A célebre exposição vem sofrendo ao longo dos anos com as mudanças rápidas pelas quais a indústria vem passando, em que empresas não precisam mais de um palco físico para fazer os seus anúncios, uma vez que os palcos virtuais são muito mais acessíveis. Nós já a sentenciamos a morte em diversas ocasiões, mas ainda que de maneira lenta, ela resiste e se adapta a esses novos tempos. Não importa qual seja sua opinião a respeito, as empresas ainda investem na feira e nós ainda ficamos ansiosos com a sua chegada.
Este ano porém havia um misto de acontecimentos e possibilidades que tornou difícil saber onde mirar as expectativas. Uma nova geração de consoles, encabeçadas por Sony e Microsoft, já é visível no horizonte, e com ela todo uma nova leva de jogos que terão um novo campo aberto para explorar. Por outro lado, a própria Sony se reservou no direito de não participar do evento, muito por não ter o que mostrar. Não se enganem, não é que a empresa não esteja fazendo nada, é simplesmente uma questão de ainda não ser o momento. De qualquer forma, baseado em exemplos passado, em algum nível todos esperávamos que muitos jogos fossem anunciados, ainda que em fase de desenvolvimento, para que um primeiro olhar sobre essa tal nova geração fosse dado. Bem, isso não aconteceu, ao menos não em um nível que atendesse tal expectativa.
Para muitos o clima de decepção imperou, e a cada conferência vazia de novidades, coisas interessantes e até mesmo gameplay, salvo uma coisa aqui e outra acolá, a conta do excesso de expectativa aumentava, e nem um Keanu Reeves ou Ikumi Nakamura são capazes de bater o monstro da expectativa. Muitos alegam que essa edição foi a mais fraca em muito tempo, mas a verdade é que mais uma vez nos deixamos iludir por promessas que nunca foram feitas. O vazio deste ano é bem compreensível e já dava sinais antecipados muito mais consistentes do que os nossos sonhos.
O anúncio da geração anterior teve tropeços de todos os lados. Quem não se lembra das promessas de competitividade da Nintendo com o Wii U, e a dificuldade da Microsoft em fazer os jogadores entenderem o conceito por trás do Xbox One? A Sony se saiu melhor da situação, mas simplesmente por uma questão de ordem de apresentação, com uma rápida adaptação de sua mensagem frente ao desagrado do público com o anúncio da concorrente. E quem diria que no fundo, boa parte daquilo que todo mundo criticou na Microsoft de 2013 é o que se tornou norma do mercado? Mas nós jogadores somos muito reativos e passionais, então no final a primeira impressão é a que fica, e as empresas parecem ter aprendido a lição.
Sony e Microsoft fizeram agora seus anúncios inicias da nova geração de forma genérica e idêntica. Ninguém quer tropeçar ao dizer algo que desagrade os jogadores ou desenvolvedores, ninguém quer entregar o ouro a concorrente antes da hora. E isso reflete diretamente nos anúncios dos jogos, afinal, quem quer repetir o anúncio do primeiro Watch_Dogs? Quem tem coragem de jogar com cartas ainda desconhecidas? Então o que sobra são consoles que ainda tem muito potencial para bons jogos, mas que não acompanham mais a sanha pelo "maior e melhor" que o mercado impõe. O resultado é que poucos títulos seguem tendo espaço de mercado na geração atual.
Um bom contraponto a isso e que ilustra bem a situação foi a apresentação da Nintendo. Apesar dos tropeços passados, a empresa encontrou uma posição confortável em que ela não precisa disputar diretamente com mais ninguém. Ela não precisa seguir a lógica de mais e mais hardware, e tem o seu aparelho atual, o Switch, confortavelmente consolidado. Sem toda essa pressão, a empresa foi a única que conseguiu fazer uma apresentação inteira dedicada a títulos importantes, a maioria com datas de lançamento próximas e com demonstrações de gameplay já disponíveis. Não é que os jogos dela sejam melhores que os das outras, até porque isso é subjetivo, mas é que esse é um luxo que só quem está correndo por fora da disputa poderia se dar nesse momento. Não há muito espaço para expectativa infundada quando a maior parte das suas cartas já estão na mesa.
Então não se desespere com o anúncio não feito e os jogos não mostrados. Eles existem, só não é o momento que as empresas julgam ideal para mostrar. A internet hoje permite que anúncios sejam feitos a qualquer momento, sem que tenhamos que ficar alimentado a máquina do hype criada pela indústria de maneira indiscriminada para um momento específico do ano. Esperar por uma E3 e seus anúncios é legal, mas não nos tornemos mais reféns das nossas próprias expectativas, ou das que o mercado nos impõe.
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