção de todos: The Walking Dead.
Nota do revisor: fica o aviso, o Professor deu uma empolgada e soltou alguns spoilers sobre os quadrinhos e a série de TV. Mas se o seu interesse é somente no jogo, relaxe e continue com a boa leitura.
A Volta dos que não foram...
The Walking Dead não tem nada de original. Na história acompanhamos o policial Rick Grimes e um grupo de sobreviventes, incluindo sua esposa e filho, na busca por segurança em um mundo dominado por mortos-vivos. Apesar de não ser nada original, o que atrai os leitores são os conflitos vividos por seus personagens, permeados por brigas, traições e assassinatos. Depois de fazer sucesso nos quadrinhos, a série alçou voos maiores e chegou à TV.
Uma vez na TV, o sucesso foi instantâneo. A ideia dos produtores em lançar a série com poucos capítulos - 6 na primeira temporada - deixa tudo muito dinâmico. Atitude parecida foi tomada com a série Breaking Bad, outro sucesso que era transmitido pelo canal AMC.
Do sucesso nas HQs e na TV, foi um pulo para adaptarem o jogo para os games, afinal, por trás de todo sucesso existe o desejo de se lucrar muito dinheiro.
Um fato interessante a considerar é o de as HQs seguirem uma linha quase ou totalmente diferente da série de TV. Um exemplo disso é o relacionamento entre Andrea e Dale. Dale é mais velho do que Andrea, que nas HQs parece bem mais nova que sua versão televisiva e enquanto na TV eles são apenas amigos, com Dale mostrando uma preocupação quase paternal pela moça. Nas HQs eles são amantes, inclusive indo para o "rala rala" quase a todo momento.
Um segundo fato a considerar é a passagem do grupo pela fazenda de Hershell. Na série de TV, eles permaneceram por lá por quase toda a 2ª temporada - e protagonizaram o que talvez tenha sido o melhor episódio de toda a série, com um Shane transtornado, liderando o grupo em um tiroteio para acabar com todos os Zumbis que eram mantidos "a salvo" no celeiro por Hershell, que imaginava que eles tinham uma doença e, por isso, poderiam ser curados. O ápice do episódio está no final, com o desfecho da procura da pequena Sofia. Quem não assistiu, assista... Ao contrário da série de TV, o grupo permaneceu por pouco tempo na fazenda, o que foi explicado pelos produtores que o motivo se deu pela falta de dinheiro, uma vez que a série não gozava de um orçamento tão alto, e eles não precisariam se preocupar com novas locações.
Outro fato interessante é que os irmãos Merle e Darryl Dixon, um dos pontos altos da série, não existem nas HQs, tendo sido criados para a série de TV. Merle teve seu fim na terceira temporada, durante os acontecimentos contra o Governador - "O" vilão da série. Já Darryl, o queridinho dos fãs, fez com que os mesmos se manifestassem contra os produtores que, caso ele morra na série - e quem já assistiu sabe que qualquer um pode morrer a qualquer momento, não importa o quanto seja adorado pelos fãs - eles se revoltarão. O que será que poderiam fazer?
Uma diferença bastante significativa entre HQ e TV está no destino de Rick e as ações do Governador. Enquanto na TV, Merle perde a mão direita - na verdade ele cortou a própria mão quando foi deixado algemado por Rick no alto de um edifício para morrer, nas HQs quem perde a mão é o próprio Rick, em uma das últimas ações do Governador.
E o jogo, João?! E o jogo?!!
Bem, o jogo é fácil de ser explicado. Nele você controla Rick, que comanda seus companheiros e destrói todos os zumbis que passarem no seu caminho, certo? ERRADO!!!!!!
O game conta a história de Lee, um sujeito que foi preso pelo assassinato da esposa. Tudo começa com Lee sendo levado por um policial, que conversa com ele a todo momento. Enquanto é levado, você consegue observar tudo o que está acontecendo e dá para notar, pelos carros, ambulâncias e viaturas, que alguma coisa está muito errada. Súbito, um zumbi surge no meio da estrada e, apesar do aviso de Lee - já controlado por você - o policial não desvia, o carro capota e apenas Lee sobrevive. Em uma sequência angustiante, você leva Lee a matar o zumbi/policial e fugir de uma horda de mordedores. Após isso, Lee chega a uma casa procurando por ajuda e encontra uma menina chamada Clementine. A partir dai seu verdadeiro objetivo no jogo é definido: proteger Clementine e ajudá-la a ser forte em um mundo que está morrendo, imerso em sangue, zumbis e violência.
