Análise de Night Trap - Antes de Resident Evil, um jogo já colocava medo (só que não) nos jogadores. Se você não conhece a origem da ERSB, saiba que ele veio de um jogo típico do Tio Somari. Este, meus amigos, é o Night Trap!
Antes de Resident Evil, um jogo já colocava medo (só que não) nos jogadores. Se você não conhece a origem da ERSB, saiba que ele veio de um jogo típico do Tio Somari. Este, meus amigos, é o Night Trap!
Hoje em dia quando você ouve o termo “jogo cinematográfico”, provavelmente logo já pensa em The Last of Us ou GTA V. Mas nos anos 1990 esse termo já existia e não representava jogos top line como os citados acima. Naquela época, quando se dizia jogo cinematográfico, era literalmente... cinematográfico.
A grande novidade do momento eram jogos gravados em umas coisas estranhas, redondas, com um lado meio espelhado e que parecia ser de altíssima tecnologia. Era o início da grande era dos jogos em CDs (iniciado em 1988 com o PC Engine CD, para quem não sabia). Mas nesse caso, o console em questão era o famigerado Sega CD.
Naquele tempo, o Sega CD era, em teoria, o que havia de mais tecnológico no mercado, transformando o tecnicamente inferior 16 bits da SEGA, o Mega Drive, em um console mais potente, podendo exibir mais cores e mais efeitos, como o Mode 7, dentre outras coisas, que diga-se de passagem, já existiam no SNES. Para tanto, o Mega Drive precisaria do tal Sega CD acoplado nele, além de mais cabos de áudio e vídeo, além de uma fonte extra para alimentar o bicho. São essencialmente dois consoles em um, algo meio siamês e tal. A coisa não chamou atenção dos desenvolvedores, tendo poucos jogos lançados para ele, mas sendo esses poucos, dentre alguns, de muita boa qualidade, seja na conversão, seja no exclusivo em si... alguém conhece Sonic CD? Pois é! Nasceu aqui.
Entretanto, por utilizar a mídia CD-ROM, os desenvolvedores poderiam usar e abusar de incríveis 700 Mb de espaço para fazer o que quisessem! Cartuchos? Pfff... 1 Mb e olhe lá! Juntando isso à nova capacidade gráfica do console-monstro, os produtores começaram a libertar a mente como produtores... de filmes! Surgem os FMV (Full Motion Videos).
Vários jogos desse estilo foram lançados para diversas plataformas, incluindo os Arcades na década de 1980, usando a tecnologia Laser Disc, mas um jogo me chamou atenção especial, um jogo que sem que ninguém soubesse, se transformou em um divisor de águas na história dos games.
Night Trap conta a história de uma jovem espiã que recebe a missão de investigar a casa de uma família, aonde adolescentes desapareciam em festas dadas por lá. Se passando por uma dessas jovens, Kelly se infiltra em uma das festas, e aí começa a trama do jogo.
Logo no começo, você é apresentado aos agentes da SCAT, grupo espião que investiga o caso, e que lhes apresentam ao seu cargo como membro da equipe. Eles também lhe apresentam um controle de Mega Drive (na versão de Sega CD) com os comandos e tudo o que você deve fazer, que é basicamente auxiliar Kelly utilizando as armadilhas que a própria família instalou pela casa. Em resumo, você é algo como um hacker que ajuda a espiã a capturar os vilões do jogo e descobrir o motivo pelo qual as pessoas sempre desaparecem.
O jogo, por mais bizarro que seja, é bastante divertido e extremamente engraçado, visto a qualidade cinematográfica usada para fazer tudo. É bem ao estilo de filmes de terror trash do fim dos anos 1980, até porque afinal de contas, é exatamente isso.
Na verdade, Night Trap, chamado Scene of the Crime em seu estágio inicial, seria um jogo produzido para um console próprio da Hasbro chamado de NEMO, previsto para ser lançado em 1988 (daí o motivo de eu o classificar como um jogo dos anos 1980, e não 1990 conforme seu lançamento). Entretanto o console da empresa nunca chegou a ser lançado e todo o material gravado foi arquivado até o lançamento do Sega CD, em 1991. Nesta versão há um easter egg logo após os créditos.
