Desde o surgimento da versão moderna da série de espionagem, com Metal Gear Solid no primeiro PlayStation, uma série de fãs vem se formando ao longo dos anos em todo o mundo, inclusive no Brasil, que tem no jogo e no primeiro console da Sony um apreço muito grande. Não é por menos que praticamente qualquer jogador médio atualmente irá reconhecer minimamente a saga de Solid Snake.
Como resultado, não é inesperado que a vinda de Hideo Kojima ao país para a décima edição da Brasil Game Show esteja mexendo tanto com a comunidade de jogadores brasileiros. Prevendo o grande volume de pessoas que irão querer ver de perto o game designer, a organização do evento limitou o número de participantes para a maioria das apresentações, que irão ocorrer em Outubro. E uma delas em especial com certeza será o ápice de toda a celebração: a entrega do prêmio "Lifetime Achievement Award", uma homenagem aos anos de contribuição de Kojima à indústria dos jogos.
O concurso
Apesar de diversas outras atrações internacionais de peso, como Nolan Bushnell, a organização da Brasil Game Show está claramente direcionando todos os seus esforços para a presença de Kojima. E em uma forma simples de chamar ainda mais a atenção do público, no princípio da semana passada (17) ela resolveu criar um concurso simples, onde o vencedor terá a honra de entregar o prêmio ao game designer. Basta postar uma foto no Twitter com a hashtag #KojimaNaBGS, e quem obter o maior número de curtidas até o final do mês de Setembro, vence. Nenhuma outra regra foi exigida, sendo implícito que cada participante deverá recorrer ao que estiver ao seu alcance para divulgar o seu tweet e conseguir as curtidas. É um método bem simples utilizado nas redes sociais com bastante frequência, que visa muito mais atrair a atenção do público do que reconhecer algum mérito específico no vencedor.
Obviamente várias pessoas começar a postar as suas fotos com a hashtag, pedindo para todos os conhecidos possíveis que curtam a sua publicação, e uma dessas pessoas foi a cosplayer Laura Pyon (nome artístico), que fez a publicação de um desenho em que ela vestida da personagem Quiet de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, recebe um autógrafo de Hideo Kojima em sua figure de Tokimeki Memorial, uma série de jogos estilo dating sim da Konami, que recebeu três visual novels produzidas pelo game designer para o primeiro PlayStation e Sega Saturn.
Para ajudar a promover a sua publicação, Laura fez um post prometendo um set de fotos para todos aqueles que curtissem a sua participação. Com isso uma série de ataques de fãs da série Metal Gear foram feitos a cosplayer, alegando que ela estava "comprando votos com nudes", uma vez que Laura é especializada em cosplay sensual, embora não erótico. "Quando eu entrei no concurso eu só postei falando que faria um ensaio com cosplay de Quiet e que dividiria com quem votasse. Só que esse tweet foi denunciado como spam e não ficou online quase nada. Os ataques contra mim começaram inclusive antes desse tweet. Eu ganhei bastante like a princípio porque eu tenho uma pagina com 30 mil seguidores e alguns amigos famosinhos compartilharam minha publicação", contou Laura em conversa com o Vão Jogar!. "Do nada uma galera começou a mentir falando que eu estava trocando nudes por voto, e nem em primeiro lugar eu estava. Eu não era a unica cosplayer ali, mas os ataques de quem não gosta de cosplayer vieram direcionados para mim, vieram direcionados porque eu trabalho com foto sensual. Eu nunca postei foto que não se enquadrasse nas regras das redes sociais, meu material é para maiores de 16 anos, mas eu só vendo para maiores de 18", complementou.
Eu não era a unica cosplayer ali, mas os ataques de quem não gosta de cosplayer vieram direcionados para mim, vieram direcionados porque eu trabalho com foto sensual. - Laura Pyon
A grupo Metal Gear Legacy Brasil
Os ataques se originaram do grupo de Facebook Metal Gear Legacy Brasil, em um post que clamava para que seus membros não permitissem que youtubers ou cosplayers vencessem a competição, uma vez que os mesmos não seriam "fãs de verdade" e portanto, não merecedores da honraria. A discussão, repleta de ofensas às categorias e a própria Laura, chegou a incluir menções a sequestro e ameaças de vazamentos de fotos íntimas da mesma. "Falaram que sou cosputa, thot e que farmo punheteiro nas redes. Falaram que iriam expor nude meu, que me procurariam no evento para me dar "um jeito", que me sequestrariam", desabafou Laura. Uma vez que o grupo é privado, tudo teria ficado oculto não fosse uma amiga da cosplayer que também era participante, que fez imagens da conversa e postou no Facebook, recebendo ampla divulgação na rede social por outras páginas e usuários.
