Em 2005 era lançado o primeiro Guitar Hero, mas eu só cheguei a conhecer a saga, confesso, alguns anos depois quando comprei uma versão Jack Sparrow de Guitar Hero III: Legends of Rock (o meu favorito da série, à propósito). Joguei esse episódio específico da série por anos, até pouco antes de o meu finado PlayStation 2 (que Pong o tenha) vir à óbito e eu comprar um PlayStation 3. A partir daí, nunca mais havia jogado nenhum Guitar Hero, pois a partir do PS3, era obrigatório o uso do controle-guitarra para jogar, o DualShock não era mais compatível com o jogo, e por ser muito caro e eu ser uma lisa na época, acabei nunca comprando nenhum.
Entretanto, isso não quer dizer que eu não tenha experimentado outros títulos. Joguei um pouco de cada um deles, fosse com meu irmão ou com amigos, algo que sempre me deu muita satisfação e sempre marcou a memória. Eu, meu irmão e meu sobrinho jogávamos horas seguidas, sempre no desafiado (perdeu, passa o controle) e, modéstia à parte, eu quase sempre ganhava deles, hehe. Mas aí, em 2010 a série entrou em um hiato e, junto com ela, eu também.
O hiato da Activision se deu, não porque o jogo era ruim ou havia perdido qualidade. Na verdade, o último título lançado - Warriors of Rock - é tido até hoje como um dos melhores da série, com uma setlist que inclui clássicos como Bohemian Rhapsody, Paranoid e Seven Nation Army. O maior problema, na verdade, é que jogos de ritmo, essa coisa meio arcade de acertar as teclinhas da corzinha na hora certinha havia passado. A moda havia adormecido. Um sono de cinco anos. Acordando para a vida em 2015, a Activision lança Guitar Hero Live, com uma nova cara, uma nova modalidade de jogo, e um novo estilo de gameplay, o que resultou, também, em uma guitarra totalmente repaginada (e linda!).
A primeira grande mudança que eu percebi no jogo foi a ausência de um menu inicial. Quando iniciei o jogo, após as logos das respectivas produtoras e devs, GHL me jogou direto no tutorial, algo totalmente necessário visto que o esquema de botões é totalmente diferente de qualquer um dos outros jogos, anteriormente marcados pelos cinco botões coloridos (verde, vermelho, amarelo, azul e o maldito laranja). GHL traz uma nova guitarra com seis botões.
Mas, peraí, eu não tenho seis dedos! WTF?
Calma, jovem! Os seis botões são paralelos em duas linhas de três. Em vez de corresponder os botões unicamente com as cores, agora você tem três botões para cima (na cor preta) e três botões para baixo (na cor branca), sendo o próprio formato das notas indicativas de cima e baixo, além de possuírem texturas diferentes ao toque. Para mim, a mudança foi muito bem vinda, pois ficou bem mais confortável jogar com a guitarra. O esquema de botões anterior tinha os 5 botões muito espaçados e minha mão é relativamente pequena, então eu sentia dores depois de jogar por um tempo. Os botões da nova guitarra também são bem mais macios e requerem menos pressão que os anteriores.
A mudança no esquema de botões do jogo se deu por causa de uma crítica meio besta de alguns jogadores nas versões anteriores: muitos reclamavam que o esquema de botões coloridos adotados desde o primeiro jogo em nada se parecia com acordes de verdade. Já ouvi gente com discurso de ódio contra Guitar Hero por causa de uma bobagem assim. Com a mudança do esquema de botões, os movimentos dos dedos ficam um pouquinho mais parecidos com acordes, mas ainda é, basicamente, um jogo de acertar notas no timing certo. IMO, se você quer tanto assim que o jogo se pareça com uma guitarra de verdade, jogue Rocksmith. O objetivo de Guitar Hero nunca foi ser um simulador de guitarras, então deixe de #mimimi.
O jogo possui cinco níveis de dificuldade diferentes: basic, casual, regular, advanced e expert. As duas primeiras usam apenas as notas pretas. A partir da regular, o jogador enfrenta todo tipo de combinação, cujas dificuldades e velocidades aumentam de acordo com o nível escolhido. Jogar nas duas dificuldades iniciais parece absurdamente fácil, mas iniciar o jogo diretamente no regular se provou um tanto complicado porque o Live e seu novo esquema de botões ignora toda a memória muscular que eu já tinha dos jogos anteriores, o que é um ponto positivo para mim, pois realmente se trata de um desafio a mais.
