Meu relato não respeita nenhuma ordem cronológica ou de importância, apenas tentei separá-lo (grosseiramente) em categorias. E já comecei 2018 tomando as devidas notas sobre o que estou jogando para que a próxima edição fique mais organizada.
The Legend of Zelda: Breath of the Wild (Nintendo Switch)
Indo contra o ensinamento bíblico, decidi começar pelo vinho bom. Não necessariamente o melhor jogo, mas sem dúvida o mais marcante do meu ano. Hyrule foi um nobre e extenso mundo que tive o prazer de explorar por horas e mais horas (e que inclusive ainda não terminei). A emoção da aventura, a liberdade de enfrentar os desafios no meu ritmo e a honra de interferir na vida local compuseram, para mim, um sentimento de respeito.
Encontrar estátuas me instiga a enchê-las de oferendas. Sair de um perrengue com meu cavalo me instiga a alimentá-lo e dar-lhe carinho. Descobrir uma nova montanha me instiga a observá-la com atenção. Convenientemente, todas estas ações fazem sentido e são recompensadas dentro do jogo de forma orgânica (ou nem tanto, no caso das Korok seeds). Diria que trilhei metade de minha aventura neste ano que passou, e pretendo terminá-la em 2018.
Leia a nossa análise de The Legend of Zelda: Breath of the Wild
Golf Story (Nintendo Switch)
Com mecânica e progressão nostálgicas do Mario Golf para o GBA, aliadas a um humor pastelão que lhe coube muito bem, Golf Story me distraiu muitas noites, especialmente logo antes de dormir. Vou roubar do site oficial do jogo a frase que melhor o descreve: "Você ficará surpreso com quantos problemas podem ser resolvidos acertando-se uma bola de golfe neles". Uma pena ser tão fácil, com uma UI que entrega quase todos os efeitos que incidem sobre a bola de bandeja.
SteamWorld Dig 2 (Nintendo Switch)
Mais um jogo que transformou meu tempo livre em prazer. Quando terminei Golf Story, encarei este metroidvania igualmente besta, mas que sabe colocar o devido desafio nos lugares certos. Ao limitar as mecânicas disponíveis através de upgrades para suas ferramentas, SteamWorld Dig 2 me motivou a ir atrás de melhorias para facilitar a exploração e o combate, ao mesmo tempo que conseguiu me entreter ao me forçar a trabalhar com pouco. Navegar o mapa verticalmente, por exemplo, exige paciência e cuidado até o terceiro ato do jogo.
The Binding of Isaac (Nintendo Switch)
A melhor parte da minha experiência com Binding of Isaac foi a hipocrisia. Pensando em meu fraco por roguelikes (e lites, e qualquer outra variação), enrolei por anos para comprá-lo, com medo de me perder para sempre nos porões, catacumbas e literalmente centenas de itens. Minha justificativa era "tudo que preciso para usar meu notebook é uma superfície de alguns centímetros quadrados e alguns minutos para ele ligar e entrar na Steam, então facilmente eu cairia na tentação de jogar Binding of Isaac". Comprei-o, então, em um console que consigo usar em qualquer lugar e preciso de poucos segundos para ir de uma tela preta para o menu inicial do jogo. 1001% de completude nunca pareceu tão alcançável.
Shovel Knight (Nintendo Switch)
Nunca fui um jogador muito habilidoso, principalmente em jogos de plataforma. Por causa disso (e minha lista ajuda confirmar), sou mais voltado a jogos de estratégia ou turnos, ou jogos onde a morte é mais uma mecânica. Mas, atraído pelo meu novo console e doido para encontrar bons jogos, não pude deixar Shovel Knight passar direto. Com o devido esforço, consegui terminar o jogo base e ainda coletar boa parte dos colecionáveis, e me orgulho muito disso.
À medida que fui explorando diferentes jogos com meu sobrinho, que tem três anos, Shovel Knight foi o que mais o encantou. Então foi o que mais jogamos no decorrer do ano, enfrentando as mesmas fases de novo e de novo, avançando à medida que ele se entediava de chefões anteriores. Graças a isso, perdi muito do meu medo de fracassar em jogos de habilidade. Mal posso esperar para ele ter idade suficiente para jogarmos Dark Souls.
