Ainda assim, mesmo dentro destes grupos, é complicado chegar a uma definição precisa sobre o quanto um jogo deve ou não durar. Alguns vão alegar que o ideal deve girar em torno de 20 horas, o que já é um tamanho considerável, enquanto outros vão dizer algo em torno de 50 ou mais. Para os desenvolvedores é complicado focar somente em parte do público com base neste perfil, uma vez que o ideal na maioria dos casos é sempre atingir o mais número de jogadores possível, então é necessário pensar em um sistema mais maleável. Felizmente, existem alguns jogos que parecem estar mais atentos a esta questão e possuem sistemas que se adaptam melhor aos diferentes perfis de jogadores. Uma experiência recente que tive com isso foi em Xenoblade Chronicles X, lançado para o Wii U no final de 2015.
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Vídeo Degustação - Xenoblade Chronicles X
A humanidade sem o seu pálido ponto azul
Em Xenoblade X um dos pontos que gerou uma certa controvérsia foi a alteração do sistema de progressão da história. Diferente de seu antecessor, que seguia um sistema tradicional com uma longa história cheia de reviravoltas e que obrigatoriamente consumia muitas horas do jogador, no segundo título da série as coisas foram totalmente divididas. A história principal foi distribuída em doze missões que podem ser acessadas livremente pelo jogador, ainda que na sequência e com alguns pré-requisitos. Por um lado, uma trama mais complexa foi deixada de lado em prol de algo mais simples e direto, mas por outro o jogador passou a ter um controle maior de quando prosseguir na história e se isto deveria transcorrer de maneira mais rápida ou lenta.
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Eu pessoalmente optei por aproveitar o jogo mais extensivamente, explorando ao máximo as opções que ele me deu, fazendo várias missões secundárias que foram me mostrando melhor como era o universo daquele jogo. No entanto, o tempo todo isto era uma opção minha, sendo que nada disto foi obrigatório. Se eu quisesse aproveitar somente o principal que o jogo oferecia, eu com certeza não chegaria nem perto das duzentas e poucas horas que acabei acumulando.
Ainda sim Xenoblade X exige um certo tempo do jogador, independente do quanto ele queira explorar e do controle que ele tenha sobre sua progressão. Então temos o exemplo da liberdade completa nesse sentido com The Legend of Zelda: Breath of the Wild, último grande título lançado para o Wii U agora no princípio de Março, com versão também para o Switch. Ao nos apresentar um mundo aberto completamente sem amarras, o novo Zelda permite que um jogador possa terminá-lo em poucas horas ou se perca completamente com a nova Hyrule.
Veja mais em:
Vídeo Degustação - The Legend of Zelda: Breath of the Wild
Salvo a introdução, que serve para que você consiga os itens básicos necessários para explorar qualquer outro canto do jogo, o que pode ser feito em pouco mais de uma hora, é possível ir diretamente para o chefão final e zerar o jogo a qualquer momento. Não é por menos que o título tem feito tanto sucesso entre os speedrunners. Eu mesmo experimentei logo após ser liberado da região inicial ir até o Castelo de Ganon, e embora tenha apanhado um pouco para chegar lá, consegui entrar no local. Obviamente não era o meu objetivo ter uma aventura tão curta, então dei meia volta e ainda estou explorando a maior parte das possibilidades que o jogo me oferece, literalmente enrolando para terminá-lo.
O interessante é que mesmo para quem quer explorar mais, é possível definir como será essa progressão. Para os que se importam somente com a história, os objetivos principais também são expostos logo de cara, sem nenhuma enrolação ou obstáculo. Já para quem deseja algo mais duradouro, o jogo também oferece conteúdo suficiente para que se gastem muitas horas jogando.
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Para mim, o que eu vi como uma novidade muito bem vinda em Xenoblade X, se aperfeiçoou muito em Breath of the Wild. É difícil nos dias atuais verem jogos que se moldam tão bem ao estilo de jogo de cada jogador. Para ser justo, não é qualquer gênero que permite essa maleabilidade, mas principalmente em jogos de mundo aberto, como são os dois casos, ter essa liberdade de escolher o que você quer aproveitar e como você quer aproveitar, sem sentir que sua experiência está sendo incompleta, é algo realmente valioso.
Algo que vai na contramão disso é o desafio imposto aos desenvolvedores pelas produtoras de prender o jogador ao jogo pelo maior tempo possível, sendo daí que surgem tramas completamente vazias e esticadas, mapas gigantescos cheio de pontos desinteressantes e modos online que estão presentes somente para uma longevidade artificial do título, afinal, não é uma fórmula fácil de se alcançar. A própria série Zelda já foi alvo de crítica nesse sentido, em especial em seu título anterior, Skyward Sword, que nos obrigava a revisitar várias vezes um mesmo local com objetivos repetitivos apenas para uma maior duração do jogo.
Claro que existem outros exemplos de jogos que também fazem o mesmo, mas eu acho válido falar sobre esses dois, em especial no caso de Zelda, que além de ser uma série antiga de uma empresa muito conservadora, a Nintendo, veio quebrando tantos paradigmas, tanto da série quanto de jogos de mundo aberto em si. Obviamente nem tudo é perfeito e ainda há muito o que evoluir nesse sentido, eu também não sei dizer o quanto isso será tendência no mercado de jogos, mas com certeza cada vez mais é esse tipo de jogo que eu quero jogar.
* Revisado em 24/04/2017 às 16:21:23