GHL também abandonou totalmente os instrumentos secundários que marcaram os jogos da sétima geração de consoles, como o baixo (que era apenas uma segunda guitarra) e a bateria. O modo carreira é apenas single player, sendo possível jogar com duas guitarras no modo GHTV, que eu explico mais à frente. Além disso, a dupla pode jogar com um guitarrista e um vocal, o que também é bem divertido.
A segunda coisa que mais chama a atenção no Live é que todas as cenas de fundo do jogo são gravações reais e não mais os bonecos poligonais que marcaram os títulos anteriores. Você interage com banda, plateia e reações "reais", sendo perceptível que as gravações mostram a banda realmente tocando e cantando a música da vez, bem como é possível ver a plateia fazendo o mesmo.
A percepção do jogar é sempre em primeira pessoa e, dependendo de sua performance, a reação da plateia e de seus companheiros de palco pode ser boa ou não. Tocando bem e errando poucas notas, a plateia vai ao delírio e os membros da banda e backstage sempre sorriem e interagem positivamente. Se você for mal, a plateia começa a reagir de forma confusa, não entendendo o que acontece com você, alguns inclusive chegam a jogar copos e outros objetos no palco, até mesmo mandando você dar o fora do palco. Até seus companheiros de palco te olham de cara feia, o que pode ser bem intimidador, às vezes. Joguei com dois amigos e ambos tiveram essa opinião: ao serem fuzilados pela plateia e pela banda, ambos se sentiram exatamente assim, intimidados.
Essa interação com as pessoas das gravações seria impecável se houvesse um comportamento meio termo. Porém, como só existem reações muito boas ou muito ruins, a transição entre o tocar bem e o tocar mal ocorre de forma bem brusca, o que torna as coisas meio estranhas. Se você estiver em um trecho que alterna acertos e erros, você fica constantemente vendo as pessoas alternando reações abruptas e pensa "vou perder, vou ganhar, vou perder, vou ganhar", tipo o Galvão Bueno na dúvida da vitória da Phelps na natação.
GH Live e GHTV
No modo carreira, chamado de GH Live, você controla o guitarrista de várias bandas em dois festivais diferentes: Sounddial e Rock The Block. O primeiro possui cinco blocos de músicas e o segundo, oito blocos. Cada bloco de música possui de três a cinco músicas variando entre os estilos Rock, Alternative, Pop, Metal e Indie, sendo possível tocar de Rihanna a The Rolling Stones, tornando Live o mais eclético jogo da franquia. Ponto positivo para gente como eu, mas negativo para aquela galera que curte um rock mais pesado.
No total, GHL possui 42 músicas no disco, estando na média de número de músicas dos jogos anteriores. No entanto, a impressão que dá é que o jogo é bem mais curto que os anteriores por causa do fluxo proposto: nos jogos anteriores, por mais que você estivesse em um show, após cada música tocada, o gameplay era interrompido, os resultados eram mostrados e você voltava para a tracklist para escolher sua próxima música do bloco. Já em GHL, isso não acontece: você fica o tempo inteiro no palco e as músicas tocam uma atrás da outra, ou seja, você finaliza um bloco de músicas mais rapidamente e tem uma sensação melhor de continuidade do que acontece no show, pois o público aumenta sua animação ao longo do show inteiro. Os resultados são mostrados ao fim de cada bloco, com seu desempenho em todas as músicas tocadas ali. O que eu achei ruim nessa dinâmica é que, se na terceira música eu não estiver indo bem, não tenho como reiniciar apenas ela, somente o bloco inteiro.
Em jogos anteriores, a Activision disponibilizava músicas extras que podiam ser compradas e incorporadas no jogo. Em GHL, esse pacote "opcio-adicional" se deu de forma diferente, em um modo de jogo completamente novo, o GHTV. Para ser mais clara na explicação do modo, posso dizer que se trata de uma MTV jogável: há dois canais transmitindo clipes musicais o dia inteiro, com os estilos variando de acordo com os horários. Basta acessar o GHTV, escolher um canal e tocar o que estiver disponível no momento.