Overcooked (Nintendo Switch)
Para finalizar a batelada Nintendo Switch do meu ano, o jogo que conquistou todos os encontros onde levei meu console. Sanduíches foram servidos, louça foi lavada e amizades foram forjadas e destruídas no processo. Joguei com minha namorada, indo atrás de três estrelas em todas as fases. Depois com minha irmã, com quem não jogava videogame desde o Nintendo 64, tentando bater todas as pontuações que fiz com minha namorada. Depois, com minha namorada de novo, rebatendo os recordes. Tenho minhas dúvidas se Overcooked consegue perder o charme.
The Walking Dead (Xbox 360)
Aproveitando a deixa para entrar nos jogos que eu e minha namorada destruímos em 2017, The Walking Dead foi o único motivo para ligar meu Xbox esse ano. Peguei-o de graça nos resquícios da minha assinatura Gold e eu e Vívian fomos "episodicamente" sobrevivendo ao apocalipse zumbi com as devidas escolhas levianas que fazem este jogo. Nem bom nem ruim, foi um passatempo de algumas horas para nós dois, mas destaca-se por ter aberto as portas para a pérola dos tempos modernos que jogamos em seguida.
Life is Strange (PC)
Apesar de gostarmos de jogar juntos, minha namorada e eu nunca experimentamos algo multijogador. Vamos sempre atrás de jogos que podemos sentar e tomar decisões juntos enquanto aproveitamos a experiência. Se é um jogo de ação, costuma ser eu no controle; caso contrário, vamos revesando. Sendo assim, jogos da Telltale são ótimos candidatos, o que torna a situação ainda mais interessante, pois dificilmente qualquer um de nós dois se aventuraria em jogá-los sozinho.
Depois de terminar The Walking Dead, seguimos a sugestão de um amigo e começamos Life is Strange. Compramos o primeiro capítulo, um pouco céticos, e em poucos minutos pareceu dinheiro jogado fora. Horas depois, estávamos comprando o segundo, terceiro, quarto e quinto, ansiosamente esperando pelo prazer masoquista de jogar a estória mais adolescente do nosso século. As situações, o drama, os personagens pastéis giravam em um delicioso vórtice de vergonha alheia. No ápice da insanidade, em uma das músicas hipsters que pontua fim de cada capítulo, começamos a inventar versos que narravam o que acontecia. Com uma certa quantidade de anos nas costas e tendo consumido as obras certas no decorrer da vida, musicamos uma previsão certeira para o que foi a revelação mais dramática do jogo. E nunca foi tão divertido viver.
Para mim, ir ao cinema consegue transformar filmes medíocres em experiências muito gostosas. De forma similar, descobri com Life is Strange que jogar junto de alguém com quem você tem uma conexão pode transformar jogos medonhos em momentos inesquecíveis. E, ironicamente, o jogo que considero um dos piores de todos que já joguei foi o que eu mais estava ansioso para escrever a respeito neste meme.
Leia a nossa análise de Life is Strange
Mini Metro (PC)
Um delicioso jogo minimalista de construção e gerenciamento de um sistema metroviário. Falar que na verdade são redes transmitindo dados entre diferentes computadores, ou simplesmente figuras geométricas ligadas por linhas coloridas também seria válido. A questão é: trata-se de um jogo muito fluido de quebra-cabeça com estratégia.
Comecei jogando sozinho, me desempenhando bem mal, recebendo depois o suporte de minha namorada, e juntos fomos longe. Eram discussões acaloradas se na semana que havia terminado no jogo nós pegaríamos uma nova locomotiva ou um túnel para ter mais uma linha chegando à ilha. E foram algumas dezenas de partidas até descobrirmos que era possível pausar para avaliar a situação com calma! Já faz algum tempo que não jogamos Mini Metro, mas volta e meia arrisco um desafio diário, nem que seja pelo gratificante GIF ao final da partida que mostra o desenvolvimento da sua rede.
