Eu não sei quanto a vocês, mas 2014 foi um dos anos mais conturbados (e estressantes) que já tive. Minha rotina de trabalho tomava todo o meu tempo e energia, o que fez com que eu passasse a dedicar meu tempo livre apenas para jogos e atividades mais tranquilas, como barzinho de leve, encontro com amigos geeks para colocar o papo em dia ou uma boa sessão de séries na Netflix. Acabei parando de fazer várias outras coisas que gostava, simplesmente por não ter energia. Uma dessas coisas era ler. Eu andava sempre tão cansada que, se me arriscasse a ler algo, independentemente do horário ou da qualidade do texto, era o mesmo que tomar um sonífero.
No entanto, no final de 2014 (para fechar o ano tosco que tive) adoeci e tive que me afastar do serviço. Como deveria ficar sempre em casa, em repouso, sem condições nem de andar direito ou de dirigir (ou até falar), não me restava muito o que fazer, e foi aí que resolvi colocar em dia minha leitura. Estava com, pelo menos, 3 livros iniciados e ainda não terminados, além de mais alguns que me foram recomendados por amigos e que ainda não havia experimentado. Um desses livros se chama Jogador Número 1 e a pessoa que me recomendou apenas me disse que não me falaria nada do livro, mas que eu gostaria muito dele. E se eu soubesse que gostaria tanto assim, teria iniciado a leitura antes!
Jogador Número 1 (Ready Player One), é o primeiro livro de Ernest Cline - um geek assumido, e é um livro de ficção que se passa em 2045, num mundo onde a crise energética causada pela escassez de combustíveis fósseis praticamente destruiu as cidades e o meio ambiente, e onde o mundo virtual se tornou refúgio e não apenas um local de lazer, mas também de estudo e trabalho, fazendo com que muitas pessoas passassem a viver praticamente 24h online.
Esse mundo virtual é chamado de OASIS (Ontologically Anthropocentric Sensory Immersive Simulation), ou Simulação Imersiva Sensorial Ontologicamente Antropocêntrica, e foi criado pela Gregarious Simulation Systems, de propriedade dos senhores James Halliday e Ogden Morrow, personagens importantíssimos à trama. Foi lançado originalmente como um videogame de realidade virtual que, diferentemente dos jogos online de hoje, era gratuito. A GSS cobrava apenas uma taxa única de registro que custava 25 centavos e que dava direito a uma conta vitalícia. Os lucros da GSS eram tirados das taxas de viagens e teletransporte dentro do sistema OASIS, este composto de 27 setores, cada um com centenas de planetas diferentes.
Com a crise energética cada vez pior, a maioria das pessoas começaram a passar mais tempo no OASIS, e logo surgiram locais próprios para aluguel de salas e lojas para o comércio, além de outros tipos de serviço, todos dentro do OASIS. O governo também fornecia equipamentos de acesso ao OASIS (luvas virtuais e visor) para crianças e adolescentes que frequentassem a escola virtual, com o risco de perder o equipamento caso não alcançassem as médias escolares no final de cada ano letivo.
É nesse cenário que o protagonista Wade Watts vai descrever suas aventuras em busca de uma caça ao tesouro: a caça ao Ovo de Halliday, o Easter Egg que Halliday escondeu na realidade virtual e que dará ao primeiro que o encontrar toda a fortuna que pertencera a ele, além de se tornar dono do próprio OASIS.
Como boa apreciadora de temas futurísticos, a própria ambientação da história já me agradou bastante. Mas o que realmente vem para agradar a quem o lê são as várias referências que o autor faz à cultura pop dos anos 1980 - música, cinema, TV e jogos. Halliday era grande admirador dos anos 1980 e nunca escondera isso de seus fãs e da mídia. Seu avatar no OASIS, o mago Anorak, chegou a escrever um almanaque onde registrou todas as suas observações "sobre diversos videogames clássicos, histórias de ficção científica e fantasia, filmes, quadrinhos e cultura pop dos anos 1980 [...]". No decorrer da aventura, você vai se deparar com várias informações da época que Wade tirará diretamente do Almanaque de Anorak.
Claro que nem todos os nossos leitores nasceram antes ou durante os anos 1980. Eu mesma nasci em 1985, então não é raro você encontrar algumas referências que não lhe sejam muito familiares. Para esses casos em particular, o autor faz questão de dar explicações ou referências sobre Jogo X ou S, para que você se familiarize e acompanhe direitinho a história. E essas explicações são inseridas no próprio contexto do livro e não em notinhas de rodapé (que, IMO, quebram o ritmo de sua leitura). Por conter linguagem leve e descontraída, as explicações e a própria aventura em si não se tornam nada cansativas. Na verdade, é ainda mais bacana de ler!
Além disso, essas referências não são colocadas à toa. O OASIS possui planetas inteiros programados de forma a parecer um determinado jogo e os próprios enigmas que Halliday criou para a Caça são diretamente ligados a jogos e filmes da época. Quando você chega aos momentos em que os enigmas são decifrados, sua cabeça vai explodir com a forma em que os desafios são propostos e também vai sentir muita nostalgia. Jogos como Adventure, Galaga e Zork, personagens como Spectroman e Supaidaman de programas de estilo kaiju e tokusatsu, são mencionados o tempo inteiro na narrativa, para deleite do leitor.
Referências old school à parte, o próprio enredo do livro é sensacional, com seus devidos plot-twists, revelações de explodir a cabeça e com uma reta final de prender o fôlego. Os personagens são bem construídos e bem adaptados ao cenário do livro, Wade, Art3mis e Aech conquistam bem o leitor e, quando menos você esperar, vai estar torcendo para eles como se não houvesse amanhã. Além disso, como toda boa competição, há os vilões que cumprem bem o seu papel na leitura: conquistar a antipatia do leitor. Os membros da mega companhia de comunicações IOI (que eu sempre associo à Velox, rs), conhecidos como Os Seis, e seu líder, vão realmente te fazer odiar eles e aumentar sua torcida pelos protagonistas.
Jogador Número 1 é o típico livro recomendado para gente como a gente, geeks, gamers e saudosistas de plantão, trazendo uma história interessante, que prende sua atenção com suas devidas cotas de drama, diversão e sacadas inteligentes, personagens cativantes e vilões FDPs. Também é um livro que nos alerta, de certa forma, sobre o quão sozinhos podemos ficar/nos sentir quando damos atenção somente às nossas ganâncias e que, sem amigos, sem alguém que amemos, não somos capazes de chegar a lugar algum. Recomendo fortemente que peguem esse livro A-GO-RA e Vão Ler!
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PS1: Há planos de haver um filme sobre o livro, que será (ou está sendo) produzido pela Warner e, olha, se eles seguirem o que está descrito no livro (principalmente o final), vai ser de #cairocudabunda!
PS2: Eu tenho esse livro em formato .epub, caso alguém tenha interesse. Utilizo o app Legimi para ler no celular, um dos melhores leitores de epub que já experimentei. #ficaadica
* Revisado em 09/04/2018 às 21:13:13
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