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Brasil Game Show 2015: Os independentes

Um pouco sobre os estúdios independentes na BGS 2015.

autor Rafael "Tchulanguero" Paes   datahora 16/10/2015 às 12:17:37   tagarelices 8

Um pouco sobre os estúdios independentes na BGS 2015.


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Como eu havia dito no meu último texto sobre a BGS 2015, a ala indie além de ter recebido um movimento bacana, teve um espaço dedicado a apresentações dos desenvolvedores na forma de apresentações mais informais, o Indie Meeting. Como eu estive sozinho por lá, ficou impossível de acompanhar todos, mas consegui ver algumas coisas bem interessantes.
 
Trabalho Livre & Infância Livre

O primeiro bate-papo que participei foi com o desenvolvedor Rodrigo Motta, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas - FACISA, que faz parte de um projeto não-comercial em conjunto com o Ministério Público do Trabalho de Campina Grande (PB), desenvolvendo jogos educativos sobre trabalho escravo e infantil, os jogos Trabalho Livre e Infância Livre, que podem ser jogados gratuitamente nos respectivos sites (link nos nomes). Apesar do título de "jogo educativo", esqueça a visão tradicional que se tem sobre o gênero, os jogos tem uma pegada bem ao estilo de RPGs de ação da era 16-bit, com vários diálogos.



Rodrigo contou como durante o início desenvolvimento eles resolveram focar mais no público infanto-juvenil, por terem percebido que o impacto dos temas era muito maior neles do que nos adultos, uma vez que as crianças se questionam muito mais respeito, até por elas serem o tema central na premissa dos jogos.

Por ser um jogo que busca informar através de um meio de entretenimento, e sobre algo que infelizmente acontece muito ainda no Brasil, foi interessante também ouvir as histórias de como durante a fase de pesquisa e coleta de relatos, houve um grande impacto na equipe de desenvolvimento devido ao peso do tema. No entanto, isso dá um valor maior ao jogo, uma vez que tudo que está ali foi baseado em situações reais. Diferente de outros jogos também, os personagens não são pessoas excepcionais ou super-poderosas, são pessoas comuns, de modo a criar uma ligação ainda maior com o jogador e também com a realidade.

Rodrigo Motta
Rodrigo Motta

Puxando um pouco mais para a parte técnica, Rodrigo explicou como funciona o desenvolvimento dos jogos (ambos continuam recebendo conteúdo adicional todo mês), que é feito pelos estudantes (bolsistas) da faculdade, que ganham principalmente em conhecimento técnico, além de "conhecimento humano" por conta do tema, mas sempre coordenados por uma equipe principal. Também falou um pouco de como ele acha importante que um jogo passe uma mensagem e não tenha simplesmente uma jogabilidade vazia, que ambos devem se complementar para que tudo se torne interessante.
 
Kriaturaz

Da paulista Messier - Games & Animations, o meu (outro) xará, Rafael Rossetti, apresentou o jogo Kriaturaz, que trás uma visão atualizada do folclore da mitologia brasileira, em uma espécie de RPG meio Pokémon para dispositivos móveis, com variações entre as plataformas (algo muito importante segundo o próprio Rafael), e que está sendo financiado com o auxílio da Lei Rouanet, previsto para ser lançado no ano que vem.

Rafael contou muito a respeito do desenvolvimento do jogo, em como eles acabaram optando por utilizar a engine Unity em detrimento da Unreal, pela facilidade no desenvolvimento, comunidade mais ativa e melhor integração entre mídias.

O tema foi escolhido por a equipe querer utilizar o jogo além de uma forma de entretenimento, mas também como forma de aprendizado histórico. Embora a princípio tenham havido algumas dificuldades em tornar o tema interessante, após a pesquisa da lenda do Boitatá, uma cobra de olhos luminosos que habita as florestas, começaram a surgir as ideias de ampliação dos mitos brasileiros, explicando melhor como eles são, tornando-os equivalentes aos seres fantásticos de outras mitologias.

Rafael Rossetti
Rafael Rossetti

Mas Rafael não se focou apenas em seu jogo, e falou muito a respeito do mercado de desenvolvimento independente, de como apesar de nós já sermos o quarto maior mercado consumidor de jogos, ainda somos o décimo primeiro em desenvolvimento, e que fazer coisas direcionadas para o país ainda não é lá muito rentável, até por conta de questões culturais, como a de que os brasileiros não gostam muito de pagar por jogos, o que torna um ambiente melhor para testes do que para ganhar dinheiro. Também foi mencionada a questão da crise econômica pela qual o país passa, mas como vivemos em um mundo globalizado, não há motivos para ter que focar especificamente no Brasil, sendo que os mercados da Ásia no momento são muito mais interessantes (e onde a Messier mira no momento através de parceiros locais), com um crescimento absurdo.