Sobre a jogabilidade, é tudo bem simples e extremamente complexo ao mesmo tempo. Na sua tela você tem o quadro principal, aonde rola o filme/jogo e na parte de baixo, os comandos que você usa para trocar a câmera (cada cômodo da casa tem uma câmera e uma cena), ativar as armadilhas ou trocar o código de segurança da casa.
O grande barato do jogo (e também algo ruim, dependendo do ponto de vista), são as cenas. São oito cômodos da casa, o que representa oito cenas diferentes. O problema, porém, são que as cenas acontecem simultaneamente, portanto você não vai conseguir acompanhar o jogo como se fosse um filme, pois sempre irá perder alguma parte ou diálogo, e isso também incorpora a dificuldade do jogo. E falando em dificuldade, ele é difícil pra caramba!!! Talvez esse tenha sido um dos mais difíceis que já joguei na minha vida inteira (não, não é zoeira).
Você precisa prestar atenção em cada parte e identificar qual fala é importante. Um exemplo disso são os códigos de armadilhas da casa, que são representados por cores e são alterados várias vezes e você só poderá ativar as armadilhas com o código correto marcado. Tais códigos são falados pelos personagens e geralmente são em uma conversa aleatória, portanto o jogador tem de estar extremamente atento a cada detalhe, fala e tudo mais que estiver rolando na tela.
Para complicar ainda mais a coisa toda, existem alguns personagens chamados Augs, que são uma espécie de homem-macaco-ninja-vampiro-tecnológico (?) que sempre tentam foder com a vida do jogador, tentando capturar as outras moças que estão na casa. Sua missão se resume em pegar esses Augs e salvar a vida das garotas, ativando as armadilhas no momento certo (basta ficar apertando B até que a armadilha seja ativada). Os Augs vão aparecendo pelos cômodos da casa em vários momentos e caso você esteja com a câmera em outro ambiente, um beep soará, indicando que há um Aug por lá (e você tem de correr para procurar e tacá-lo na armadilha) e se você deixar muitos deles passarem, a cena é cortada para dentro do carro da SCAT, com o teu comandante te dando uma baita bronca e dizendo que você está fora do serviço, arrebentando o fio do controle do Mega Drive (na versão de Sega CD). Há também algumas cenas-chave com os Augs, como a deles capturando as moças. Nesse momento, cabe a você salvá-las ativando a armadilha no momento certo, ou seja, você precisa de timing e precisão além do que a do Olho de Thundera consegue ver, pois se você ativar a armadilha com a moça sobre ela ou depois que os Augs passam, é game over e nada de continue ou check point aqui. Entretanto os Augs sempre aparecem no mesmo lugar da casa e sempre no mesmo horário, e para te auxiliar, há um relógio no canto da tela informando a hora.
Isso tudo parece legal? Sim, até que sim. Mas aonde entra a bizarrice do tio Somari nisso tudo? Nas cenas, é claro!
Como eu disse, tudo parece bem estilo filme de terror trash dos anos 1980, então você verá muitos efeitos especiais bizarros, música típica da época e personagens com mullets.
Muito embora tudo isso, Night Trap conta com um elenco bem bacana. Talvez se você olhar com mais atenção, vai reparar que a atriz principal do filme/jogo é a Danna Plato, aquela mesma que fez a Kimberly do seriado Arnold, que passava no SBT até há pouco tempo atrás. Como se não bastasse, também temos no elenco Arthur Burghardt, que teve como último trabalho conhecido a voz de Thanatos em God of War: Ghost of Sparta (2010, PSP) e Blake Gibbons, que atuou em seriados como Criminal Mind, Dexter, CSI: Miami e outros. E isso é algo legal nesse jogo, ver como eram os atores de hoje atuando em um jogo cinematográfico de 1992.
E uma curiosidade interessante: você conhece a ERSB? Aquele órgão que coloca as letrinhas E, E+10, T, M, A e diz que as crianças hoje não podem jogar Call of Duty? Pois saibam que esse órgão de classificação etária para jogos foi criado à partir de uma polêmica gerada por Night Trap, devido à várias cenas de sangue e tudo mais.
