Mesmo para os que não chegaram ainda na casa dos trinta, em algum momento da infância vocês já devem ter acompanhado algum tokusatsu do gênero super sentai, que são aquelas séries live action de grupos adolescentes salvadores do planeta e que por algum motivo só se vestem com uma única cor. E também não é raro que muitos já tenham jogado algo relacionado a isso, sejam os antigos jogos dos Power Rangers ou o atual Chroma Squad. E seja também pela sua qualidade ou nostalgia, este tipo de jogo sempre costuma fazer sucesso entre o pessoal, mesmo que não tão duradouro quanto um blockbuster da vida, mas é estranho que um título que lida tão bem com esse assunto, volta e meia seja esquecido: eu estou falando de The Wonderful 101, um exclusivo do Wii U, desenvolvido pela Platinum Games.
Mas calma, não vamos criar uma ideia errada sobre ele. W101 não se apresenta necessariamente como um jogo baseado nesse estilo, mas é inegável o quanto o Sr. Hideki "Blocked" Kamiya bebeu nessa fonte, assim como no fantástico Viewtful Joe. Na história, uma raça alienígena de monstros e robôs quer invadir a Terra e, para nos defender contamos com a equipe conhecida como Wonderful 100 (one double-o), composta pelos mais variados tipos de pessoas, que ao se transformarem são equipados com um poderoso exoesqueleto, que está mais para uma roupa brilhante mesmo, sob o comando do General Nelson a bordo da nave Virgin Victory. E sim, o nome da equipe é diferente do título do jogo, porque o 101º integrante é você, jogador, o que aliás é esclarecido logo na apresentação.
- Mas peraê Tchulanguero, pelo que eu me lembre, as equipes de super sentai eram formadas por umas cinco ou seis pessoas no máximo, não?
Pois é, tirando episódios especiais, normalmente é um lance assim mesmo, mas vamos olhar o jogo mais de perto para entender. Você controla sempre essa equipe gigantesca, em uma espécie de hack ’n’ slash maluco de visão isométrica, onde o personagem na verdade é uma multidão que pode assumir as mais variadas formas com um simples "desenhar" de símbolos específicos na tela do GamePad, com força variável de acordo com o número de integrantes e barra de energia. Só que essa equipe não está completa desde o início, sendo um dos objetivos do jogo você encontrar os seus vários membros. Mas como a Terra está sendo invadida e não dá para esperar todo mundo aparecer, o jeito é pegar alguns civis na rua mesmo para completar o time, que apesar de mais fracos, dão para o gasto. É só desenhar um círculo ao redor deles e pronto, eles momentaneamente são convertidos em membros da equipe.
E acreditem, quando eu falei lá em cima que são tipos variados de pessoas, eu não estava brincando. Pense em alguma profissão, pegue o termo em inglês, acrescente a palavra "wonder" na frente e pronto, provavelmente esse personagem vai existir. Mas então, até agora realmente não se parece muito com um super sentai, não é? Pois bem, existem alguns personagens chave no jogo, que representam cada uma das habilidades/armas principais que o seu grupo pode utilizar e eles são os únicos que tem os seus nomes associados a cores ao invés de profissões ou habilidades. Não vou ficar aqui descrevendo cada um porque senão o Caduco vai falar que é spoiler, mas só digo que o líder da equipe é ninguém mais que o Wonder-Red, aquele típico cara equilibrado e justo, além de ser ótimo em fazer apresentações verbais imensas de pessoas e armas, não importando o que esteja acontecendo ao seu redor.
Mas além de toda essa brincadeira de cores, alienígenas caricatos e robôs gigantes, a nossa querida Platinum também não perdeu a chance de fazer muitas autorreferências nesse jogo, seja no nome de personagens, seja utilizando o próprio nome do estúdio como elemento da história. E não apenas isso, W101 carrega muito de jogos anteriores de Kamiya, com uma estrutura muito parecida com vários deles. Se você já jogou algum desses títulos, vai se sentir em casa com relação a muitas dessas coisas.
E se toda essa mistura de elementos ainda não tiver te empolgado o suficiente, tudo bem, porque a trilha sonora orquestrada com certeza vai fazer isso por conta própria. Não espere uma variedade imensa de músicas, para falar a verdade, você provavelmente vai ficar escutando uma meia dúzia de faixas durante o jogo inteiro, que tem uma duração bem razoável. Mas é uma trilha tão bem encaixada, que sério, você em momento algum sentirá que ela está repetitiva e enfadonha, muito pelo contrário, existem alguns momentos em que a mistura da narrativa, muito bem feita por sinal, com a trilha sonora, faz com que inconscientemente você dê aquela levantada e fique na beirada do sofá, quase pulando na televisão para dar uma porrada em algum chefão, que aliás, muitas das vezes conseguem superar os de Bayonetta em termos de exagero. Sério, eu também achei que isso seria impossível.
Porém, por mais semelhanças que W101 guarde com relação principalmente a Bayonetta, existe algo que distingue bem os dois jogos, que é o tipo de humor. Enquanto a bruxa umbral fazia muito mais a linha badass, com algum toque dramático aqui e acolá, W101 apesar de manter o drama em partes chave da história, segue bem mais a linha de comédia pastelão, explorando muito personalidades extremamente estereotipadas, que lembram sabem o que? Os personagens de super sentai! São muitas piadinhas tanto no texto quanto visuais mesmo, como personagens cansados de esperar uma pausa para que o narrador conte algo, ou objetos inanimados ficando cansados, mas sem necessariamente apelar para algo bobo e literalmente infantil.