Para os aspirantes a desenvolvedores de jogos, também foi uma conversa muito interessante. Rafael falou da importância de um bom planejamento e criação de conceitos antes da fase de captação de um jogo, para só então iniciar o desenvolvimento, uma receita não muito seguida pelos brasileiros, que passam por muitas dificuldades devido a certos erros e vícios cometidos, principalmente os iniciantes. Também comentou sobre a falta de mão de obra qualificada no país, mas de como as vezes pessoas de outras áreas acabam entrando nesse mundo, como o historiador e antropólogo Wilson Oliveira, diretor do jogo.

Rafael Rossetti & Wilson Oliveira
Wilson Oliveira & Rafael Rossetti

Kriaturaz também contava com um dos estantes mais bonitos e chamativos da BGS, onde era possível jogar uma versão especial do jogo através do Twitter, as pessoas podiam mandar comandos para uma luta entre o Saci e a Cuca apenas usando a hashtag #MessierGames.

Apesar dessa ter sido uma versão desenvolvida especialmente para a feira, Rafael não descarta a possibilidade de no futuro haver uma versão baseada nesse tipo de interatividade.

Caduco no estande da Messier
Gamer Caduco, Booth Babe do VJ! na BGS 2015, no estande da Messier

O projeto é ambicioso. A Messier quer através de Kriaturaz, tornar os mitos brasileiros conhecidos lá fora, para no futuro criar um universo mais vasto, unindo as várias mitologias.
 
Max Quiz

Eu confesso que só comecei a assistir esse bate-papo por ter acontecido logo em seguida de Kriaturaz, e porque eu estava esperando o Marvox, mas acabou sendo uma grata surpresa, o que mais me chamou a atenção foi a história de desenvolvimento desse jogo.

A Maxlab Studios foi criada pelo casal Glauber e Camila, e a história dos dois remonta os tempos de Orkut, onde eles já haviam conseguido bons resultados desenvolvendo aplicativos para a finada rede social. Com o fim da rede, e por consequência de parte da renda, o casal se viu tendo que optar entre migrar para o Facebook, sob o risco de passar pelo mesmo processo no futuro, ou encarar um desenvolvimento mais livre de plataformas, no caso o mobile, que foi o que acabou acontecendo. Sem maiores conhecimentos técnicos, os dois encararam a missão, estudaram bastante e chegaram até mesmo a largar o seus empregos para se dedicar totalmente ao jogo.

Glauber, da Maxlab Studios
Glauber, da Maxlab Studios

Max Quiz é um jogo de perguntas e respostas, com animações em 3D e sistemas de rankings semanais, com uma sacada bem interessante, pois tem sua base de dados alimentada constantemente de forma colaborativa, com o auxílio da Wikipédia para direcionar melhor os temas, para que as pessoas não comecem a incluir informações esdruxulas demais. Aliás, mais um ponto para o Unity, engine utilizada no jogo, que também usa tecnologias como Blender para modelagem e SQL Server como banco de dados.

Max Quiz

O jogo já se encontra disponível para Android (gratuito + microtransações), e em breve contará com versões para iOS e Windows Phone.
 
Aritana E A Pena Da Harpia

Já fora do Indie Meeting, eu e o Marvox (Marvox Brasil e QuadNation) batemos um papo com o Vitor Ottoni no estande da Duaki, designer de som do jogo Aritana e a Pena da Harpia, que ganhou recentemente uma versão para Xbox One.

Tchulanguero, Marvox e Vitor Ottoni
Eu, Marvox e Vitor Ottoni

Vitor nos contou de como tanto Sony quanto Microsoft ofereceram várias vantagens para a publicação em suas respectivas plataformas, e que a decisão de ir para a Microsoft fui puramente preferencial. Também nos falou de como o jogo não foi muito bem no Steam, e como o desempenho no Xbox One está sendo muito melhor, mesmo ainda só tendo sido lançado nos mercados brasileiro e americano.

Claro que eu aproveitei para jogar um pouquinho desse jogo, que pasmem, eu não havia colocado as mãos até agora. A versão de Xbox One além de ter gráficos mais bonitos (e muito bonitos mesmo), também teve a primeira fase, que serve como tutorial, remodelada.

Confesso que no começo fiquei um pouco confuso com os controles, que não são iguais a grande parte dos jogos de plataforma tradicionais. Os movimentos de ataque são todos feitos com o segundo analógico, e conforme se avança no jogo, novas habilidades são desbloqueadas, e mais movimentos ficam disponíveis. Depois que se pega o jeito, fica um jogo muito gostoso de jogar. Ele tem um "Q" dos Donkey Kongs clássicos e o recente Guacamelee, onde boa parte da jogabilidade se baseia em utilizar os movimentos para alcançar plataformas e utilizar os inimigos para avançar pelas fases. E eu adoro esse tipo de jogo, com certeza farei um esforço para jogá-lo completo em breve.