Enfim, Night Trap não é um jogo ruim, apesar de tudo. É bastante engraçado pelo fator “filme trash”, e muito, mas muito complicado mesmo! A única forma que eu encontrei de zerar o jogo foi com um caderninho sempre do meu lado, anotando a hora exata na qual cada Aug iria aparecer, em qual cômodo da casa e já esperando seu ataque, além de muuuuuuuita paciência, pois só nisso eu levei pelo menos uns 10 game overs. E só lembrando que se der game over, você volta para o começo de tudo.
Se considerarmos como um jogo, é bem curtinho: mais ou menos uma hora e meia. Mas se virmos isso como um filme, ainda mais se levarmos em conta que se der game over em qualquer parte da trama, voltamos pro começo de tudo... então é coisa pra caramba.
Night Trap ainda teve edições para outros consoles, como o Sega CD 32X (!), 3DO e PC, que contam com uma resolução um tanto melhores, mais cores e tal (lembre-se: é 1992/93. Não espere 720p de resolução), além de um final secreto.
Finalizando, esse é um jogo que merece atenção. É divertido, difícil e com um final supreendente. Tem tudo que um jogo de hoje deveria ter e vale a pena jogar, seja pela experiência, seja pela bizarrice.
já ouvi falar muito desse, pelo que me falaram, o que disseram sobre o jogo é meio exagerado. que incentivava a fazer sequestro, badernismo e a violência contra mulheres....
vocês entenderam....se o jogo fosse do Japão, aí sim estaria preocupado....
penso que esse game é mais terror de comédia, tipo todo mundo em pânico. mas como nunca joguei, posso me enganar
Pra mim isso tudo deixa claro que americano adora procurar chifre em cabeça de cavalo. Pra esses, os bebês não nascem, os bebês se materializam do éter, sem ato sexual nem nada. Por outro lado, se morre de "n" jeitos...
Tipo, Jogos Mortais (aquele do "Fofão do fim dos tempos")? De boa. Já um Garotas Selvagens...
Achei fabuloso o fato de mostrar um jogo como esse. Jogos assim são muito raros de se ver em blogs brasileiros, e é isso que faz a diferença. E é ótimo que alguém invista em jogá-los para mostrar mesmo para a galera como é. Agora, me diz uma coisa, ele é mais difícil que Phantasmagoria? Eu quero ver mais jogos nesse estilo, tente trazer por exemplo, Black Dahlia, MadDog e outros mais que sejam FMV. Para mim é leitura garantida.
@leandro pois é! Tanto que por isso criaram a ERSB, como eu disse ali no escrito. Mas não chegava a tanto, pelo meu ponto de vista xD
@marvox Cara, na real eu não sei. Também preciso jogar outros FMV. Comecei a jogar Corpse Killer, mas não consegui ir muito além Vou tentar pegar pra jogar com mais calma. MadDog McCree também é outro que quero muito jogar. Não se preocupa que você ainda vai ouvir alar bastante de FMV por aqui, se depender de mim
E sim, também achei legal esse lance dos atores (uma pena essa Danna Plato ter tido um final tão trágico na vida...)
Bicho, eu ri demais do "algo meio siamês", hauahuahuahuahua, nunca tinha parado pra pensar no Sega Cd dessa forma. Jamais esquecerei, agora!
Nunca tinha ouvido falar nesse jogo, adoro teus textos justamente por isso: sempre fico conhecendo algo engraçado-bizarro! Essa Kelly não tem a mínima cara de espiã, e os SCAT parecem uns Go-go-Boys dos 80’s! Muito bom!
O jogo me pareceu uma espécie de Big Brother interativo com esses tais homens-macacos-ninjas-vampiros-tecnológicos-bonecos-de-massa-dos-power-rangers, e eu gostei muito do lance de tudo acontecer ao mesmo tempo nas salas. Além disso, escolheram atores bem melhores que os de Resident Evil 1, huahuahua
Eu só queria que tivessem posto, só pra dar uma "trolladinha", o Game Over do jogo de FMV de Power Rangers do Sega CD. Um, onde, óbvio, o Centro de Comando é destruído.
Pois é, eu sempre que posso tento trazer algo que eu já joguei e que sei que não é tanto do conhecimento da galera. E sempre que é possível, procuro me aprofundar mais no jogo quando gosto ou "gooooosto". Nesse caso descobri do console da Hasbro e da ERSB. Sim, ele é meio que um BBB interativo mesmo XD E até onde sei, há muitos, MUITOS jogos desse estilo por aí, inclusive que são lançados até hoje, como por exemplo o filme "Viagem ao centro da terra", que teve uma versão "jogável" lançado para Blu-ray em 2011, se não me engano. Eu particularmente gosto das coisas fora do convencional.