Sérgio Luiz, então administrador do grupo, fã da série Metal Gear Solid e participante preferido entre os outros membros para o concurso, que foi quem iniciou o post que gerou todo o acontecimento, também em conversa com o Vão Jogar!, alegou que as pessoas interpretaram erroneamente o que foi dito no grupo. "Como haviam dito em postagens anteriores lá no grupo Metal Gear Legacy Brasil, havia muita chance de pessoas com muitos seguidores no meio da mídia, como cosplayers ou youtubers, ganharem a premiação, sendo bem possível que muitos desses sequer tivessem conhecimento algum sobre a franquia [Metal Gear Solid]. Temendo isso, resolvi fazer aquele post com teor sarcástico/humorístico que tanto foi printado por aí como se fosse um discurso de ódio, mas não direcionei a ninguém.". Ainda segundo Sérgio, apesar das ofensas feitas a Laura na discussão do grupo, em especial após a promessa do cosplay, nunca foi sua intenção a expor ou fazer ataques diretos. "Revoltado com isso, eu coloquei o post dela no grupo, censurando o nome e em momento algum falando quem era, sem expôr. Isso dá para ver até nos prints que usaram para me difamar. A única ofensa que eu fiz contra ela ao todo foi "Thot" e falar "Filha da puta" em relação atitude dela, e nem foi diretamente, foi no grupo fechado. Só que os outros participantes ali da conversa ficaram muito exaltados, xingaram bastante ela, dando aquele bafáfá todo e indo até o Twitter falar besteira por terem descoberto quem era, sendo que eu sequer participei desses xingamentos".
Desdobramentos
Com a repercussão dos acontecimentos, a organização da Brasil Game Show decidiu em um primeiro momento excluir todos os membros envolvidos da competição, incluindo Laura. Após a comoção das pessoas nas redes sociais com a cosplayer, a organização soltou uma nota oficial, dizendo que a suspensão havia sido temporária e que Laura havia sido liberada a continuar participando, enquanto os outros envolvidos permaneceriam de fora. "A BGS a principio me tirou da competição junto com todos os envolvidos, mas foi enquanto averiguava sobre quem era de fato a vitima. E ai soltaram a nota oficial me colocando de volta", segundo Laura. Quando questionada sobre como foi o contato com a organização do evento, ela disse: "De primeira eu mandei varias mensagens, mas eles não respondiam. E ai me foi informado por eles mesmos que a suspensão temporária foi para poder verificar com calma. Como tenho amigos que trabalham com coisa parecida, eu sei que o departamento de mídias precisa sempre prestar contas com departamentos superiores. Acredito que a suspensão foi a melhor medida em que pensaram até receber ordem dos superiores. Foi tudo de um dia para o outro também, o afastamento não durou nem 12 horas".
Após a decisão da organização do evento, os membros que fizeram ataques diretos a Laura foram expulsos do grupo Metal Gear Legacy Brasil e uma tentativa de retratação foi feita. Segundo Sérgio ao final da conversa, "Os usuários que a ofenderam foram banidos, eu mesmo decidi por conta própria me afastar do grupo para evitar problemas, e os administradores atuais se comprometeram a aplicar as regras mais rigorosamente. Tanto é que um desses administradores comentou isso em uma dessas postagens com os prints. Não nego que eu obviamente cometi um erro em fazer a postagem, tanto que eu fui pedir desculpas para ela e tudo mais em nome de todos, mas também não fui xingar e ofender ela, e acho que houve um tremendo exagero em torno de tudo isso, e que não sou um "monstro" que tantos veem. Claro, não sei se acredita no meu lado, mas estou de consciência limpa aqui. Por mim, só quero seguir em frente e não me importar com essa bagunça toda".
Para Laura no entanto, as coisas não são simples: "Eu sinceramente ainda não consigo conversar com quem fez os ataques mais pesados, mas eu já desculpei algumas pessoas. Um deles, por exemplo, fez até post se retratando e me pediu desculpas, mas em outro grupo falou que poderia me processar por aliciar menores se ele quisesse". Sobre os pedidos de desculpas de Sérgio, ela acrescentou: "Ele não para de encher o meu inbox tentando se retratar, mas eu não consigo nem olhar para as pessoas que começaram tudo isso".
Quando questionada sobre o seu ânimo em relação ao evento, Laura disse: "Ainda não vou desistir e inclusive vou usar o cosplay de Quiet na quinta-feira da BGS. E como o apoio e amor está sendo bem maior que o hate, eu me sinto bem mais amparada". Mas ela ainda apontou sobre o machismo presente no meio: "Muita gente tem preconceito com mulher que faz sensual. Até meninas que são camgirl e sabem que eu não faço trabalho erótico estão me dando suporte, porque o ódio que eu estou recebendo é algo que elas também sempre recebem".
Apesar dos ataques terem sido direcionados a ela, a cosplayer não é a primeira colocada da competição, estando em segundo lugar no momento da conversa. "Ainda estou bem longe de alcançar o primeiro, mas, como o cara que está ganhando é um streammer [Galaxyy] bem de boa e que não participou de nada disso, eu estou feliz por ele também", contou Laura.
Passados vários dias após o acontecido no entanto, Laura ainda segue recebendo ataques diretos de algumas pessoas nas redes sociais. Apesar de confiante em relação a algumas coisas, a cosplayer não esconde o seu medo frente a algumas ameaças feitas. "Não existe nenhuma possibilidade de me processarem, já entrei em contato com todos os advogados que eu conheço sobre isso. E sobre ataques físicos no evento, o medo de acontecer é enorme, mas vou tentar estar sempre acompanhada lá. E sei que os seguranças do evento são bem treinados caso aconteça", disse ela.
E sobre ataques físicos no evento, o medo de acontecer é enorme, mas vou tentar estar sempre acompanhada lá. E sei que os seguranças do evento são bem treinados caso aconteça. - Laura Pyon
Ao final da conversa, Laura desabafa: "Eu só queria que os ataques parassem. Que parassem de divulgar que eu faço e vendo nude, pois isso é ruim para o meu trabalho. É uma competição por like sem regras e que se eu não fosse mulher, não teria sofrido tudo isso de graça".
* Revisado em 29/09/2017 às 11:31:39
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