Aliás, apesar do visual, que não é dos mais bonitos do Wii U, esse jogo, acredito eu, não tem um apelo tão grande com crianças. Primeiro que ele as vezes ele perde a mão em algumas piadas, que definitivamente são para adultos. Aliás, vale ressaltar que todas as personagens femininas são extremamente sexualizadas. Isoladamente esses fatores são até ok, mas no contexto do jogo fica meio deslocado.
Outra coisa que talvez afugente os mais novos é a dificuldade. Aqui eu abandonei completamente qualquer tentativa de troféus de platina e, os prêmios de consolação, equivalentes aos troféus de pedra de Bayonetta, foram uma constante durante o jogo inteiro. Felizmente ele consegue lidar bem com essa dificuldade e não é em nenhum momento excessivamente punitivo. Mesmo assim, se não quer algo tão pesado, saiba que o nível normal não é beeeeeem normal assim, he he he.
Mas não dá para dizer que esse jogo é perfeito e, algumas coisas me trouxeram um outro tipo de dificuldade. Por exemplo, como ele lida com muitos personagens simultaneamente na tela, as vezes tudo se torna meio confuso e alguns segundos são perdidos até que você meio que se localize, o suficiente para levar uma porrada certeira de algum inimigo mais forte. Felizmente, nada de quedas de quadros, o jogo se mantém bem firme nesse sentido.
Outro ponto é que as vezes o design das fases é meio confuso e, volta e meia rolava aquele sentimento de "onde eu estou? para onde eu vou?". No meu caso, não chegou a ser algo catastrófico ao ponto de ficar horas perdido, mas foi um incômodo de alguns minutos em partes do jogo. Também incomoda um bocado quando você entra em alguma área fechada e todo o jogo passa para a segunda tela, com o controle da câmera através do giroscópio, fazendo de tudo uma grande confusão. As vezes você precisa girar o GamePad praticamente inteiro para conseguir um bom ângulo e ainda bem que felizmente esse recurso é pouco utilizado.
Da jogabilidade, muito pouco a reclamar. Se você viu alguém falando que o GamePad não detecta os desenhos direito, esqueçam, desculpa esfarrapada. O que acontece é que de fato alguns deles são parecidos e aí dependendo da sua coordenação motora ou desespero na hora de fazer o desenho, pode sair errado mesmo, o que é bobagem, já que o jogo meio que dá uma desacelerada, quase uma pausa, enquanto você faz isso. Mas a cagada mesmo, foi que eles colocaram alguns botões na tela de toque do controle, como acesso aos itens e membros da sua equipe e, como depois de um tempo você acaba acostumando a fazer os desenhos sem olhar para a tela, não é incomum você ver na televisão tudo dando errado, para logo em seguida perceber que entrou em um menu sem querer. E se você está pensando em jogar sem a tela de toque, péssima ideia: até é possível, o segundo analógico fica a cargo de fazer os comandos de transformações, mas alguns são meio complexos e acaba sendo um parto qualquer coisa que não seja uma linha reta.
Não vou ficar me alongando muito aqui, porque acho que W101 é um jogo muito melhor entendido quando se joga. Se você tem um Wii U e está na dúvida, há uma demo dele na eShop, que ajuda a ter uma boa noção das mecânicas mais básicas. Porém não se engane: o jogo vai muito além de mecânicas. Apesar da parte final ser excessivamente longa, fazia tempos que não zerava um jogo com tanto gosto e vibrava tanto por matar um chefão. A forma como narrativa e jogabilidade são conduzidas é perfeita.
Então o que estão esperando? Alienígenas estão invadindo a Terra e você aqui fuçando na internet? Pegue a sua máscara de transformação, grite o seu nome de guerra e Vão Jogar!!
The Wonderful 101 é uma grande homenagem aos tokusatsus, com uma narrativa empolgante e bem humorada. A ideia de controlar um grupo ao invés de um único personagem parece estranha a princípio, mas funciona muito bem e cria um bom diferencial para o gênero de hack ’n’ slash. Existem alguns tropeços em relação a interface e ritmo, mas não o suficiente para estragar a experiência do jogador. Avaliado noWii U (entenda o nosso sistema de notas)
Apesar de serem muitos personagens controlados ao mesmo tempo, me parece que é só uma questão mais visual mesmo né? Pelo próprio vídeo eu notei que o "enxame" de bonequinhos lança um só ataque, como uma combinação de poderes de todo mundo. É bacana esse lance, apesar de imaginar algumas coisas bem bizarras visto o que pode sair da combinação de 100 bonequinhos de uma só vez! Haha!
E eu iria morrer sem saber o que diacho é "tokusatsu do gênero super sentai". Eu nunca nem parei pra categorizar essa séries! Acho que nunca precisei, na verdade...
Sim, tanto que no começo rola uma certa confusão, porque você fica tentando focar no líder e a câmera é bem afastada. Depois que você passa a visualizar todo mundo como uma coisa só, facilita. A maior diferença é que o grupo pode ser atingido parcialmente pelos ataques inimigos, enquanto a outra parte segue inteira.
Cara, eu também não sabia dessas categorias até pouco tempo atrás, tanto que para escrever esse texto até dei uma pesquisada para não falar besteira, rzs.
Bom, pra começar, eu tinha uma ideia do que era Tokusatsu, mas não sabia que tinha toda uma classificação dentro disso, huahua! Tchula, também é cultura.
Quanto ao jogo, eu tive a mesma sensação de que tudo parece muito confuso com tantos personagens na tela, mas acho que, como o Tchula falou, dá pra se acostumar pelo fato de todos agirem em um mesmo propósito. E que bom que não tem quedas de quadros, porque isso ia ser foda durante toda a jogatina...
Enfim, mais um jogo que parece muito bacana, mas que eu só devo jogar quando for pelas bandas de MG tomar umas cervejas pra incorporar o WonderBeer, huahua!
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