Sem muito alarde, a segunda temporada de Castlevania, animação baseada no terceiro jogo da série homônima, chegou ao catálogo da Netflix no último dia 26 de outubro. Desta vez a série trouxe um total de oito episódios, o dobro da anterior, o que permitiu um desenvolvimento bem mais cadenciado do que o exibido anteriormente.
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Uma coisa que é preciso ter em mente é que essa definitivamente não é uma temporada que irá caminhar para uma ação desenfreada e constante. Não que as cenas de ação não continuem lá com toda a sua violência visceral, mas aparecem apenas em momentos chave, em que realmente se fazem necessárias. O principal fica mesmo com os dramas de cada personagem, dessa vez desenvolvidos com mais calma devido ao número maior de episódios.
Drácula ainda continua o centro das atenções, com sua história um pouco mais detalhada e se entrelaçando com a de seu filho Alucard, que também é um de seus antagonistas. Aqui temos um vampiro extremamente poderoso, com conhecimento acumulado de séculos, que nutre um ódio pela humanidade devido a forma como ela lhe tratou, mas que ao mesmo tempo se encontra em um estado tão depressivo que mal consegue demonstrar essa energia. Ao longo da série é nítido que o ser lendário teria condições de resolver todos os seus problemas sem maiores esforços, mas está simplesmente cansado demais para lidar com eles e no final das contas pouco se importa com isso.
Junto a essa trama novos personagens da corte de Drácula também são apresentados, e embora muitos deles sejam completamente previsíveis e caricatos, isso ajuda justamente a fazer um contraponto ao desânimo do vampiro ante questões tão tolas e pequenas. Por outro lado alguns deles recebem o respeito de Drácula, e é interessante ver o desenvolvimento dessas relações e como elas surgiram.
Do lado dos heróis o desenvolvimento segue na mesma linha, em especial para o caçador de criaturas da noite Trevor e mestiço Alucard. Enquanto a maga Syphia serve como a cola que une os dois personagens, ambos tem que superar o seu próprio passado para conseguir seguir em frente. Enquanto Trevor sente o peso da grandiosidade do clã Belmont e reluta em trilhar os mesmos passos de seus ancestrais, Alucard se sente dividido entre sua natureza meio humana e meio vampira, além do fato de que sua missão no final envolve matar Drácula, que apesar de tudo ainda é seu pai. Esse conflito de sentimentos aliás é que proporciona as cenas mais dramáticas e simbólicas da série, da primeira a última cena.
Embora toda essa carga dramática dê um tom mais robusto a série, ao invés de simplesmente focar em batalhas infindáveis dos protagonistas contra criaturas da noite, ela não resiste a uma análise mais profunda. É preciso rapidamente aceitar que as motivações dos personagens nem sempre são muito consistentes, ainda que o desenvolvimento deles tenha melhorado muito entre uma temporada e outra. Mas dado o objetivo da série, de ser a transposição de uma história muito mais simples de um jogo de 1992 para os tempos atuais, em especial para os fãs, talvez esse seja um problema não muito difícil de ser relevado.
No final das contas, ainda que não seja perfeita, a segunda temporada de Castlevania demonstrou uma boa evolução em relação a anterior. Tecnicamente ela segue exatamente o mesmo nível de antes, com ambientações muito bem feitas e animações não muito fluidas, mas o foco maior no desenvolvimento dos personagens em detrimento das cenas de ação faz com que esse seja um problema que pouco incomoda. Claro que vários ganchos foram deixados para uma próxima temporada, que já foi confirmada pela Netflix, mas o arco apresentado foi muito bem fechado, com um final que faz jus a toda a construção da série até aqui.
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