XCOM: Enemy Unknown e Enemy Within (PC)
O suprassumo da nossa carreira conjunta em jogos, XCOM nos proporcionou esse ano mais da metade do total de horas que jogamos algo. Já jogamos no notebook e na televisão, no teclado e no controle, o jogo base e o pacote de expansão, dando load quando perdemos e aceitando a derrota. Amigos, familiares e conhecidos já emprestaram seus nomes para soldados que não necessariamente veriam o triunfo da raça humana sobre a invasão alienígena. XCOM é provavelmente uma das famílias de jogos imortais da minha biblioteca, à qual retornarei em diferentes versões, os originais dos anos 90, o "sucessor espiritual" Xenonauts e a continuação XCOM 2 quando tivermos um computador que aguente o tranco, em diferentes tempos. Vale dizer que Vívian comanda um esquadrão para derrubar a sangue frio qualquer Mechtoid, Berserker ou Ethereal, mas o reptiliano Thin Man sempre traz um frio à espinha dela.
Caveblazers (PC)
No início de 2017 comecei a pensar em estudar e escrever sobre jogos. Queria explorar um gênero que descobri quando tive um notebook com sistema Linux, limitado no tamanho da biblioteca de jogos, mas dotado dos surpreendentes roguelikes de terminal. Desde então, ir descendo por diversos andares de uma caverna, juntando equipamentos e armas, receando o efeito aleatório de poções e agarrando-me à vida, que é uma só, tornou-se uma de minhas experiências preferidas em jogos.
Caveblazers inicia a enorme sequência de roguelites indie que joguei este ano. Repare que é lite, já que a comunidade é bem restrita na nomenclatura. É um jogo arcade de plataforma que muito se assemelha a Catacomb Kids, mas com um polimento caprichado que mais me lembra Spelunky. Inimigos inteligentes e mundos gradativamente mais difíceis que permitem que sua morte, apesar de permanente, não seja em vão. As lições aprendidas sempre acrescentam à próxima tentativa. Não o joguei depois de ser lançado oficialmente, mas pretendo fazê-lo em 2018.
Dead Cells (PC)
Outro roguelite de plataforma, desta vez menos arcade e com uma rampa de dificuldade mais tradicional. Além disso, o jogo tem um mundo interconectado, semelhante ao estilo metroidvania. Para atingir estas duas características, creio que o jogo tornou-se mais engessado. Começar do zero quando morro e passar por masmorras e inimigos extremamente parecidos com os que enfrentei anteriormente me deixaram com o desejo de que o jogo fosse apenas uma aventura linear.
Cargo Commander (PC)
Com seu design simples, Cargo Commander cumpre o quesito ambientação ao colocar-nos no papel de um sucateiro espacial isolado no espaço com um rádio que só toca uma (agradável, ainda que repetitiva) faixa. Apesar de ter infinitos setores espaciais que são gerados aleatoriamente, essa aleatoriedade vem de uma seed, de forma que o setor pode ser compartilhado e jogado por outra pessoa, ou por você mesmo. Sendo assim, fica a critério do jogador a busca por pontuações recordistas em um setor, aperfeiçoando sua técnica a cada tentativa, ou a exploração de setores desconhecidos, cada um trazendo uma experiência e dificuldade diferentes, apesar de não muito variada.
TumbleSeed (PC)
TumbleSeed veio para mostrar que uma arte fofa e mecânica inovadora podem vir acompanhados de muita dificuldade, chegando talvez até a ser desbalanceada. No post-mortem do jogo, o desenvolvedor chega a mencionar como esse degrau entre a apresentação e a dificuldade afetaram as vendas e críticas. Subir a montanha equilibrando a sementinha em uma vareta me permitiu desenvolver uma destreza muito interessante com os analógicos do controle, que provavelmente de nada me servirá na vida.
Duskers (PC)
Em outra mostra de inovação na mecânica, Duskers é um jogo de terror surpreendentemente imersivo. O jogador controla drones através de naves abandonadas à procura de tralha e recursos para continuar vivendo à deriva de uma galáxia morta. O controle, no entanto, é feito alternando entre um terminal para inserção de comandos e a câmera de cada drone. A visão é claustrofóbica e limitada, e rapidamente os robôs frios tornam-se dignos de afeto, já que eles são tudo que previnem o operador de ter que explorar estas naves medonhas sozinho.