Nesse modo, você compete na mesma música com outros dez jogadores que estiverem online no momento ou com scores pré alcançados por outros jogadores. Ao final da música, você ganha XP, dependendo de sua posição no ranking, além de receber moedas, que podem ser utilizadas para comprar Hero Powers ou Plays.
Os Hero Powers são poderes que você pode utilizar para ter vantagens sobre outros jogadores, como o Clear Highway - uma bomba que explode as notas disponíveis na tela transformando-as em pontuações. Já os Plays são fichas compradas com as moedas recebidas no jogo que te permitem tocar qualquer música que estiver disponível no GHTV, sem precisar esperar elas tocarem nos canais. Também é possível comprar Plays com dinheiro de verdade, como todo bom jogo contemporâneo.
O modo GHTV tem sido amado e/ou odiado internet afora, tipo 8 ou 80 mesmo. Muita gente tem criticado a Activision por ter disponibilizado músicas extras dessa forma, não sendo possível comprar músicas permanentemente, como nos títulos anteriores. Por outro lado, muitas pessoas gostaram do novo modo, pela possibilidade de sempre ter músicas diferentes à disposição (algumas clássicas para fãs da série, como Through the Fire and the Flames) além de terem conhecido novas bandas que nem sequer sabiam que existiam. Mas uma coisa é certa: para aqueles que curtem um rock mais pesado, GHTV é a melhor opção.
Apesar das mudanças e de algumas críticas, é consenso geral de que o jogo mudou para melhor. Guitar Hero Live ainda é tão divertido quanto os outros, principalmente para jogar com os amigos, é mais desafiador do que os demais, tem uma guitarra mais ergonômica e abrange vários estilos de música, agradando gregos e troianos. O modo Live possui algumas músicas um pouco fracas, mas o modo GHTV me faz sempre querer voltar ao jogo e ver o que está passando, sempre tem uma música que eu ainda não havia escutado! Para competir ou relaxar, GH Live é uma boa pedida, então pegue sua Plastic Guitar e Vão Jogar!
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PS: Eu queria muito ter conseguido gravar algo no PS4 Share, mas infelizmente o jogo é bloqueado por questões de direitos autorais das músicas. Mas um dia darei um jeito, prometo!
Tem gente que realmente não tem talento pra guitarra/violão, como eu. Como eu disse, pra quem realmente quer tocar guitarra, o jogo é Rocksmith. É como se eu dissesse "Pra que jogar um Forza se eu posso dirigir meu carro a hora que eu quiser? Guitar Hero é arcade, jogo de ritmo, e pra isso só basta acertar as notinhas na hora certa, não necessariamente há a vontade de aprender guitarra de verdade, é apenas diversão.
Mas uma coisa é um carro competitivo ou de marca, outra é aparelho musical. Instrumento pelo menos tu pode comprar um furreca e juntar mais um pouco e adquirir algo de marca que é o preço de um console + jogo. Acho que dava pra fazer um arcade rítmico sem tanta frescura. Aliás, boa parte dos jogos desse gênero força a compra de algum periférico extravagante se é pra uma simples diversão afrontando o Deus Metal em não aprender guitarra. Mas enfim, era uma dúvida que eu sempre quis argumentar com algum entusiasta desse tipo de franquia, no mais é um ótimo texto.
Ah, eu só quis fazer uma comparação, não acho que seja frescura, na verdade, acho até que fica mais divertido assim do que no controle. É mais desafiador também. O jogo, mesmo acompanhado da guitarra-controle é muuuuito mais barato que uma guitarra de verdade, sem falar que aprender a tocar uma guitarra exige muito mais tempo e dedicação do que muitos são capazes de conseguir. Eu mesma nunca teria o tempo necessário pra aprender a tocar qualquer instrumento que fosse. Agora, você disse algo que realmente é triste: o jogo te obriga a comprar o periférico. Antes dava pra jogar no controle, agora só se joga com a guitarra especificamente, e isso é desde as versões do PS3/X360 em diante. Conheço gente que gosta muito de GH, mas só sabe jogar bem com o controle. Valeu, Cocamonga!!! o/
Pelo review, vi que tu gostou bastante do jogo, Angela. Mas, também pelo review, eu acabei não me interessando por ele e até achando um jogo ruim/preguiçoso. Mas calma, eu explico.
