Já é sabido de todos nós que cada nova geração de consoles traz grandes novidades em algum aspecto. Desde os primórdios dos videogames até a geração passada – nossa querida 7ª geração que nos apresentou ao PS3, Xbox 360 e Nintendo Wii – todo surgimento de uma nova geração foi marcada por algum avanço tecnológico que nos permitiu algo mais nos consoles, como a evolução das mídias. Do nosso velho cartucho de 4kb do Atari 2600, passamos por aumento de capacidade e processamento de dados nos mesmos que nos sustentaram até o N64. Aí vieram os CDs como uma alternativa mais barata e com maior capacidade, passando depois pelos DVDs até chegarmos aos atuais discos Blu-ray, que garantem reprodução de áudio e vídeo em alta qualidade e alta densidade de armazenamento de dados.
Um bom tempo atrás, na época do lançamento do PlayStation 4, eu escrevi aqui um pouco das minhas expectativas e medos em relação a ele. Aparentemente, antes do lançamento e de saber o que o console realmente oferecia, a impressão que eu tinha era a de que ele – o aparelho em si – não oferecia mudanças tão drásticas ao ponto de demandar uma nova geração inteira de consoles, afinal, o Blu-ray já era a mídia utilizada pelo PlayStation 3 e estava muito bem, obrigada! Inclusive, cheguei a conversar com algumas pessoas que a Microsoft sim, faria bom uso da mudança de DVD para BD. Mas enfim, eu era apenas uma noob #chateada com as novidades.
O fato é que, agora que possuo um PS4, posso garantir que o novo dualshock é muito confortável, apesar de ainda sentir falta do Start e do Select. Também percebi que o console possui muito mais configurações e oferece muitas outras possibilidades e melhorias em relação ao PS3, mas estou divagando, não é exatamente disso que eu quero falar. Com as melhorias de hardware que as empresas empregaram em seus consoles e a ajuda do Blu-ray para dar conta do recado do armazenamento, os jogos passaram a ter uma qualidade gráfica e sonora absurdamente maior que na geração anterior. Obviamente, algo que já seria facilmente alcançado nos PCs, mas para gente como eu, que tem fobia de jogar em PC, foi algo que fez a diferença.
Mas como diria o Tio Ben do Homem-Aranha (ou uma versão gamer do mesmo): "Com grandes melhorias gráficas, vem grandes tamanhos de arquivos" e é aqui que eu acho que a gente deveria parar de falar em "novas gerações de consoles" e começar a usar a expressão "novas gerações de jogos", pois nessa fase, o bicho pega para todos – PCs included.
Porque digo isso?
Porque os jogos dessa geração tem sido cada vez mais realistas (com algumas exceções, claro). É o que as pessoas querem. É o que as devs e as publishers querem... Não é à toa que tem surgido muitos jogos-filmes por aí, o que se quer é mostrar o poder gráfico que determinado jogo tem, e tudo indica que, em pouco tempo, não são os jogos que tem que ser feitos para se adaptar ao que o console é capaz, mas sim você, jogador, que tem que se virar para conseguir tunar o seu console para jogar o título. Se você deu uma olhada na nossa última Butecada da Vez, vai saber exatamente do que estou falando.
Não que eu ache ruim que os jogos atuais sejam realistas e lindos de morrer como são (parabéns, devs), mas todo esse boom em gráficos, sons, efeitos e detalhamento de mecânicas tem uma consequência um pouco pé-no-saco: os HDs parecem nunca serem suficientes.
Na geração anterior, o evento da mídia digital resultou em algo bom para a indústria, pois convergia em mais conveniência, tanto para o jogador quanto para a própria distribuidora, além de ser muito mais acessível para pequenos desenvolvedores – os indies– que passaram a ter mais visibilidade no mercado. Os jogos passaram a ter um tamanho razoavelmente maior, mas ainda assim, nada que fosse muito inconveniente para quem jogasse em um PC, já que é muito mais fácil gerenciar armazenamento de dados nele. No meu caso, que possuía um PS3 daqueles de HD de 160 Gb, as coisas complicaram um pouco mais nos últimos dois anos. Apesar de não ser fã de mídias digitais e ter a grande maioria dos meus jogos em disco, ainda assim cheguei ao ponto de ter que ficar deletando/reinstalando conteúdo porque o HD do PS3 estava cheio. E isso com pouquíssimos jogos instalados, a grande maioria eram dados de atualização dos jogos e de firmware.
Só que agora, a nova geração nos traz jogos cada vez maiores. Passamos de títulos que requeriam 3.5 Gb (Far Cry 2) para jogos que requerem 65 fucking Gb (Grand Theft Auto V). E não se deixe enganar pelo tamanho de download do arquivo: muitas desenvolvedoras tem usado métodos brutais de compressão para eles: Titanfall tem um download de 21 Gb, mas descompacta para quase 50 Gb; Watch Dogs tem download de 13 Gb, mas descompacta para 25 Gb. A média de espaço de HD para instalação dos últimos jogos lançados é de 40 Gb e a tendência é só aumentar. Para comparação, fiz um gráfico demonstrando de forma bem bruta o espaço requerido por alguns jogos famosos no PC:
Algumas pessoas podem até dizer que isso não é problema para quem usa PC, mas olha, acaba sendo uma inconveniência, sim. Imaginando que você tenha um HD singelo (para os padrões de hoje em dia) de 1 Tb e tenha Assassin’s Creed: Unity, Battlefield: Hardline e GTA V instalados nele, já é praticamente 20% do seu espaço comprometido. Sem contar o espaço ocupado pelo próprio sistema operacional, por outros softwares e arquivos pessoais. Fazer o gerenciamento de tudo isso no HD de um computador pode ser uma tarefa bem chatinha.
