Apesar de sempre preferir dar um clima mais descontraído nos escritos aqui, tem assuntos que me incomodam demais pra permitir isso. Bem, lendo algumas notícias e matérias sobre jogos nos últimos tempos comecei a refletir sobre como as coisas mudaram de uns tempos para cá. Não quero dizer de gráficos, controles e afins, afinal isso são evoluções naturais e sim do comportamento de toda a indústria e dos próprios jogadores.
Jogos de um modo geral já fazem parte da nossa vida muito antes da primeira máquina de Pong ter sido colocada em um bar, indo do xadrez ao futebol a variedade sempre foi grande, então pra febre dos jogos eletrônicos se espalhar não foi lá muito difícil, mesmo com os primeiros jogos tendo sido muito simples. Quando um console novo saia tinhamos basicamente os mesmos jogos com melhorias, pois além da evolução tecnológica muitos problemas eram corrigidos, como se cada versão fosse um beta da próxima. A partir da era 8-bits a coisa já tomava uma forma muito mais definida e os jogos agoram já eram mais completos, permitindo não só recursos técnicos melhores como também narrativa e jogabilidade mais refinada. A concorrência também ficou maior e não permitia muitos deslizes, os jogos deveriam ser perfeitos ou então se corria um sério risco de ter um galpão cheio de cartuchos, histórias como a do jogo E.T. para o saudoso Atari 2600 eram coisas fora de questão. Por este mercado cruel muitas foram as empresas que nasceram para logo em seguida caierem no limbo.
Havia também uma necessidade dos produtores de colocar todas as suas idéias no jogo, já que além da produção antes ser bem mais complicada, uma vez lançado não dava mais pra consertar ou incluir novas coisas, e assim tinhamos casos como os de Street Fighter II e Mortal Kombat 3 e seus derivados, que não passavam de atualizações dos originais. Isso era razoávelmente aceitável, mas ainda sim incômodo, principalmente para quem comprava a primeira versão e se via obrigado a comprar o mesmo jogo novamente por conta de alguns extras. Mas havia uma plataforma que tinha uma solução para isso: os computadores e seus famosos patches, se tinha algum problema no jogo ou tinha ficado faltando algo, bastava liberar um arquivinho que tudo estava resolvido. O problema começou quando as empresas passaram a ficar preguiçosas, e não era incomum um jogo recém lançado cheio de bugs vir acompanhado quase que instantaneamente do arquivinho milagroso. Mas não culpem os programadores por isso, prazos apertados e datas de lançamento geralmente são os vilões desta história. Mas os patches evoluiram, e com o tempo não apenas correções eram oferecidas, mas trechos inteiros eram acrescentados nos jogos, as famosas expansões. Era algo ótimo, pois quando você já havia terminado e enjoado do jogo os caras iam lá e criavam uma área novinha naquele mundo pra vocẽ aproveitar, além de ter um custo bem reduzido em relação ao jogo completo.
Nos consoles a coisa demorou chegar neste ponto, e ainda continuavamos no velho esquema de versões e remakes, e foi somente nesta geração com a chegada real da internet nos consoles (os seguistas que me perdoem) que pudemos ter acesso a este tipo de recurso. Só que os computadores não haviam ficado parados esse tempo todo e a coisa já havia crescido bem mais, e além de patches e expansões, tinhamos gigantescas atualizações e até mesmo sistemas de contas pagas, como é o caso dos MMORPGs, e tudo isso foi transportado para os consoles, que agora também já pareciam bem mais com computadores, tendo além do acesso a internet poderosos processadores e enormes hds. Com todos estes fatores, surgiu um item importante na geração atual: o DLC (Downloadable Content). Os DLCs seguem a mesma idéia básica das expansões, mas nem sempre trazem um conteúdo tão amplo, muitas vezes trazendo apenas pequenas firulas como roupas e cores novas para os personagens, normalmente a preços pequenos o suficiente para atrair a atenção do jogador. Até ae não há problema algum, já que as empresas sempre vão buscar novas forma de lucro e tal, e se tem gente que está disposto a pagar, porque não fazê-lo? Mas ae começou a putaria, como conteúdo que já estava presente nos discos sendo bloqueados e liberados via DLC, obviamente de forma a parecer que você realmente estava baixando um conteúdo extra. Se a idéia inicial era ampliar a vida de um jogo depois de um certo tempo, agora passou a ser uma forma das empresas lucrarem várias vezes em cima de um recém lançado, sendo comum sair jogo e DLC simultâneamente. Ae minha primeira pergunta, se já há conteúdo pronto porque não liberar junto com o jogo? Afinal, não deu tempo de ninguém enjoar ainda pra precisar de um conteúdo extra e esse é que deveria ser o real propósito do DLC, prologar a "vida útil" de um jogo.
