Enquanto nós ainda esperamos pelo dia em que alguma série de videogames ganhará um filme decente, no campo das animações os jogos são melhores representados, normalmente com projetos com um menor escopo, portanto com menos chances de tragédia. Séries como Devil May Cry e Street Fighter já tiveram o seu espaço no meio, e a mais nova promessa vem com Castlevania, que teve a sua estréia na última sexta-feira (07), com produção sob o selo "Original Netflix", obviamente sendo exclusiva do serviço.
A história é baseada no terceiro jogo da série, Castlevania III: Dracula’s Curse, originalmente lançado para o NES em 1989. Na história do jogo, Trevor Belmont se une a maga Sypha Belnades, ao pirata Grant DaNasty e ao lendário vampiro Alucard, para enfrentar as hordas de monstros enviadas por Drácula pelo território da Valáquia, uma das províncias da Romênia, no ano de 1476.
A grande sacada da série foi manter toda a história básica do jogo, mas acrescentando mais detalhes para que tudo não ficasse simples demais. O primeiro episódio, por exemplo, é focado no próprio Drácula e em sua tragédia pessoal, dando um motivo para o seu ódio contra a humanidade e seus ataques contra ela, indo além do esteriótipo do vilão que faz o mau simplesmente por ser fruto do mau. Isso segue quando acompanhamos Trevor Belmont e toda a sua amargura diante do fato de ser o último membro da família Belmont, que foi injustamente excomungada pela Igreja Católica por sua proximidade com o sobrenatural.
Aliás, a Igreja Católica também é um personagem de destaque na série, com suas incessantes buscas por qualquer indivíduo que seja fora do padrão, eliminando-os nas infames fogueiras da Inquisição. A forma como a fé cega de seus líderes faz com que eles controlem e manipulem a população dá um pano de fundo bem interessante a história.
As animações em si, em especial nas cenas de ação, infelizmente deixam um pouco a desejar, não sendo lá muito fluídas. Felizmente os desenhos são bem feitos, com uma iluminação que consegue transmitir todo o clima opressor que a série necessita, sem apelar para cenas totalmente escuras ou sustos repentinos. E não espere também por muitas sutilezas, a todo momento a animação é pautada por uma violência visceral que não tem medo em mostrar membros decepados e sangue jorrando para todos os lados, sejam em brigas de bar ou ataques de monstros contra a população indefesa.
Mas a série dá alguns deslizes que acabam tirando boa parte do brilho de suas qualidades. Talvez o maior inimigo seja a sua curta duração, já que a primeira temporada é composta de apenas quatro episódios de em média 25 minutos cada. Com esse tempo escasso, todas as ideias desenvolvidas soam apressadas demais, e embora tudo seja bem simples e lógico, não há tempo o suficiente para que os personagens se desenvolvam e o espectador possa criar uma empatia por eles, o que é especialmente crítico no caso do Drácula. Trevor Belmont também tem uma "escalada" rápida demais nesse aspecto, passando por um cara que pouco se importa com nada para um defensor do povo de um instante para o outro. O personagem tem o seu carisma e dosa bem drama e humor, apesar de uma introdução bizarra, mas não há tempo para transições suaves e tudo acaba se misturando, fazendo com que seu comportamento sempre soe forçado.
Levando em consideração que essa primeira temporada serviu mais para introduzir os personagens principais, incluindo além de Drácula e Trevor, também Syphia e Alucard, a escolha do formato não me pareceu muito acertada. Um especial em forma longa para essa introdução talvez servisse melhor ao propósito de apresentar a série para depois uma temporada um pouco mais longa. De qualquer forma, a Netflix já confirmou a segunda temporada para o ano que vem, desta vez com oito episódios.
Castlevania é uma série com um potencial excelente, mas que carece de mais tempo para um melhor desenvolvimento dos personagens. Se continuar nesse ritmo em sua segunda temporada, tudo o que teremos é uma animação padrão baseada em jogos, que irá entreter a maiorias das pessoas, mas no final será lembrada apenas pelos fãs mais ardorosos.
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