Quando falamos de eventos de tecnologia aqui no Brasil, sejam eles envolvendo ou não videogames, já é comum pensarmos em São Paulo em primeiro lugar. Mesmo eventos como a Brasil Game Show, que se iniciou no Rio de Janeiro, acabam adotando a capital paulista como casa devido ao seu grande potencial tecnológico e de negócios. Mas ainda sim sempre me soou meio estranho Belo Horizonte, que embora menor ainda sim é uma grande capital do sudeste, não tenha o costume de receber grandes eventos nesta área, ao menos não destinados ao grande público. Pois esse ano o primeiro passo para a mudança desse cenário veio com a chegada da Campus Party à capital mineira, a terceira no país ao receber o evento, logo atrás de São Paulo e Recife, que ocorreu entre os dias 09 à 13 deste mês.
Embora não seja um evento voltado especificamente para jogos, não havia um só momento em que eles não estivessem presentes de alguma forma ao longo de toda área destinada aos campuseiros dentro do Expominas. Seja nas competições entre os grupos que ligavam os seus computadores em rede para jogar algum FPS ou MOBA de sua preferencia, ou nas estações que ofereciam os mais diversos jogos ao público, como Just Dance 2017 e Street Fighter V, sempre havia alguém jogando algo. Aliás, não somente jogando, mas também desenvolvendo, através de diversos workshops ministrados e até mesmo uma game jam que aconteceu por lá.
No que concerne às apresentações, o palco "Criatividade e Entretenimento" recebeu diversos palestrantes que falaram sobre jogos em suas mais diversas facetas, alguns dos quais eu mostrei por aqui ao longo dos últimos dias. Infelizmente não foi possível acompanhar todos por conta dos horários, em especial um sobre mulheres que jogam, mas o mais interessante é que muitos deles eram pessoas da região, mostrando que o cenário mineiro de desenvolvimento de jogos independentes já possui uma cara e que existem pessoas sobrevivendo disto, ainda que as dificuldades sejam imensas. O público também estava muito animado, em especial quando algum desenvolvedor estava fazendo a apresentação, e não exitavam em fazer as mais diversas perguntas, alimentando a curiosidade sobre o que é necessário para começar a desenvolver o próprio jogo. E ainda no palco principal tivemos uma dupla de palestrantes internacionais, Daniel Matros e Tim Kjell, que falaram bastante sobre a suas experiências gerenciando uma das melhores equipes de e-sports do mundo.
Por falar em público, embora tenha sido um evento bem menor do que as outras edições do país e com sobra de ingressos, não dá para dizer que o movimento foi pequeno, ao menos para os padrões da capital mineira. Ainda que não tenha acontecido uma divulgação muito extensa, eu mesmo só fiquei sabendo poucas semanas antes, pessoas de vários lugares do país vieram prestigiar a edição, que já está garantida novamente para o ano que vem, entre os dias 01 a 06 de Novembro de 2017.
Mas nem tudo foi perfeito por parte da organização. Talvez o ponto mais problemático de todos foi a questão da internet, ao menos quando se fala de Wi-Fi. Em todas as mesas existiam pontos de rede com internet de alta velocidade, mas se você precisasse de usar algo no seu celular, era melhor recorrer ao seu pacote de dados, pois a rede sem fio além de raramente permitir conexão, entregava velocidades impraticáveis. Para um evento que respira tecnologia e tem como pontos de destaque justamente a entrega de uma internet de alta velocidade, foi uma grande decepção esta falha. Também me estranhou o discurso por parte dos organizadores de que a única coisa da qual eles eram terminantemente contra em termo de uso da rede era o acesso a pedofilia. Ficou a impressão que basicamente para qualquer outra coisa, seja pirataria ou algum roubo de dados alheio, eles fariam vista grossa.
O evento ocorreu dentro da FINIT (Feira Internacional de Negócios, Inovação e Tecnologia), que foi mais focado em empreendedorismo com rodadas de negócios para startups, além da exposição de diversos projetos estudantis. Como tudo ocorreu com apoio do governo do estado, inevitavelmente existia um viés promocional muito forte das ações do governo durante todo o evento. Mas o que realmente me incomodou em termos de discurso foi o tom meritocrático da maior parte das apresentações, muito direcionada a um público mais jovem, naquela pegada de que você deve se esforçar ao máximo no trabalho e estudos abdicando de todo o seu tempo livre, para só assim conseguir ser alguém na vida. "Crianças", seja para desenvolver o seu jogo ou qualquer outra coisa, esforço é necessário sim, mas não se matem por isso, lazer e descanso são tão necessários quanto arroz e feijão. Aliás, falando em comida, se alimentar dentro do Expominas não era algo muito prazeroso, seja pelas poucas opções ou pelos preços pelas quais eram oferecidas.
Para uma primeira vez o saldo do evento foi positivo ainda que sejam necessários ajustes, começando a criar uma tradição na cidade para este tipo de coisa. O que espero é que isso possa abrir as portas para outras iniciativas semelhantes, assim como fomentar mais o mercado de tecnologia, incluindo o de desenvolvimento de jogos, na capital. Em 2017 além da segunda edição da Campus Party, ainda teremos a segunda edição do Minas Games Festival, que já foi anunciado como sendo um evento bienal, além de iniciativas como o MIND (Mostra Mineira Indie), onde os desenvolvedores locais se reúnem algumas vezes ao longo do ano para apresentar os seus projetos.
* Revisado em 21/09/2017 às 19:17:43
Compartilhe