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Audaciosamente indo aonde nenhum Nomai jamais esteve

Análise de Outer Wilds - Um jogo sobre como aprender a lidar com a nossa insignificância perante o universo.

autor Rafael "Tchulanguero" Paes   datahora 14/02/2020 às 11:50:26   tagarelices 4

Um jogo sobre como aprender a lidar com a nossa insignificância perante o universo.


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Uma coisa que me fascina desde novo é o espaço. Boa parte das minhas noites no inicio da juventude se deram no meio do quintal com um mapa celeste em mãos, tentando identificar constelações, planetas e eventualmente imaginando ter visto algum disco voador. Não por menos, qualquer obra de ficção que aborde o espaço de alguma forma acaba ganhando a minha atenção, ainda que muitas delas na verdade estejam falando sobre a sociedade em que vivemos ao invés de uma utopia futurista.

Videogames se utilizam desta temática desde muito tempo. Metroid, uma das minhas séries favoritas, se passa em um futuro onde viagens espaciais são corriqueiras, com a personagem principal sendo uma caçadora de recompensas e também exímia exploradora. O ato de vasculhar o cenário em busca de qualquer detalhe que levará ao próximo item é tão envolvente, que todo um gênero surgiu a partir disso. Mas desbravar o espaço por si só é algo que nem sempre vemos como tema central nos jogos. No Man’s Sky tentou fazer isso em tempos recentes, mas acabou perdido na própria grandiosidade do universo e em problemas durante o seu desenvolvimento. Por outro lado, no ano passado foi lançado Outer Wilds, um jogo feito por um estúdio independente, lançado após anos de desenvolvimento e financiamentos coletivos, com foco justamente na exploração espacial, mas por um viés bem diferente do usual.

Lenhoso tocando o seu banjo
A não ser que você seja muito fã de Phalanx, não é o que se imagina quando se fala em jogos espaciais, mas é exatamente esse o clima inicial de Outer Wilds.

Quando fui começar o jogo, logo veio a empolgação com a ideia de explorar os mais variados planetas, cada um com a sua própria flora e fauna, todos ali esperando o momento de serem conquistados. Mas Outer Wilds já tira qualquer senso de grandiosidade que o jogador possa ter a respeito do tema. Você controla apenas um simpático alienígena de quatro olhos, que mora em uma vila de lenhadores igualmente simpáticos, que passam a maior parte do tempo pescando, assando marshmallows, bebendo substâncias de procedências duvidosas e tocando instrumentos musicais simples, mas que de algum modo possuem um programa espacial que explora e pesquisa o seu próprio sistema solar, que milhares de anos antes foi habitado por uma outra espécie altamente avançada tecnologicamente, os Nomai, que por fatores desconhecidos foram extintos.

Tudo é estranhamente rústico, não há nenhum clima futurista, as naves se parecem com os módulos lunares da corrida espacial entre União Soviética e Estados Unidos, só que construídas parcialmente de madeira e oxigenadas com plantas. E vejam só, você também não é nenhum piloto excepcional, na verdade está prestes a fazer o seu primeiro voo solo, munido apenas de seu traje espacial, um sensor de frequências sonoras, um recém inventado tradutor para os textos da antiga civilização e uma sonda equipada com uma câmera.

Recanto Lenhosto visto da lua "A Pedra de Lia"
As coisas em perspectiva: o "Recanto Lenhoso", com a sua vila em destaque, visto de sua própria lua, "A Pedra de Lia", ao lado de sua nave. Reparem que existem alguns pinheiros logo a frente: se tem planta por perto, então tem oxigênio.

Após uma estranha experiência que você não entende muito bem, sair do pequeno planeta, aliás, chamado "Recanto Lenhoso", provavelmente vai ser meio desajeitado, já que controlar todos os seis foguetes da nave simultaneamente vai requerer uma boa coordenação motora. Eu mesmo terminei o jogo me embananando com eles ainda em alguns momentos. Mas tudo bem, tudo que você precisa fazer é subir, para finalmente deslumbrar a imensidão do espaço, que na verdade é bem pequeno. Quer dizer, o seu sistema solar é pequeno. Tem uma grande estrela ao centro, uma meia dúzia de planetas, um cometa errante e é só. As distâncias são bem curtas, de apenas alguns poucos quilômetros e, ao olhar para seu planeta natal, você descobre que a modesta vila de lenhadores ocupa uma parte considerável dele. Por um momento o sonho da exploração espacial parece distante e impossível naquele cenário, mas é aí que o jogo brilha.

A premissa é simples: você está preso em um ciclo temporal de no máximo 22 minutos, onde tudo o que você retêm são as suas memórias do que já foi descoberto, em um clima que lembra um pouco as dinâmicas temporais de Majora’s Mask. Não que você precise se preocupar com muito além disso, já que em nenhum momento você terá nada além do que lhe foi dado em sua partida inicial: sua nave e equipamentos de exploração. Nenhuma arma, nenhuma atualização, nada, somente conhecimento será adquirido. Tudo está lá te esperando desde o primeiro momento, você só não sabe ainda.

E se inicialmente aquele pequeno sistema solar, de planetas que parecem terem sidos tirados do livro "O Pequeno Príncipe", parecia algo insignificante, logo ele se transforma em algo vasto, meio solitário e opressor. Não que exista alguma forma de ser maligno te espreitando por detrás de algum corpo celeste, mas rapidamente você nota que o ser insignificante na verdade é você. O seu corpo não é muito resistente, você obviamente sufoca se ficar sem oxigênio, pode vagar para longe se o seu traje ficar sem combustível, sua nave é pega facilmente pela gravidade do sol e, eventualmente o ato de morrer e começar novamente no próximo ciclo temporal se torna corriqueiro, muitas vezes porque você não é capaz de algo normalmente colocado em jogos como simples: dominar a natureza.