Mas quando a felédaputagem parecia estar atingindo o seu ápice, vem a nossa querida, amada e mercenária Capcom e nos apronta essa: uns poucos meses após lançar o por anos aguardado Marvel Vs. Capcom 3, cheio dos itens e personagens pra comprar via DLC, ela resolve lançar Ultimate Marvel Vs. Capcom 3. Isso mesmo, um jogo novinho com todos os itens do anterior e mais um pouco pra fazer todo mundo que comprou o primeiro se contorcer de ódio. Mas isso não é nenhuma novidade, já que ela havia feito a mesma coisa com Street Fighter IV lançando Super Street Fighter IV. Porra Capcom, nos anos 90 isso colava, mas hoje em dia lançar o mesmo jogo duas vezes só pra falar que é mais completo? A vaselina vem de brinde pelo menos né? E incorporando a alcunha preferida da empresa em seus jogos, lembram do lance dos saves em Resident Evil Mercenaries para o Nintendo 3DS? Um jogo que não permite apagar os saves, numa clara tentativa forçada de fazer todo mundo comprar o jogo novo ao invés de usado. Claro que a empresa negou isso, fez mil declarações tentando corrigir a cagada, mas isso também não cola né Capcom?
Pra não falar que eu to de perseguição com a casa do Mega Man, que tal a novidade da Square Enix agora: pra poder jogar Dragon Quest X (Wii) completo vai ter que ser online, e com direito a pagar mensalidade. Não seria nada absurdo visto que grande parte dos MMORPGs são assim se não fosse por um detalhe: Dragon Questnunca foi um MMORPG! Aliás pelo que eu ando lendo o que teremos é basicamente os NPCs do jogo substituídos por avataresonline das pessoas conectadas. Por favor, alguém venha aqui e diga que eu estou falando merda, que Dragon Quest X será pura e simplesmente um MMORPG mesmo, que apesar de estranho seria pelo menos aceitável.
Querem mais? Lembram do último Assassins Creed para PC e sua obrigatoriedade de conexão com a internet para um jogo que não é online? Claro, tudo fazia parte de um sistema anti-pirataria... que só avacalhou quem comprou o original e que não impediu hora nenhuma que todo mundo que quisesse fosse no tracker mais próximo, baixasse o jogo e jogasse sem precisar de conexão com internet em nenhum momento. Isso quer dizer que seguindo totalmente a contra-mão da lógica, era mais vantajoso jogar o pirata do que o original.
O que dizer então das tentativas sistemáticas das empresas de acabar com o mercado de jogos usados? Passamos de seriais que só funcionam um número limitado de vezes até a morte lenta e gradual da mídia física. E o que está acontecendo? Pessoas que antes faziam questão de comprar jogos originais, mesmo que usados estão cada vez mais preferindo entupir um cartão SD e tocando um foda-se para as empresas. Não é incomum jogadores da minha idade para cima reclamarem que os jogos de hoje não são tão divertidos como os de antigamente, mas com tanta zona que há no mercado atual não tem como tirar a razão de quem reclama. Pra quem veio de uma época em que o máximo de dificuldade em iniciar um jogo era ter que soprar um cartucho, não tem como não ficar injuriado com o cenário atual, mas o pior de tudo é ver que o grande vilão da história somos nós, jogadores.
No caso do Ultimate Marvel Vs. Capcom 3 por exemplo, eu vi um monte de gente injuriada metendo o pau na Capcom pelo twitter e o escambau, mas quando o jogo sai sabe o que acontece? Alguém vai lá, fala que o jogo é muito foda, que tem todos os personagens, mais dez cores de roupa, mais golpes e etc. e ae todo mundo que xingou vai lá e compra o jogo. Falar que vai boicotar empresa é fácil, mas deixar de jogar ninguém consegue, as empresas sabem disso e ae não enxegam motivos pra deixar de fazer essas sacanagens, afinal a galera tá comprando cada vez mais, o lucro está aumentando, pra que parar? Acharam a mina de ouro na internet, aonde ao invés de tentar dar uma grande facada no bolso do consumidor, que não costuma aceitar este tipo de coisa, resolveu tirar a grana aos pouquinhos, de modo que as pessoas nem sintam a dor. Fora que em países como o Brasil a galera arreia as calça e empina a bunda mesmo, console chega aqui custando cinco salários mínimos e todo mundo compra feliz e satisfeito. Dessa forma fica praticamente impossível acabar com a pirataria, porque quem não aceita essas picaretagens não vê motivos para dar moral aos produtores, isso quando quando não acontece de certos jogos nem chegarem ao mercado oficial mesmo com milhares de jogadores pedindo, como é o caso de alguns RPGs orientais do Wii. Os jogadores chegaram e falaram "peguem nossa grana, nós só queremos os jogos" e a Nintendo respondeu "Vão se fuder, não me encham o saco!", então a pirataria vira a única forma de se jogar.
A verdade é que está cada vez mais difícil se manter na atual geração sem se sentir constantemente lesado pelas grandes empresas de jogos eletrônicos. As alternativas restantes ou envolvem pirataria ou abandono total de jogos modernos, não sendo difícil imaginar porque a cena retrogamer vem ganhando tanta força nos últimos tempos, eu mesmo estou mais interessado em investir em jogos para os meus consoles antigos do que comprar um novo, e olha que eu fiquei empolgadão quando o Wii U foi anunciado. Mas enquanto a maior parte dos jogadores continuar se sujeitando aos mandos e desmandos das produtoras sem fazer porra nenhuma a situação irá continuar a mesma, ou até mesmo piorar. E vocês, o que acham de tudo isso? Ou melhor, o que pensam em fazer a respeito?
* Revisado em 08/01/2013 às 00:14:18
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