Essa coisa das gravações em live action acontecendo ao fundo enquanto você toca uma música, me parece algo muito "fácil" de fazer e inserir ali. Imagine criar toda a platéia e reações para ela, como era nos antigos (não que a platéia fosse super complexa e tal, mas exigia um trabalho pra ser feito) e imagine catar vídeos de certa banda na internet e colocar de fundo do jogo. Não te parece bem mais fácil de fazer?
Outra: 42 músicas? Não que eu queira o Spotify inteiro dentro do jogo, mas sério, um Blu-Ray tem pelo menos 25 GB, não dava para pôr pelo menos umas 70 a 100 músicas? Na minha visão, os avanços tecnológicos deviam somar avanços aos jogos, e isso não aconteceu aqui pelo que vi, pois é a mesma quantidade média de músicas dos jogos anteriores.
Mais outra: sou totalmente contra recursos como esse Guitar Hero TV. Imagine o Guitar Hero 3 que você citou no começo: se você quiser jogá-lo hoje, você joga, faz a campanha, zera, desbloqueia músicas. Mas e essa GHTV? Vai estar funcionando daqui a 10~15 anos? Eu não gosto desses recursos online pois acho que eles tiram o "brilho eterno" dos jogos, transformando eles em coisas comerciais "do momento" que depois perdem metade da graça, afinal com o desligamento dos servidores, muito do conteúdo vai embora. O desbloqueio de músicas, bem como o de lutadores em jogos de luta, de pistas em jogos de corrida, etc, era algo que aumentava muito a diversão dos games de outrora, e agora tudo tão fácil ao custo de uma DLC ou de uma conexão na internet, não me parece incrementar na diversão ou instigar a jogatina, mas sim um fator que, como falei, estraga o game a longo prazo.
Eu tô apreensivo com o caminho que os games estão tomando ultimamente. Cada vez mais eles me parecem produtos puramente comerciais, não que nunca tenham sido, mas ultimamente, estão com um ar de "descartável" muito maior, tal qual a música..
Williiiiii, como vais? Desculpa a demora pra te responder!
Não achei completamente preguiçoso o desenvolvimento do jogo. Explicando: a parte em que você pega o videoclipe da banda e insere no jogo é apenas no GHTV. No modo normal de jogo, foram contratados atores, bandas e plateia para gravar as cenas dos shows e as reações, ou seja, não foram vídeos prontos inseridos ali, houve sim uma preocupação por parte dos devs nesse aspecto.
Eu também achei 42 músicas bem pouco, não só pelo tamanho do blu-ray (como você mesmo mencionou), mas pelo fato da transição entre músicas ser bem rápida. Veja, no Guitar Hero III: Legends of Rock, nós também temos 42 músicas. Só que no GHIII, você toca uma música, o jogo te exibe o resultado, volta pro menu e você escolhe uma nova música. Isso tudo somado ao tempo dos loadings dá a impressão de que o jogo é longo. GHL possui 42 músicas, mas são divididas por shows, então você entra em um show e toca as 4/5 músicas do show de uma vez, em sequência. O resultado de todas é mostrado somente ao fim de cada show, então o jogo flui muito mais rápido, o que dá a impressão de 42 músicas ser absurdamente pouco, mas na verdade nem é.
Eu também já me perguntei sobre o lifespan do GHTV. Creio que seja uma boa ideia da Activision, ao decidir encerrar os servidores, que colete informações das músicas mais tocadas e mais escolhidas pelos jogadores online e lançar um pacote de expansão com elas, assim como foi lançado expansões para os jogos anteriores. Nós agradecemos.
Muito bom! Legal que tenha partido pro GHL nesta geração. Joguei na casa de um amigo e apanhei muito do novo esquema de botões e tal, fiquei com a síndrome de Galvão Bueno o tempo todo. Mas curti as mudanças justamente por isso: é um novo jogo de fato. Só fiquei triste de tirarem a bateria, mas faz parte, quem sabe mais pra frente? Ótimo escrito!
Até hoje eu tenho Síndrome de Galvão Bueno em algumas músicas, principalmente no GHTV que não tem como você ficar jogando alguma música infinitamente pra treinar.
Eu também acharia da hora se tivesse bateria, era uma das coisas mais bacanudas, mas acho que um novo jogo merecia mesmo alguma mudança. Talvez quisessem ter certeza antes de liberar mais recursos pros devs e fizeram só a guitarra mesmo... Quem sabe num próximo jogo?
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