Todos que acompanham este site desde o começo (putz, eu ainda insisto nisso) lembram que tinha uma seção de isos dos jogos de Dreamcast, que depois eu acabei matando. O motivo para isso é o seguinte:
- Quando criei o site, o meu objetivo foi (e ainda é) me expressar livremente sobre o Dreamcast e afins, e debatendo sobre os textos com quem quiser, sem fanatismo ou qualquer similar. Qualquer coisa além disso é secundária;
- A opção de distribuir as isos foi por um impulso besta que tive, devido a raiva que eu estava dos fórums, tão cheios de regrinhas. Foi uma atitude meio infantil, e como não sou criança, acabei com a budega mesmo (e tem tanto lugar melhor para baixar isos, não iria ser eu que ia fazer alguma diferença, tão sem tempo que sou).
Não que eu seja contra baixar isos de jogos na internet, mas acabei percebendo também, que não era assim que eu ia ajudar a resolver o problema da pirataria. Refleti muito sobre o assunto, li alguns textos (que você pode conferir logo abaixo) e uma das conseqüencias disto, foi a eliminação da seção. Mas antes de começar com minha filosofia barata de buteco, deixem de preguiça e leiam os textos que eu li, assim vocês vão ter uma base mais concreta sobre o assunto, porque eu só quero dar um nó na cabeça cheia de teia de aranha de vocês. Segurem:
Ato Ou Efeito: Pirataria
Ato Ou Efeito: Pirataria nos games. Você sabe o que é isso?
Loading Time: Papo de bêbado - Pirataria no Brasil
Loading Time: Caso Magazine Luiza expõe desonestidade brasileira
Loading Time: Caso Magazine 2: outros lados da questão
Particularmente eu visito muito os dois site/blog em questão, respeito muito as opniões de seus autores, e recomento muito. Inclusive se vocês pesquisarem um pouco, vão achar muito mais referências sobre o assunto em ambos.
Bom, agora que já leram algo escrito de forma coerente, segurem minhas opniões sobre o assunto:
PIRATARIA COM GRANA E PIRATARIA SEM GRANA
Eu costumo dividir a pirataria de duas formas: a com remuneração e a sem remuneração.
Com Remuneração: É aquele caso de um chinês qualquer, que distribui centenas de cópias ilegais de filmes, jogos, música, etc, através de camelos e enche o rabo de grana com isso. Antigamente se usava mídia prensada, mas hoje nem isso mais, e o cara usa o produto mais vagabundo que ele tiver. Daí é que surgem as lendas de que produto pirata estraga o aparelho (na verdade, mídias vagabundas diminuem a vida útil do leitor por forçarem ele mais). Este tipo de pirataria eu sou contra, porque uma coisa é copiar algo dos outros, outra é ganhar grana nas costas dos outros.
Sem Remuneração: É o caso de você baixar seja lá o que for da internet ou então copiar de um amigo que tenha o original (ou não). Isso na verdade não deveria se chamar pirataria, e sim "livre distribuição de informação e conteúdo". Você não está lucrando nada em cima do trabalho de ninguém, e apesar de estar infringindo a lei, por favor, você NÃO está roubando nada. E nem é tão de graça assim: você tem que pagar a conta de telefone mais a internet, a conta de luz, a mídia que usa para gravar e junto a tudo isso um monte de impostos que precisariam de um especialista ao lado para entender.
SITUAÇÕES ESTRANHAS
Ah, mas é claro, vão começar a falar que isso causa prejuizo para indústria, comércio, que é imoral, e coisa e tal. Ao invés de ficar rebatendo esses argumentos e chegar a lugar algum, vou expor uma série de situações bizarras para que vocês notem que a coisa é muito mais complexa do que simples moral (não esqueçam: vou expor situações e não defender pontos de vista).
1) Pirataria é crime, mas burlar os seus direitos não: Não sei se todo mundo sabe, mas para cada CD de música, jogo, filme, programa que você comprar, é de direito fazer uma única cópia para fins de backup e uso pessoal. Nada mais justo não é mesmo, afinal sempre tem o fator desastre que faz com que você deixe cair aquele seu CD da sua banda favorita, ou então que seu sobrinho de 3 anos esfreque o DVD de Sin City no chão e coisas do tipo. Tudo muito bom, mas na prática não funciona. Já tentaram copiar um filme sem ter que quebrar a proteção anti-cópia (e quebrar essa proteção é um ato ilegal)? Já conseguiram copiar um GD de Dreamcast sem ter que fazer nenhuma gambiarra, rip ou coisa parecida? E os CDs de música protegidos, como copia eles? Quer dizer, direito você tem, só esqueceram de colocar um "se possível" no final.
2) Pirataria? Na televisão fala que não pode, mas eu sou pobre: A maioria das pessoas que compram produtos piratas definitivamente não tem condições de comprar um original nem tão pouco se divertir de forma equivalente. Tomemos como exemplo os filmes: cinema é algo caro para se ir todo o fim de semana (e muitas vezes de se ir uma vez por mês), já que há o custo do ingresso, o da passagem do balaio, da comida e etc. Alugar um filme é uma boa, mas os lançamentos são caros e tem que devolver no outro dia, desanima fácil e e se não tiver computador pra copiar é melhor comprar na barraquinha e assistir quando quiser. Você também pode ir pro bar beber, mas além de acabar gastando mais do que com o filme, iriam chamar você de vagabundo, e não é isso que você quer. É basicamente esse tipo de raciocínio que leva a maioria das pessoas a comprar produtos piratas. Mas claro, vão rebater dizendo "não tem dinheiro então fica sem", óbvio, pobre só pode trabalhar, comer e dormir, diversão é para ricos. Agora pensem: todo mundo precisa de algum momento de diversão, mas diversão de modo geral é cara. Ae uma pessoa que tem dinheiro quase nenhum, resolve se divertir com um filme pirata. Ela não está roubando nem querendo ter lucro, só quer algumas miseras horas de distração. Só quer esquecer as contas, a semana estressante no serviço, só distração. Qual a imoralidade nisso? E tem mais, a maioria das pessoas não tem acesso a metade de informação sobre o assunto que vocês tem para formular uma melhor opnião sobre o assunto, e muito menos tempo (arrumem uma família para cuidar para saber como é). Não é simples assim.