Loot Rascals (PC)
Loot Rascals carrega o estandarte final da passeata dos jogos indie cuja mecânica principal é a morte permanente. Além disso, ele iniciou para mim um gênero que devo explorar mais em 2018: jogos não tradicionais (uma mesa, dois jogadores, vez de um, vez de outro, carta pra lá, carta pra cá) baseados em cartas. Neste caso, trata-se de um jogo de estratégia em turnos onde suas habilidades e atributos são definidos por cartas. Há sinergias, combinações e efeitos, mas tudo isso afetando um sistema de combate bem simples. Já percorri os cinco mundos e cheguei no chefe final algumas vezes, mas conseguir derrotá-lo ainda está na lista de afazeres.
Europa Universalis IV (PC)
Há alguns anos, ouvi falar de Europa Universalis IV, que seria um ótimo jogo de estratégia com relações diplomáticas profundamente simuladas, percorrendo do fim do medievo ao começo da era moderna. Inicialmente focado na Eurásia, o jogo acabou sendo literalmente expandido para as Américas, sendo possível controlar povos nativos americanos, mas o mais usual seria controlar povos europeus e conquistá-los. Apesar da história real tender a ocorrer no jogo, há margem para um desenrolar alternativo. Não necessariamente a Inglaterra irá unificar a Grã Bretanha, e não necessariamente os Guarani serão colonizados pelos portugueses.
Pode parecer um desperdício de tempo, e talvez de fato o seja, mas todo o meu tempo neste jogo até o momento foi tentando fazer alguma tribo indígena isolar-se e fortalecer-se o bastante para resistir à colonização do Novo Mundo. Nunca controlei reinos ou obtive status com o estado papal, e provavelmente explorei 2% das mecânicas deste jogo tão extenso devido às limitações das tribos. Ainda assim, a cada início de jogo eu sinto a chama da esperança acender-se: "será essa a redenção virtual de nossos antepassados?". Até o momento, não.
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Como comecei no Vão Jogar! no segundo semestre, não fui registrando meu ano de jogos à medida que ele ocorreu. Acho que fazer isso nos dá a oportunidade de encontrar mais relações entre as diferentes obras que consumimos, e talvez de vermos quando estamos sendo redundantes. Por exemplo, será que se eu tivesse jogado metade dos roguelites que joguei, não poderia ter descoberto novos gêneros mais cedo?
Que 2018 venha recheado de jogatina para todos! De preferência acompanhado de uma renda proporcional ao número de lançamentos (:
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Esta publicação faz parte do meme gamer "O que você jogou em 2017?", que foi organizado mais uma vez pelo nosso grande parceiro, Marvox. Os demais participantes você confere logo abaixo:
Arquivos do Woo [CyberWoo] www.arquivosdowoo.com.br
Blog Desocupado [Paulo Victor] des-ocupado.blogspot.com.br
Blog MarvoxBrasil [Marvox] marvoxbrasil.wordpress.com
Gamer Caduco [Caduco] gamercaduco.com
Gamerníaco [Eduardo Farnezi] gamerniaco.wordpress.com
GebirgeBR [Gebirge] www.youtube.com/GebirgeBR
Jogatinas Saudáveis [Rodrigo Vigia] www.youtube.com/vigiabr
Jornada Gamer [UsoppBR] alvanista.com/nostallgiabr
Locadora Resident Ivo [Ivo Ornelas] www.locadoraresidentivo.com
Old Magus Pub [Lucas Vinicio] oldmaguspub.blogspot.com.br
QG Master [Marcos Vieira Machado] qgmaster.blogspot.com.br
RetroPlayers [Sabat] www.retroplayers.com.br
U-8Bits [Ulisses 8 Bits] ulisses8bits.blogspot.com.br
Videogames com Cerveja [Felipe B. Barbosa] www.vgscomcerveja.com.br
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