O motivo? Muito simples: pela repercussão que duas imagens geraram, e claro, porque é sobre a Samus... de shortinho, que outro motivo eu teria?
Mas antes de eu dar qualquer opinião sobre o assunto, e de duas uma, receber amor incondicional ou pedras do público seleto do Vão Jogar!, vamos contextualizar as coisas, porque contexto é tudo nessa vida.
Samus, aniquiladora de raças alienígenas e 28 anos de praia
A série Metroid começou lá no Nintendinho, no ano de 1986. O jogo era totalmente focado em exploração, e não se sabia praticamente nada sobre aquele "cara" na armadura... aliás, não dava pra saber nem se era um ser humano ali dentro ou um robô. Depois de sair chutando a bunda de todos os piratas espaciais que aparecem pelo caminho, o final do jogo nos revela que aquele "cara" na real é uma mulher! Sim, Samus aparece em toda a sua glória trajando um... maiô/biquíni rosa. Esse fato, Samus com trajes mínimos no final dos jogos, acabou por se tornar tradição na série, normalmente sob a condição de terminar o jogo em um determinado número de horas e/ou porcentagem de itens. Ou seja, a grande recompensa de zerar Metroid em menos tempo ou coletando o maior número de itens, sempre foi ver o que a Samus está vestindo debaixo da armadura, variando entre biquínis, maiôs, shorts com top e recentemente, a Zero Suit. Aliás, falando nela...
Zero Suit, o infame colant azul
Tudo começou no GameBoy Advance, com o remake do primeiro jogo da série, Zero Mission. Além de toda a óbvia remodelagem técnica, ZM tem um trecho extra em que jogamos com a Samus sem a armadura, em uma roupa azul e munida de apenas uma pistola paralisante. Isso lembra vocês de algo? Pois é, bastou apenas esse pequeno trecho para que a infame Zero Suit conquistasse o coração de boa parte dos fãs da franquia. É claro que a roupa tornou a aparecer novamente em outros jogos da série, como Metroid Prime 2: Echoes, Metroid Prime 3: Corrupition e o no controverso Metroid: Other M, assim como em Super Smash Bros. Brawl (Wii), como uma versão alternativa de Samus. Até então tudo ok, certo?
Samus subiu no salto
O tempo passou, e obviamente mais um Super Smash Bros. foi anunciado, dessa vez em dose dupla, para o Wii U e 3DS. E é claro que todos já esperavam a presença de Samus em suas duas versões, o que rapidamente foi confirmado, mas dessa vez sendo duas personagens completamente distintas. Na Power Suit nenhuma grande mudança, é a mesma Samus "Mastiga Piratas Espaciais No Café Da Manhã" que já estamos acostumados, mas a Zero Suit recebeu um banho de loja e teve o acréscimo de um acessório no mínimo interessante: botas com salto alto.
Apesar do visual alá Bayonetta, as botas possuem jatos que permitem maiores acrobacias e golpes por parte da Samus desarmadurada. Por mais bizarro que pareça, essa adição estética gerou um certo burburinho na internet, com princípios de acusações que a Nintendo / Namco estariam sexualizando demais a loira exterminadora de metroids. Olha, eu até entendo que realmente possa haver uma certa conotação sexual em saltos altos em determinados contextos, uma vez que um dos seus objetivos é fazer com que a mulher ande com a bunda empinada (pois é), mas partir do princípio que isto está sendo utilizado para uma pretensa sexualização de uma personagem virtual, creio ser meio exagerado. No máximo falar que não é muito coerente, afinal não deve ser muito prático para lutar... a não ser que você seja uma bruxa.
Em tempo, eu não vejo graça nenhuma em mulher de salto alto.
A polêmica do shortinho
Então essa semana o Sr. Sakurai, produtor de Super Smash Bros., publica a imagem que ilustra esse escrito no Miiverse e manda essa:
Olhando para o número de dias que nos restam para finalizar o desenvolvimento, seria uma tarefa impossível para criar esta... foi o que eu disse a minha equipe. Mas graças à determinação de uma designer, estas versões da Zero Suit foram concluídas a tempo. Do final de Metroid: Zero Mission, aqui está, Samus de shorts!
Colocaram como roupa alternativa da Zero Suit Samus as vestimentas dos finais de Metroid Fusion e Metroid Zero Mission, não é bacana? Bom, não foi assim que boa parte das pessoas pensou. Se já rolou alguma reclamação a respeito do salto alto, quando a Samus apareceu de shortinho e top então a casa veio abaixo, e creio que a declaração (irrelevante por sinal) do Sakurai dizendo que foi uma designer que fez o traje, já era uma tentativa antecipada de esfriar os ânimos. Mulheres, homens, facebook, twitter, blogs, sites, todo mundo levantando a bandeira do feminismo e dizendo o quão absurdo é isso, que Samus não precisa dessa sexualização toda e blá, blá, blá. Eu perplexo olhei tudo e fiz a cara de...
