No final do primeiro semestre fui convidado para fazer parte da equipe do Vão Jogar! e apesar de já ter escrito algumas coisas por aqui, não me sentia, digamos, "devidamente" apresentado. Não que isso seja necessário e nem mesmo pretendo entediar vocês com "Oi pessoal. Meu nome é Rafael, sou de Fortaleza...", mas vou aproveitar esse momento exatamente como uma oportunidade pra me "mostrar" melhor, contar um pouco das minhas experiências e de como isso me definiu como gamer, ou seja, fazer a retrospectiva da minha vida com videogames.
Primeira vez
Hoje tenho 31 anos e não consigo lembrar com exatidão qual foi a minha primeira experiência com algum console. A certeza é que foi com o Atari 2600 no início da década de 1990, entre meus 6 e 8 anos. Eu morava numa casa de família grande, entre 8 a 10 pessoas e lembro que um primo mais velho tinha um Atari desses lá em casa. Não lembro se era dele mesmo ou emprestado, mas lembro apenas que a gente ficava num cantinho da sala jogando River Raid e Pac-Man. Na mesma época eu costumava passar finais de semana na casa de uns outros primos
Boa parte dos jogos de Atari eram (são) como meros desafios, apenas pra determinar quem conseguia chegar mais longe ou obter a melhor pontuação. Isso sem dúvidas era muito divertido, mas ainda não havia claramente a ideia de gênero de jogos. O que quero dizer com isso é que apesar de tecnicamente existir diferenciação entre os gêneros, a experiência era bem semelhante para a maioria dos jogos. Era sempre uma disputa.
Realmente não consigo lembrar de certos eventos na exata ordem de acontecimento. Depois do Atari , por exemplo, não sei dizer em qual momento eu tive o primeiro contato com um console 8 bits. O fato é que nessa época um vizinho tinha um Turbo Game (CCE) e os jogos Robocop e The Punisher. E lembram o que acabei de mencionar sobre os gêneros dos jogos no Atari ? Então, esses dois jogos citados e muitos outros da era 8 bits mudaram drasticamente a experiência que tínhamos. Havia agora questão da imersão, o detalhamento dos cenários, as novas mecânicas, objetivos mais complexos e história! Deixamos de jogar apenas pra quebrar recordes ou disputas e começamos a nos envolver mais com os jogos.
Eu não sabia o que era NES
Meu primeiro console foi um Top System (Milmar) e era mais um dos vários clones do NES que, pra falar a verdade, eu não fazia a menor ideia do que era esse tal de NES. Minha mãe era funcionária pública, não tinha uma renda muito alta e acredito que ela tenha sacrificado um bom dinheiro pra conseguir me dar esse console de presente. Ele veio com um jogo "parecido" com Star Fox, mas muito pior. Digo parecido apenas porque era "3D", de avião e de tiro, mas era muito ruim. Enfim, e como já era de se esperar, não havia dinheiro pra comprar cartuchos. Eu nunca comprei nenhum cartucho, essa é a verdade. Foi aí que comecei a alugar (depois de muito implorar pra fazer o cadastro na locadora) e também pedir emprestado de amigos. Os jogos que mais me marcaram nessa época foram Super Mario Bros. 3 e os da série Mega Man. Como era difícil conseguir dinheiro até pra alugar cartuchos, eu passava muito tempo com um mesmo jogo e depois de devolver, deixava passar um tempo e já pegava emprestado de novo. Sem contar toda aquela questão da dificuldade da época, que aumentava bastante o tempo de gameplay dos jogos.
Uma das coisas que eu realmente gostaria de lembrar é qual foi o destino do meu Top System. Não sei se minha mãe vendeu ou se deu pra alguém por algum motivo, honestamente não sei. E eu me sinto triste por não ter, à partir daí, começado a minha coleção.
Ah! E eu joguei Battletoads e não finalizei, claro.
A era SEGA
Minha mãe costumava alugar fitas VHS numa locadora que ficava a uns cinco quarteirões da nossa casa e em um dia qualquer eu fui com ela. Nesse dia vi umas duas ou três TVs que ficavam atrás do balcão de atendimento dessa locadora. Eram Mega Drives "rodando" Streets of Rage e Sonic: The Hedgehog. Eu lembro que olhava fixamente pra aquele cenário da primeira fase do Streets of Rage e sentia uma coisa tão intensa que até hoje não sei explicar. "Como aquele jogo era... possível? Tão real...". Depois de muito insistir, convenci minha mãe a ir um outro dia na locadora pra eu poder jogar. Cara, foi uma das melhores experiências de toda a minha vida.
