Video Games Live 2015

Se tem uma coisa que eu amo nos jogos é a música. Não importa se é nova ou velha, em midi ou orquestrada, uma trilha sonora bem feita faz com que mesmo os jogos mais simples se tornem memoráveis, e eu ainda espero o dia em que as grandes novidades tecnológicas para os consoles não estejam ligadas a imagem e sim ao som. Mas ao contrário de muitos, até coisa de um ano atrás eu nem fazia ideia do que era a Vídeo Games Live.

Para quem também não sabe, Vídeo Games Live, ou VGL, é um evento idealizado pelos músicos e compositores Tommy Tallarico e Jack Wall, de forma a mostrar para as pessoas o valor artístico dos jogos através de suas músicas, desmistificando a ideia de que videogames são um meio de entretenimento vazio.

Eu comecei a tomar conhecimento do evento através de alguns comentários de internet e amigos, e fui ter meu primeiro contato real através dos álbuns disponibilizados no Spotify.

E claro, foi paixão a primeira vista ouvida. Ouvir os grandes clássicos dos jogos em versão orquestrada, ou as músicas mais atuais, que estão cada vez melhores e mais bem trabalhadas, é uma das melhores coisas para ajudar a se concentrar no trabalho ou dar aquela relaxada, além de como eu sempre digo, ser uma ótima forma de experienciar um jogo de uma maneira diferente. Então já deu para imaginar a minha empolgação com a edição desse ano, ainda mais coincidindo com a minha estadia em São Paulo por conta de BGS e férias.

Pelo décimo ano no Brasil, o concerto aconteceu no Teatro Bradesco, dentro do Shopping Bourbon, um local bem grande e confortável, que abriga o evento pelo segundo ano seguido.

Tommy Tallarico embora participe ativamente do show tocando sua guitarra em várias músicas, funciona muito mais como um anfitrião, e aliás, um excelente anfitrião. Além de conseguir demonstrar claramente a sua paixão por jogos e músicas, o cara é muito carismático, e apesar do tempo todo ele falar apenas em inglês, a apresentação é claramente direcionada para o público brasileiro, tanto nas piadas quanto na consideração dos gostos específicos das pessoas daqui, então não fica aquela coisa engessada e scripitada de outros eventos internacionais. Entre as músicas também rolam alguns vídeos humorísticos relacionados a jogos, como crossovers malucos do tipo Frogger com GTA.

Musicalmente falando, o concerto foi uma das coisas mais maravilhosas que eu já vi e ouvi na vida. A excelente Orquestra Villa-Lobos esteve sob a batuta da maestrina Eímear Noone, que já atua na área de música para jogos a um bom tempo, estando envolvida na gravação do disco The Legend of Zelda: 25th Anniversary, que acompanha Skyward Sword, assim como dirigindo a The Legend of Zelda: Symphony of the Goddesses. Para encorpar ainda mais o currículo da moça, ela também esteve envolvida diretamente na direção da trilha sonora de jogos como World of Warcraft, Starcraft 2 e Diablo III.

Durante o espetáculo, músicas de várias séries famosas foram tocadas, como Castlevania, Mega Man, Sonic (que quase fez o Caduco ter um ataque do coração), Chrono Trigger, Chronno Cross, Donkey Kong, Zelda, Skyrim, Portal, a até então inédita Ace Attorney, e mais tantas outras que eu não vou ficar lembrando de cabeça agora. E não, não foi desta vez que rolou um Top Gear, que segundo o próprio Tallarico, é uma série que só é pedida pelos brasileiros mesmo, mas ficou a promessa de que ano que vem com certeza teremos as músicas do famoso jogo de corrida 16-bit.

Mas na minha opinião, o grande destaque ficou por conta de uma garota chamada Laura Intravia, também conhecida como Flute Link. Se em algum momento do show ela tivesse começado a sapatear eu não teria me assustado, porque além de ter uma voz excepcional, também toca flauta transversal, piano e uma flauta esquisita que pelo que pesquisei, se chama EWI.

Foi um espetáculo razoavelmente grande, com uma duração de praticamente três horas, mas que valeu muito a pena, arrancando aplausos e mais aplausos da plateia. No final rolou até um continue, com direito a uma parte dedicada a Final Fantasy VII.

Infelizmente é um show com preços não muito acessíveis, e que ainda por cima conta com o inconveniente de acontecer praticamente só em São Paulo todos os anos. Belo Horizonte mesmo chegou a ter o evento marcado para o dia de hoje (12/10), mas posteriormente foi cancelado, o que é uma pena, ainda mais agora que a cidade conta com a novíssima Sala Minas Gerais, casa da Filarmônica Minas Gerais, que apesar de ter uma disposição bem diferente do Teatro Bradesco, tem capacidade para o mesmo número de pessoas. Porém, como Tallarico já explicou diversas vezes, depende muito mais do interesse e investimento de patrocinadores daqui do país do que da vontade deles.

Mas quem tiver condições e curtir muito música de jogos, acho que vale a pena o esforço de assistir ao menos uma vez. Mesmo que a experiência de várias músicas esteja atrelada ao sentimento com o jogo em questão, o que faz com que nem todas sejam tão emocionantes assim dependendo do seu repertório de jogos, é um evento extremamente organizado e bem feito, tecnicamente impecável. E bom, como o próximo é só ano que vem, eu sugiro vocês pegarem o seu serviço de música em streaming preferido, procurar os álbuns da VGL e Vão Escu... ops, isso é outra coisa... mas vocês entenderam.