Há um bocado de anos atrás quando eu experimentava pela primeira vez Super Metroid eu ainda não sabia, mas estava surgindo ali a minha paixão por uma das melhores séries dos videogames. Eu não era capaz de identificar a maestria do game design daquele jogo solitário e cheio de suspense, mas a forma como ele me incentivava a explorar cada vez mais o mapa atrás do próximo item que iria me liberar mais uma área, era muito empolgante para o jovem Rafael.
Os jogos que vieram na sequencia oscilaram entre o excelente e o "por favor, deslancem essa porcaria!", o que acabou nos deixando por um bom tempo órfãos da série, ainda que a sua influência tenha se perpetuado através de outros jogos até os tempos atuais. Mas a verdade é que no final das contas o que a maioria de nós quer mesmo é reviver aquelas experiências que tivemos pela primeira vez com o inusitado cartucho de Super Nintendo. Bom, ao menos é o que eu quero.
Porém Yoshio Sakamoto, co-criador da série e responsável pelo acidente chamado Other M, pegou um estúdio de fama duvidosa e se propôs a algo diferente: reimaginar o título anterior ao do Super Nintendo, Metroid II: Return of Samus, lançado originalmente para o primeiro Game Boy e tido por muitos como um dos jogos mais fracos e lineares da série. Então assim em 2017 foi lançado Samus Returns para o 3DS.
Com o jogo em mãos, o primeiro impacto ficou por conta da parte técnica, não somente pela beleza e fluidez que os desenvolvedores milagrosamente conseguiram para um hardware de 2011, mas por eles trazerem um visual muito próximo ao da Trilogia Prime, que estão entre os meus jogos favoritos. Ainda que ele siga o estilo do original com a movimentação feita apenas em dois eixos, ver a armadura da caçadora de recompensas com aqueles detalhes me trouxe um sentimento bom.
E a trilha sonora? Pegaram todas aquelas músicas maravilhosas compostas ao longo da série e salpicaram pela aventura, deixando difícil a tarefa de frear a nostalgia. Tem algumas coisas novas sim, mas o destaque fica mesmo para as melodias retiradas de Super Metroid e da Trilogia Prime. Eu até poderia argumentar que eles acabaram apostando muito seguro ao reciclar a arte e músicas do jogo, mas tudo me pareceu tão bem encaixado que fica difícil criticar.
Só que como todo deslumbre passa, o jogo precisa de mais que gráficos e boas músicas pra se sustentar. Ainda que ele seja um remake que expande bastante o título original, ele está preso a sua mecânica básica: na história, a caçadora de recompensas Samus Aran é enviada ao planeta SR-388 para eliminar todos os Metroids, o que se traduz em um eterno "encontre o Metroid, mate o Metroid", tornando as coisas um pouco repetitivas. Por conta disso eu acabei optando por jogar em pequenas sessões, o que deu uma minimizada no problema. Infelizmente isso também tirou um pouco daquele lance da ansiedade antes de um chefe, salvo a parte final, apesar do esforço dos desenvolvedores ao colocar um robô desprovido de graça para nos atazanar ao longo da história. O problema é que se esforçaram tanto, que as batalhas contra esse ser tecnológico ficaram com um nível de dificuldade muito elevado, destoando do restante do jogo e me causando inclusive algumas dores nas mãos.
— Sakamoto, eu não tenho mais 20 e poucos anos, minhas juntas dos dedos já se foram!
Na parte de exploração eu acabei não tendo muito aquele sentimento de "para onde eu vou agora?", tão presente nos primeiros títulos, muito por conta da inclusão de algumas mecânicas que facilitam bastante esse aspecto, além da linearidade herdada do jogo original. Não que eu tenho achado necessariamente ruim, hoje em dia eu não tenho mais tempo para ficar horas procurando pelo buraco secreto que irá me levar para a próxima área, e adorei como os pontos de teleporte espalhados pelo mapa me facilitaram imensamente o deslocamento entre um canto e outro, além da presença do próprio mapa em uma segunda tela, só que esses elementos não me pareciam ligados organicamente.
As adições na mecânica de Samus também me causaram um estranhamento, ao menos a princípio. Ainda que eles tenham trago uma série de pequenas coisas que foram acrescentadas ao longo dos anos, como a capacidade de se pendurar em bordas e atirar, mirar em 360º com o analógico em um jogo 2D é muito estranho. Ok, é uma beleza quando você está calmamente tentando acertar um bloco que requer um míssil para quebrar, mas quando um enxame de abelhas alienígenas, ou algo assim, vem para cima de você, a coisa pode complicar um pouco. O lance de poder dar um contra ataque no inimigo também é bem interessante, mas é um saco quando você é praticamente obrigado a fazer isso para cada mosquito anabolizado que cruza o seu caminho para conseguir causar um dano significativo. Mais para o final do jogo eu já reservava uma parte da minha energia para sair trombando por todo mundo e cruzar as salas mais rapidamente.
Mas ainda que Samus Returns tenha diversos problemas e esteja muito longe da maestria de um Super Metroid, ele conseguiu me trazer um pouco daquele sentimento ao qual eu me referi lá no começo do texto. Tudo bem que ele é um remake construído em cima de gráficos, músicas, itens, armas e mecânicas clássicas, mas tudo parece encaixado de uma maneira minimamente correta, mesmo com seus tropeços. E não é aquela sensação de "pelo menos não ficou ruim", é mais que ao se aproximar daquilo que compõe o título do Super Nintendo, um dos melhores jogos já feitos, a missão que Samus Returns possuí é no mínimo ingrata, e no final das contas ela foi bem feita, não perfeita, mas tendo alcançado o seu objetivo.
Sakamoto reconquistou um voto de confiança comigo e o futuro da série agora me parece menos sombrio... que alívio!
Ao fazer uma releitura do segundo jogo da série e se aproximar do estilo consolidado em Super Metroid, Samus Returns consegue cumprir com o seu objetivo de colocar a série novamente nos trilhos, ainda que com alguma dificuldade. O título acaba se tornando muito repetitivo e linear, com picos de dificuldade um pouco inconvenientes, mas nos traz uma ação variada, um pouco de exploração e boas adições mecânicas. Avaliado no3DS (entenda o nosso sistema de notas)
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