Nos consoles, essa dor de cabeça em relação aos HDs também não é diferente. A versão mais barata de um PS4 vem com "apenas" 500 Gb de HD, sendo 93 Gb reservados para o sistema operacional, o que resulta em 407 Gb de espaço para o usuário. Para mim, isso é mais do que suficiente para o meu notebook véi de guerra, mas para um console que terá seu próximo exclusivo com 48 Gb, não. E a solução encontrada pela grande maioria dos Sonystas* é fazer a troca do HD padrão por um de 2 Tb, um processo que, felizmente, foi "facilitado" pela Sony. O mesmo se aplica ao Xbox One, vendido nesses mesmos padrões, porém com espaço livre para o usuário de apenas 362 Gb, pois o sistema operacional do X Caixa Um ocupa 138 Gb. A vantagem dele sobre o PS4? Os Caixistas* podem simplesmente conectar um HD externo, instalar o jogo e rodar a partir do mesmo. Simples, prático e indolor. Mas ainda assim, uma inconveniência.
E se você fez as contas e viu que a situação fica apertada para você e seus jogos (literalmente) nessas plataformas citadas, o que dizer da versão Deluxe do Wii U e seus maravilhosos 32 Gb de HD? Mesmo com jogos de tamanho nada comparável aos que já mencionamos por aqui (exclusivos da empresa variam de 100 Mb a 16 Gb), a capacidade do HD do console da Nintendo é bem pequeno e acaba sendo proporcional aos demais consoles e seus HDs. Felizmente, o uso de um HD externo no Wii U é tão simples quanto no Xbox One.
Para complicar um pouco mais a situação dos jogadores de consoles, não obstante o tamanho gigantesco de alguns jogos, os servidores da Sony e da Microsoft controlam a taxa máxima de transferência de dados, logo, mesmo que você tenha a internet mais veloz do mundo, ainda terá downloads se arrastando para serem finalizados. Ambas as plataformas oferecem o serviço de jogar enquanto baixa o jogo (streaming), o que é mais um problema em vez de uma solução: você só conseguirá jogar até ver seu jogo travar por não ter concluído o download e ter que aguardar. Não há o que dizer, apenas frustração a sentir. Além disso, a leitura do disco não é rápida o suficiente para que os jogos "rodem" diretamente deste, sendo assim, todo o conteúdo da mídia física que você comprou vai ser instalado no seu HD. Contudo, se você possui o disco do jogo, você não necessitaria de conexão de internet caso precisasse reinstalar o conteúdo. Basta colocar o disco do jogo e, em alguns casos, nem precisa esperar o conteúdo ser instalado, visto que ele vai acontecendo à medida que você vai jogando. Se por um lado você paga mais caro pela mídia física, você tem um pouco mais de conveniência e agilidade no processo de desinstalação/reinstalação. Ponto para a mídia física.
Já no PC, pelo menos, sua velocidade de internet vai fazer alguma diferença no download, mas as versões dos jogos para PC tendem a ser maiores que as dos consoles. Ou seja, não há como fugir das várias horas que você terá pela frente para encarar sua tão desejada jogatina: a hipótese de baixar um jogo de 40-50 Gb em uma hora demandaria uma conexão de cerca de 100 Mbps, mas de acordo com informações da Steam, a média de transferência de dados nos EUA e Europa é de 30 Mbps. Coreia do Sul e Japão ficam entre 40 e 50 Mbps. Já o Brasil fica na mesma média que Polônia e Itália, com 5 Mbps. Fez as contas do tempo? Com sorte, você baixa um jogo de 45 Gb se deixar a conexão ativa 24 horas, sem interrupções. Complicado...
Agora, imagine todo esse cenário de jogos de tamanhos colossais, HDs apertadinhos e conexão de internet de péssima qualidade, e some a isso o mais recente temor e provável cenário da internet brasileira: banda "larga" fixa com franquia de dados. A discussão já está em andamento, tem gente que diz que isso é ilegal, tem empresa que já está colocando em prática seus contratos de franquias e tem gente dizendo que nada vai acontecer, mas o fato é que as chances são favoráveis às provedoras: a Anatel publicou uma medida cautelar para impedir as empresas de reduzir a velocidade, suspender o serviço ou cobrar tarifas extras (nos próximos 90 dias, vale ressaltar), mas as condições impostas a essas provedoras podem fácil e rapidamente serem atendidas, visto que o próprio presidente da Anatel, João Rezende, disse que "a era da internet ilimitada está chegando ao fim", então não vejo um cenário muito bom para a gente no futuro. E, assim, as vantagens da mídia digital parecem cada vez mais distantes da nossa realidade.
Na época do meu PS3, as versões digitais pareciam ter vindo para ficar. Já com o PS4 e a atual geração de jogos, adquirir uma mídia digital parece cada vez menos vantajoso para mim. Só nos resta ter paciência o suficiente para gerenciar nosso tempo e espaço para a jogatina, ou dinheiro o suficiente para comprar as mídias físicas, ou dar aquele boost no hardware de nossas ferramentas gamísticas. Então, liberem mais espaço no HD de vocês e Vão Jogar!
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* NOTA: Escolhi os termos "Sonysta" e "Caixista" apenas por questão de diferenciação entre os usuários, não tomem como uma atitude pejorativa
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