E sabe? Aqueles primos
Quanto ao Master System, eu lembro que jogava pouco porque ele era raro por onde eu morava. Só tinha um outro vizinho que tinha um, mas os pais dele eram muito rígidos e não gostavam de deixar outras crianças ficarem fazendo "bagunça" na casa deles. Na verdade, outros "vizinhos" tinham sim Master System, mas eu só tinha a chance de jogar quando algum amigo deles que também era meu amigo me chamava pra ir na casa de um deles.
O começo do vício (parte 1)
Um dia um outro vizinho (nenhum repetido até agora hehe!!) me chamou pra ir com ele num lugar. Ele não falou o que íamos fazer, pelo menos não lembro. Era na casa de um amigo dele, na rua ao lado. Inclusive era uma rua que eu frequentava pouco exatamente por eu não ter nenhum amigo por lá. Entramos na casa, atravessamos a sala e sentamos num cantinho um pouco ao lado. Meu amigo entregou umas moedas pro amigo dele e de repente a gente estava ali, jogando Super Mario World numa TV preto e branco, com um único controle. E assim eu conheci o SNES.
Deixem eu explicar logo uma coisa. Lembram que eu falei que minha mãe não ganhava tão bem e que cito primos "ricos"? Então, eu era uma criança que adorava jogar videogame, mas não tinha muito acesso a isso com tanta facilidade, pelo menos não em relação à aquisições. Como eu não tinha acesso à revistas, tudo chegava até mim de surpresa. Hoje eu penso que foi melhor assim, afinal sinto que era mais gosto "descobrir" essas experiências.
Mas no meio dessas "descobertas" eu acabei encontrado um grande problema. Eu me tornei viciado, de verdade. As locadoras de videogame começaram a crescer e com a implantação do Plano Real, a "facilidade" de se conseguir consoles e jogos com fornecedores em feiras de rua crescia cada vez mais e o SNES dominava na minha região. Eu era uma criança e queria apenas jogar videogame o tempo todo. Com qualquer trocado que eu conseguia já corria pra locadora. Pedia minha mãe, meus tios, padrinhos. Não havia limite. Cheguei ao ponto de abrir a bolsa minha mãe ou a carteira do meu tio (mais de uma vez) e pegar dinheiro, ou seja, roubar. Eu apanhei por isso, mas não conseguia me controlar. Minha mãe me educou muito bem, eu nunca fiz nada, absolutamente nada que fosse considerado negligência dela, mas ela não contava que eu iria gostar tanto de jogar videogame ao ponto de ficar viciado. O que ela fez então? Mais uma vez ela sacrificou algum dinheiro e me deu um SNES de presente! Isso seria comovente se não fosse trágico. Passei algum tempo com o SNES que veio com o F-Zero que cansei de jogar. Convenci a ela que deveria pagar 150 reais (na época) pra destravar o console, assim eu poderia alugar cartuchos piratas que eram a coisa mais comum naqueles tempos, mas não adiantou muito. Por algum tempo eu conseguia me contentar com os jogos alugados e emprestados, mas aí a Sony apareceu trazendo com ela o PlayStation 1 e a caralhada de jogos que a maioria já conhece.
Se você achou que tirar dinheiro escondido da bolsa da mãe foi coisa de
A tecnologia que "salvou"
Na adolescência consegui me recuperar com a ajuda da prática de um esporte radical, o Aggressive Inline Skates ou simplesmente patins (que foi uma febre nacional né?), me tornando uma pessoa mais "saudável". Ainda acompanhei boa parte da era PlayStation 1 e um pouco da era Nintendo 64, esse último sendo algo bem mais raro por onde eu morava. Como o N64 ainda usava cartuchos enquanto o PS1 já usava CDs, a questão da pirataria pesou muito, afinal copiar CDs era muito mais simples e barato do que copiar cartuchos. Mas ainda sim frequentava bastante as locadoras e raramente conseguia juntar dinheiro pra alugar um PlayStation 1. Nessa mesma época os estudos ficavam cada vez mais intensos e devido à ótima educação da minha mãe, nunca deixei que isso fosse afetado pelo meu problema, ou seja, fui diminuindo o ritmo (dos jogos). Ah! E lembrando que o meu maior "feito" numa locadora foi conseguir finalizar Resident Evil 1 sem usar memory card, com mais de seis ou sete horas de gameplay. No final, o dono da locadora me deu dois pacotes de Cheetos de queijo como prêmio. Quem sabe eu deveria ter dado esses salgadinhos pra minha mãe e dizer o quão tudo que eu fiz valeu a pena né? Só que não...