O game é uma produção da Telltale Games, e segue o estilo "point and click", como aqueles antigos jogos de PC. Aliás, isso causou certa repulsa de alguns jogadores, mas é inegável a qualidade do jogo. Na Telltale, aliás, trabalham ex-funcionários da LucasArts e a produtora lança seus jogos em capítulos, a exemplo do jogo baseado em "De volta para o futuro". É deles também o jogo Sam & Max.
Produzido em um estilo peculiar, o game tem um visual em desenho, o que o faz uma versão dos quadrinhos, quase como uma HQ interativa. Incrível isso. Opção mais que acertada dos produtores.
A proposta do game é que cada ação tomada interfere no desenrolar do jogo, que é carregado de tensão e faz com que o jogador realmente se sinta em meio ao apocalipse zumbi. Aliás, em nenhum momento da série, seja nos quadrinhos ou na série de TV, os mortos-vivos são chamados de zumbis. Na verdade, eles são chamados de "Walkers", o que pode ser traduzido como "Errantes". Paralelo aos quadrinhos, TV e games, existe uma série de livros. O primeiro deles, "A ascensão do Governador", que conta a história do vilão conhecido como Governador, os mortos-vivos são chamados de "Mordedores".
O fato é que o termo zumbi é comumente ligado aos seres que são trazidos da morte por meio de magia negra. Um exemplo disso é o filme "Zumbi Branco" (White Zombie), de 1932, estrelado por Bela Lugosi, grande astro dos filmes de terror, em que um feiticeiro haitiano usa feitiços vodus para trazer os mortos de volta à vida. Em The Walking Dead, como foi mostrado no primeiro episódio da 5ª temporada (que começou no último domingo, 12 de outubro), os mortos surgiram devido ao experimentos com o genoma humano. Então, sem magia, sem zumbis. Temos, então, os "Errantes".
Back to the game
Eu joguei apenas o jogo produzido pela Telltale, mas existe outro jogo, The Walking Dead: Survival Instict, da Activision. Quando der eu jogarei. Existe também um jogo exclusivo para IOS: TWD: Assault.
Na produção da Telltale, em meio aos acontecimentos do apocalipse zumbi, você deve tomar decisões importantes, como escolher quem salvar, por exemplo. Em uma situação dessas alguém invariavelmente irá morrer. Aliás, assim como na série de TV ou HQs, as mortes são constantes e quando você se apegar a algum personagem, cuidado, pois ele provavelmente morrerá.
Dividido em capítulos, novas situações ocorrem a todo momento e você deve cuidar de Clementine, cuidar de sua sobrevivência e sua percepção do que está acontecendo no mundo a sua volta. Tudo isso, as perdas de pessoas queridas, traições, brigas, faz com que Clementine cresça quanto à sua personalidade, o que leva ao grande clímax, que faz valer cada minuto jogado. Impossível não se impressionar.
Todos esses acontecimentos, do episódio 1 ao 5, encerram a primeira temporada - sim, ao invés de The Walking Dead 1, temos The Walking Dead: Season 1 - e temos o especial "400 Days". Após isso, temos The Walking Dead: Season 2. Admito, ideia interessante e cada episódio pode ser comprado separadamente. Vale a pena ser jogado.
Mais do que falar sobre o game em si, esse foi um relato superficial de uma série que está fazendo muito sucesso e que, apesar de ter apenas começado a 5ª temporada, já garantiu a produção da 6ª, então teremos Rick contra os Errantes por mais um bom tempo.
Enquanto isso, assista a série de TV, leia os quadrinhos, livros e, principalmente, ligue o jogo, mantenha Clementine a salvo e vão jogar!
* Revisado em 19/12/2016 às 02:04:30
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