Sabe, eu realmente entendo e apoio toda essa cruzada em prol de jogos que valorizem mais as mulheres ao invés de tratá-las simplesmente como donzelas indefesas e/ou pedaços de carne virtual. Eu entendo e apoio quando as mulheres se sentem excluídas de um Assassin’s Creed por ele não permitir a criação de um avatar que as represente, ainda mais sob uma desculpa completamente esfarrapada. Mas eu realmente não entendo o rebuliço todo em cima de uma roupa alternativa do jogo de "luta" mais zoado que deve existir, retirada de um jogo da série original (Metroid) com mais de dez anos, de uma personagem que por mais durona que seja, nunca perdeu a chance de ficar mais a vontade, como se o ideal de mulher forte fosse simplesmente uma figura masculina com formas femininas. Até porque convenhamos, usar aquela armadura o dia inteiro deve ser desconfortável pra kct. E vejam bem, de todos os modelos que poderiam ter utilizado, pegaram justamente o mais comportado de todos, simplesmente um traje esportivo que vemos facilmente sendo utilizado pelas ruas sem que isso seja ofensivo. Eu juro que li todos os argumentos, dos mais bem escritos aos mais toscos, tentando entender o que realmente a pessoa queria dizer, e se aquilo me parecia "correto", mas não deu, me senti em meio a um debate de freiras sobre posições sexuais.
Claro, podem argumentar que só fizeram isso para atrair ainda mais "tarados" para o jogo, mas sério mesmo que vocês acreditam que apenas uma roupa alternativa, de uma única personagem é suficiente para fazer um jogo que por si só já vende pra caramba, vender ainda mais? Sério gente, o máximo que teremos é mais adolescentes prestando suas devidas homenagens.
Sim, eu adoro a figura feminina, não tenho vergonha nenhuma em dizer isso, mas não é o motivo que me faz gostar definitivamente ou não de um jogo, ainda mais Metroid... aliás, nem de Dead Or Alive, assim como qualquer outro jogador homem heterossexual, não é o foco. Isso também vale para o desenvolvimento, não é porque uma personagem foi desenhada com mais peito ou roupa curta, que o foco do jogo seja esse, ainda mais quando vem do Japão, um país altamente reprimido sexualmente e que extravasa mesmo essa parada em suas artes, as vezes de maneira mais ou menos "agressiva".
As mulheres lutam tanto por direitos iguais, para poderem se vestirem da maneira que lhes seja mais confortável ou do gosto delas, que é no mínimo estranho que uma simples roupa casual, devidamente contextualizada, em um jogo de luta que simplesmente ignora qualquer lógica para juntar personagens de universos distintos, cause essa reação. É completamente diferente, por exemplo, do que fizeram com a própria Samus em Other M, reduzindo-a a uma garotinha mimada, sem um pingo de iniciativa, completamente submissa e que tirava a armadura o tempo todo sem motivo nenhum... e isso não é birra minha com o jogo, de fato isso ocorre.
Engraçado também que não vi nenhum rebuliço por conta da apresentação da Palutena por exemplo, ou do físico do Capitão Falcon, ou das roupas também alternativas de Peach, Daisy e Rosalina em Mario Kart. Dá a impressão que a grande parte dos que reclamam estão apenas seguindo a maré, sem fazer a mínima ideia do que realmente estão falando, apenas para pagar de intelectuais, o que muito me lembra as maluquices da PETA ao crucificar jogos como Pokémon e Super Meat Boy. Aliás, alguns comentários que li deixam claro que a pessoa não sabe que também há a versão Power Suit no jogo, como se essa fosse a única Samus disponível.
Continuem discutindo sobre o assunto, reclamem do que acharem que não é correto, tagarelem como se não houvesse amanhã logo abaixo, forcem as empresas a não serem um bando de escrotos machistas, mas aprendam a contextualizar as coisas antes, caso contrário irão começar a beirar o ridículo e então lá se vai a credibilidade. Fora que também chegaremos ao ponto onde o processo criativo começará a se limitar para não gerar reclamações. Vai que o(a) cara realmente gosta de desenhar minas peitudas com pouca roupa? Ele deve deixar de fazê-lo por conta de uma parcela que acha isso ofensivo? Entendam que feminismo não é femismo, igualdade e justiça é diferente de privilégio. E por fim, não levem tudo tão a ferro e fogo com uma visão paranoica do mundo, principalmente quando estamos falando de entretenimento puro e simples. Agora peguem o seu jogo favorito, independente se o protagonista é homem, mulher, usa muita ou pouca roupa, e Vão Jogar!
* Revisado em 18/11/2016 às 23:15:53
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