E falando nisso, qualquer dia eu vou procurar meus rascunhos de um projeto de livro que escrevi com uns amigos na sexta série sobre video games. Lá tem bastante coisa interessante também XD
Mais um jogo tirado do fundo do baú, hwa hwa hwa. Nunca joguei jogos desse gênero, então nem tenho muito o que falar, mas bacana saber um pouco mais sobre a história dos jogos, com a criação da infame ERSB, que se parar para olhar, não está muito distante do também infame "Parental Advisory". Parabéns pelo escrito, abraço!
por falar em ESRB, eu sempre achei as recomendações dela totalmente furadas, vou dar exemplos. o Assassins Creed (1) Tinha classificação M+17 por sangue e violencia, mas o jogo é mais leve que muito filme zoeiro-adolescente-mamilento, e MGS4 também é +17, e um dos motivos segundo a caixa é humor grosseiro, ta chamando o humor de MGS de ruim seus putos? xD Enquanto isso Nathan Drake mata meio mundo sem motivo algum e o jogo é +14, só por que o sangue parece groselha
@Somari Hugo, cara.. sinceramente eu acho q tu é uma das figuras mais importantes q eu conheço no universo dos videogames. Sério mesmo. Onde, quando, como, pq, pra q algum dia eu iria conhecer histórias como essa e de muitos outros jogos q tu mostra pra gente? Faça um favor man, antes de tu dar game over passa esse legado adiante!!! Independente de gostar ou não de jogos bizarros eu faço questão de aprender todo esse conhecimento q tu passa pra gente! Até pq reconheço q pra passar o conhecimento vc precisa da experiência e não é qualquer um q tem o poder pra se interessar por esse tipo de experiência. Ótimo escrito. Parabéns!
@Tchula Enquanto não tem o "curtir" vai no mode manual mesmo! Haha!!
Paulo, classificações etárias são necessárias sim, o problema é que existem muitos casos em que elas não parecem ser feitas em cima de algum estudo psicológico ou algo do tipo. Fora que no caso de jogos, eu não sei como funciona o processo, mas duvido muito que eles são testados por inteiro para receber tal classificação.
No caso do Mortal Kombat é fácil, é um jogo de luta onde a violência é explicita a todo momento, então faz sentido indicar só para um público maior mesmo.
@Tchulanguero @kratosvudu Poxa pessoal... Desse jeito eu fico corado ^///^ UEHAUHE Valeu mesmo pelos parabéns! É que, como eu disse antes, se eu jogo um jogo e gosto, procuro dar uma estudada rápida nele e aí acho uma curiosidade, que puxa outra, que puxa outra e por aí vai. E eu já to procurando o que jogar para o meu escrito de natal
Cara, este texto revelou mais uma de minhas vergonhas gamísticas, pois eu tenho um Sega CD e ainda não joguei tudo o que quero, muito por falta de tempo. Acho que agora dá pra resolver essa situação, hehe...
Night Trap segue a mesma linha do Double Switch, "um bando de atores reais em um jogo que não faz nenhum sentido, mas que estão lá só pra mostrar que os cartuchos estão fora de moda e a onda agora são os CDs. Chupa, Nintendo! Genesis does..."
Por incrível que pareça, o jogo consegue divertir, mesmo. Joguei aqui alguns minutos, mas tem uma coisa: Por que será que quase todo jogo de Sega CD que joguei é tão complicado? Não que sejam difíceis, mas não dão chance de erro. Se errar volta no começo... Aloko!
Valeu por escrever este texto, pois reativou meu interesse no Sega CD - no qual eu tinha jogado apenas Snatcher - e por conta disso já tenho minha lista de games para jogar este fim de ano
Bons tempos de Arnold!!!! particularmente joguei muito no mega cd e no sega cd foram poucos títulos...quando o Sega cd cresceu em termos de divulgação muitos já estavam indo para o sega saturn e o 32x aos poucos ia ficando de lado...triste!!! night-trap joguei pouco e considero o jogo um pouco complexo...mas tive bons momentos da época!!!!saudades de Danna Plato...valeu!
Compartilhe