E ela, ainda funcionária pública (que se aposentou como tal), começou a trabalhar junto com tecnologia informatizada, ou seja, os computadores começavam a tomar espaço. Ela conseguiu comprar um PC 486 133 MHz com uns 8 Mb de memória RAM (com alguns upgrades ao longo do tempo), eu acho. Nesse momento a minha vida já estava definida mesmo sem eu saber (hoje sou programador de sistemas). Então eu não precisava mais sair de casa pra jogar videogame, eu tinha tudo ali, TUDO. Além dos jogos do PC propriamente ditos, já conseguia jogar com os emuladores do SNES e do Mega Drive, então não me faltava mais nada. Minto, faltava sim, uma placa de vídeo pra jogar os jogos do PS1 hehe!! Lembro bem como minha mãe falava que o Doom era o "jogo da mão". E ela, de tão contente que estava com isso tudo (eu gosto de acreditar nisso), se permitiu até fazer a assinatura de uma revista da época, a PC CD-ROM, eu acho. Era baratinho e vinha muita coisa bacana. Conheci muitos jogos através dessa revista, mas infelizmente devido à uma reforma que houve na nossa casa na época eu perdi muita coisa, praticamente tudo.
E eu ainda conheci um amigo na escola que também já tinha um PC, era um daqueles Compaq Presario Pentium, top demais!Começamos a andar juntos e jogávamos os mesmos jogos: Doom, Quake, Command & Conquer e muitos outros. Nos tornamos grandes amigos, de verdade! Aí veio o Counter-Strike...
A recaída (Parte 2)
Começava aí aquela história das LAN Houses, uma "praga" que se espalhou de repente. Jogar Counter-Strike em casa só tinha graça se você pudesse pagar uma internet banda larga, pois o multiplayer é o foco do jogo, todos sabem disso. E o que essas LAN Houses fizeram? Permitiram que
Pois é, e com isso eu também perdi TODA a era Xbox e Playstation 2. Quando eu digo TODA é toda mesmo, do começo ao fim. Eu desconhecia esse console Xbox (e vários outros), acreditem. E se alguém me perguntar se eu me arrependo das minhas escolhas eu respondo que depende do ponto de vista. Eu joguei CS por muito tempo e durante esse período eu me diverti muito, isso é um fato. Me diverti com apenas um jogo, mas me diverti e todos concordam que quando falamos de videogames, o mais importante é a diversão, não é? Então por esse ponto de vista eu não me arrependo nenhum pouco, mas se for considerar os inúmeros jogos e experiências que perdi nesse período, realmente é algo de se lamentar amargamente.
E a vida segue
Antes mesmo de concluir a faculdade eu já tinha conseguido meu primeiro emprego de verdade como desenvolvedor de sistemas, não cheguei sequer a fazer estágio, fui direto pra chibata! E mesmo na rotina de estudos eu já demonstrava que ia largando o CS, principalmente pela popularização da internet banda larga e o surgimento de jogos online multiplayer de outros gêneros, diminuindo consideravelmente o volume de jogadores de CS. As LAN Houses perderam lugar no comércio e hoje em dia o pessoal só vai na LAN pra imprimir o currículo ou a segunda via do boleto.
Após muitos anos, com o recebimento do meu primeiro salário eu comprei o meu terceiro console, um PlayStation 2. Acho que nessa época já existia o PlayStation 3 Slim, não lembro bem. E foi através do PS2 que eu conheci a minha franquia favorita: God of War. Esse jogo, independente de fatores críticos, me encantou de uma forma espetacular. Bom, deve ter sido porque foi o jogo que me recebeu na geração que eu perdi, então isso deve ter contribuído bastante, não sei. Depois de um tempo consegui também comprar um bundle do Guitar Hero 3 que vem com a guitarra e sem dúvida foi uma das melhores coisas que eu fiz, principalmente por causa do Guitar Hero: Metallica, que jogo massa!
Infelizmente eu tive que fazer uma escolha. Se eu quisesse passar pra "nova geração" (PS3) eu teria que vender o meu PS2, pois quem é do ramo sabe que vida de programador não é tão fácil assim como parece! E assim o fiz, vendi o PS2 e o PS3 é o meu console atual e principal desde então. Depois de um tempo eu juntei dinheiro e consegui comprar um Nintendo Wii, mas confesso que não faço o mesmo investimento nele como faço no PS3.
Hoje a vida é focada no trabalho e na minha família e jogar videogame é algo que faço de menos, apesar de ser apaixonado por isso. Mas meus planos consistem em ter paciência, pois quando eu for um idoso não vou fazer outra coisa a não ser jogar videogame e cuidar dos meus bichanos. Assim espero! E enquanto esses dias não chegam, aqui estou eu escrevendo um "resumo" da minha vida, a minha retrospectiva.
No mais, Vão Jogar!
* Revisado em 16/12/2016 às 16:50:55
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