Furacões no planeta "Profundezas do Gigante"
Cada planeta é dotado de dinâmicas que os tornam únicos e criam diferentes desafios. O planeta "Profundezas do Gigante", por exemplo, possuí diversos furacões que podem não somente arremessar a sua nave para o espaço, mas também as pequenas ilhas espalhadas pelo seu mar, o que é bem inconveniente quando se as está explorando. Decorar os momentos certos de cada acontecimento é crucial para o desenrolar da aventura.

Como deu para notar, conhecimento é a sua maior arma para progredir no jogo. Cada morte, cada dificuldade, cada peça da misteriosa história dos Nomai que você descobrir, cada companheiro astronauta que você encontra, vai ser a chave para chegar ao próximo passo a ser dado, assim como o próximo trecho de história a ser compreendido. É um misto de exploração e investigação, totalmente não linear, onde nenhuma ação sua é capaz de interferir em muita coisa, senão no seu próprio entendimento de tudo.

Eventualmente os planetas se tornam familiares, os perigos conhecidos e facilmente contornáveis, os mistérios dos Nomai desvendados e até mesmo a solidão do espaço mais acolhedora. Mesmo longe de tudo, você pode puxar o seu sensor sonoro e escutar as melodias tocadas pelos seus companheiros astronautas ou então imaginar o cotidiano dos Nomai, baseado nos relatos encontrados. É aquela sutil diferença entre estar e ser sozinho.

Tradutor para os textos Nomai
O tradutor será um dos seus principais equipamentos ao longo da jornada. Com ele é possível ler os textos deixado pelos Nomai, que contam não somente sobre as histórias de seu povo, mas também sobre o seu cotidiano, relacionamentos, medos e sonhos.

Ao fim dessa singela aventura, embalada em uma trilha sonora que consegue trazer tranquilidade mesmo em seus momentos mais assustadores, tudo o que você terá feito é observar e aprender, até mesmo sobre alguns conceitos básicos de física quântica que o jogo incorpora. Mesmo com um dos finais mais belos que já vi em jogos, o espaço não é representado como um local para um épico, mas sim como algo indomável e pacífico, onde tudo o que se pode fazer é aprender a viver conforme as suas regras.

Outer Wilds
Outer Wilds

* * * * *  Outer Wilds é uma das melhores experiências lançadas para videogames em tempos recentes. Mesclando exploração, investigação, narrativa instigante e excelente trilha sonora, o jogo rompe com o padrão do herói desbravador e armado que costumamos ver em jogos, e nos coloca no papel de um ser frágil, que pouco pode fazer diante a sua insignificância frente ao universo, restando apenas o aprendizado como chave para a sua sobrevivência.
Avaliado no Xbox One
(entenda o nosso sistema de notas)


Estúdios:  e
Plataformas: PlayStation 4, Windows e Xbox One
5

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  • avatar de helinux
    helinux
    23/02/2020 às 23:36:19
    A verdade é que tudo requer adaptação e sintonia com o ambiente em si...Citando Metroid é o que acontece no decorrer do jogo!!!! Fato é que o espaço,planetas e até mesmo o buraco negro se puder!!!! Lembrando o desenho do Pequeno Príncipe, lembro da versão do SBT...bons tempos, acredito que existia isso em termos de Residência ou mais conhecido como Casa. Na verdade o planteta B-612 era considerado mesmo uma residência e não um planeta devido aos moldes e suas limitações...com o tempo vc percebia que já estava acostumado com aquela situação de limitações de espaço e Geometria!!!!! Devido ao tamanho do planeta b-612, o pequeno planeta na verdade era uma residência flutuante!!!! Se comparar a estrela Antares com o tamanho do Sol e depois comparar como tamanho do planeta Terra...nós seriamos taxados de homens microscópicos, ou seja, o que nos torna grandes mesmo é o fata de sermos seres Racionais e assim fazer cálculos, comparações e harmonias sobre a natureza, espaço e o Espaço Sideral!!!! A vida se adapta as atenções ao seu redor e as atenções são adptadas a sua vida ao longo do tempo, valeu galera gamer!!!!

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  • avatar de Cyber Woo
    Cyber Woo
    28/02/2020 às 16:25:28   localizacao Itu
    Você apresentou uma visão que não tive do jogo, afinal morrer e ter que tentar voltar ao ponto onde eu estava foi bem frustrante, hahaha!

    Por outro lado os mistérios guardado em alguns planetas foi algo que realmente me pegou. Infelizmente não pude dar atenção que o jogo merecia, mas acho que depois dessa analise eu darei uma nova chance e tentarei ir mais a fundo na exploração.

    • avatar de helinux
      helinux
      29/02/2020 às 21:38:24
      É isso aí!!!! valeu!!!!
    • avatar de Rafael "Tchulanguero" Paes
      Rafael "Tchulanguero" Paes
      01/03/2020 às 03:24:44   localizacao Vespasiano - MG
      Hwa hwa hwa, no começo é normal rolar uma frustração por conta do tempo, você quer fazer as coisas, mas não consegue. Tem que ir com essa mentalidade de chegar um pouco mais longe a cada tentativa, no final fica tudo tão simples que dá até raiva de não ter percebido antes.

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