---

Sim, não foram muitos os jogos e desenvolvedores indies que eu consegui dar atenção na BGS, mas do pouco que consegui acompanhar achei que foi um dos pontos altos da feira, ao menos para mim. Claro que conforme eu conseguir jogar com mais calma os jogos citados (ou eles forem lançados), podem ter certeza que eu escreverei mais sobre eles. Mas olhem só, nesse texto já tem três disponíveis na faixa para vocês experimentarem, então o que estão esperando? Vão Jogar!

* Revisado em 19/11/2016 às 02:22:48

outras tags: Messier Games & Animations

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  • avatar de thr2e
    thr2e
    16/10/2015 às 15:02:15   localizacao Campos do Jordão
    MAOE, a area indie realmente estava bem movimentada, gostei muito dessa atenção que deu e como citou o Indie Meeting, eu sequer tive tempo de passar lá, mas dei a volta na area indie e joguei quase todos os games possiveis.
    Sobre Aritana eu jogo no PC e um dos pontos mais tristes no inicio do jogo ali no Steam era o problema com a configuração do gamepad e isso não mudou até agora, é bem confuso e trabalhoso configurar, querendo ou não isso afasta algumas pessoas. No entanto é um titulo excelente e desafiador, o cenário nacional tem mostrado muita coisa criativa e mrs Tchulanguero jogue todos os games e tagarele sobre eles aew

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/11/2015 às 13:33:09   localizacao Vespasiano - MG
      Pois é, então faz sentido o Aritana ter se dado melhor nos consoles, já que não tem esse problema do controle. E pode deixar, eventualmente eu falarei desses jogos, abraço!

    Responda!
  • O Brasil desestimula qualquer projeto nessa área, tem que ser muito turrão pra criar um simples jogo oldschool.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/11/2015 às 13:34:53   localizacao Vespasiano - MG
      Não é fácil mesmo, mas se não tiver essa galera turrona, como você disse, não vai para frente mesmo. Eu acho que é questão de tempo.

    Responda!
  • avatar de Ulisses 8Bit
    Ulisses 8Bit
    17/10/2015 às 13:23:19   localizacao Curitiba - PR
    O grande desafio dos jogos indies no Brasil é manter a integridade de ideias sem se vender a órgãos do governo e ao mesmo tempo produzir algo universal, evitando cair em cacoetes de ordem cultural local.

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/11/2015 às 13:37:04   localizacao Vespasiano - MG
      O que seria "se vender a órgãos do governo"?

      Sobre essa questão de universalidade, depende muito do objetivo do projeto. Financeiramente é complicado fazer algo regional, mas não se esqueça que nem todo projeto tem como objetivo o lucro, como é o caso do Trabalho Livre & Infância Livre, e isso não os faz inferior ou melhor que outros jogos.

    Responda!
  • avatar de Gamer Caduco
    Gamer Caduco
    31/10/2015 às 16:43:59   localizacao SP
    Primeira pergunta: "jogo educativo" é 18+? kkkkkkkkkkk
    Tá, sacanagens a parte, vc fez o que eu deveria ter feito... shame on me! Ainda bem que vc pelo menos fez o dever de casa!
    Pior que as palestras aparentemente mencionaram tudo que eu queria escutar na BGS ao conversar com os indepententes... obrigado por descrever tudo isso "pra nóis".
    E de nada por emprestar minha linda aparência como Booth Babe do VJ!... pelo menos servi pra alguma coisa (além de encher o Twitter de voadoras de duas pernas do Saci na Cuca). Vão Babear!
    Fica aqui o elogio a todas empresas pelas ideias. Jogos educativos, tentar transformar nossa cultura em algo épico e Quiz de conhecimentos gerais são grandes iniciativas. Sempre serão.
    Aritana eu devia ter jogado, vacilei nesse ponto também. Eu sou um mané! Com M maiúsculo (leia com voz de Mamonas Assassinas). Mas lançar no équisbóquisuam foi sacanagem, eu não pretendo ter a plataforma em casa... kkk
    Chega! Vão Codificar!

    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      19/11/2015 às 13:39:48   localizacao Vespasiano - MG
      Pode ser também... eu acho, hwa hwa hwa.

      Cara, esses bate-papos para mim foi o que salvou boa parte da BGS, não fosse isso teria sido um saco.

      Rzs, Both Mané! :P

      Aritana em algum momento eu tentarei jogar no PC mesmo, também não vou comprar XOne (nem console nenhum) tão cedo.

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