Original e Pobre não se Misturam: Vamos usar como exemplo agora os video-games: um cara resolve comprar um video-game de última geração e só vai usar jogos originais. Ele vai em uma loja qualquer e compra um console parcelado em 24x (que hoje em dia é fácil, desde que você tenha o nome limpo). As prestações serão de R$ 125,00 por mês, e mais R$ 150,00 de cada jogo que ele comprar (que no nosso exemplo será de um por mês, considerando que milagrosamente, todos os jogos custem a mesma coisa). Ele também tem que pagar contas de água, luz, telefone, supermercado, sacolão e outras coisas. Chutando por alto nosso exemplo irá gastar R$ 275,00 mensais com o console, R$ 270,00 com as contas e uns R$ 300,00 com o restante. Nessa brincadeira estamos falando de R$ 845,00, que dá aproximadamente o dobro de um salário mínimo (e olha que essa conta é bem por alto). Mais uma vez, diversão é só para os ricos.
Como fuder com as produtoras de jogos dentro da lei: Ainda continuando com os jogos de video-games. Muito se fala que a pirataria prejudica os programadores que tanto se esforçaram para fazer os jogos. Isso é uma meia-verdade, já que só prejudica mesmo as pequenas produtoras, ou você acha que o pessoal da Rockstar está ganhando menos só porque GTA é pirateado a torto e a direito? Mas vamos analisar duas situações (consideremos ainda o nosso valor fictício de R$ 150,00 cada jogo):
- Um grupo de cinco amigos tem o mesmo video-game. Um deles comprou cinco jogos originais de uma mesma empresa e os outros quatro compraram os mesmos cinco jogos, só que na barraquinha da esquina. Resultado: a empresa em questão deixou de vender 20 unidades (R$ 3000,00) em um grupo de cinco pessoas. Multiplicando esse valor, a empresa ganhou um senhor rombo em seus cofres.
- Um grupo de cinco amigos tem o mesmo video-game. Cada um comprou apenas um jogo de uma mesma empresa, totalizando cinco jogos diferentes entre eles. Assim que cada um terminava seu respectivo jogo, emprestava para o outro. Isto aconteceu até todos terminarem os cinco jogos. Nenhum deles comprou mais jogos dos outros quatro que cada um não tem. Resultado: empresa em questão deixou de vender 20 unidades (R$ 3000,00) em um grupo de cinco pessoas. Multiplicando esse valor, a empresa ganhou um senhor rombo em seus cofres.
Viram a esquisitice da situação (por mais simples que tenha sido o raciocínio)? Emprestar jogos para os amigos teve o mesmo resultado da pirataria. E ninguém foi fora da lei. Ninguém foi imoral. As empresas ainda continuaram tomando prejuízo. Então a culpa de tudo é da pirataria? Mais uma vez, vemos que o assunto não é nenhum pouco simples.
Acabem com a pirataria, e com as videolocadoras também: Aproveitando o embalo do pensamento acima, vejamos o caso das videolocadoras. Elas compram um filme original e centenas de pessoas assistem aquela mesma cópia sem pagar nada para quem faz o filme, só para a locadora. Prestaram atenção: centenas de pessoas deixaram de comprar o filme e alugaram ele. E não fizeram nada de errado. O hábito de alugar filmes é velho, vem desde a época do VHS e eu nunca vi nada a respeito de falência de estúdios por causa das locadoras.
Ae com esse tanto de exemplo, vão vir com aquele papo dos impostos que os produtos piratas não pagam e coisa e tal. Como eu já disse, isso é relativo, porque se você baixa um filme pela internet, você paga muitos impostos e tributos sim (telefone, a prórpria internet, energia elétrica) e que nunca vem como algum retorno para o seu bolso ou para as empresas que deveriam. Na verdade, o preço das coisas que pagamos sobe muito mais rápido do que nossos salários.
MP3: O K-7 MODERNO
No caso dos CDs de música eu acho que já deveria ser questão resolvida. O mp3 veio para ficar, e não se adaptar ao mundo de hoje é burrice. Na verdade, "artistas" que defendem essa teoriazinha chula, de que a pirataria prejudica o artista para mim são piada. Qualquer pessoa sabe que quem enche o rabo de grana com CD é produtora e se o cara produzir por conta o ganho só cobre a produção do CD. Artista ganha dinheiro é com shows, e isto é fato. Vai falar que não é du caralho, você fazer uma música de manhã e a tarde já poder ter alguém curtindo o seu som no Japão, por exemplo? O nome disso é divulgação, e não pirataria. Até porque, quando gostamos muito de um CD vamos lá e compramos o original. Eu faço isso. A maioria das pessoas fazem isso. Mas não dá para depender só da grana. Se não fossem os mp3, não conheceria nem um terço das bandas que conheço hoje. E vem cá: na época dos discos tinhamos as fitas K-7. Todo mundo pegava discos emprestados e copiava, quando não gravavam das rádios. Agora me falem, que raios de artistas que não deram certo por culpa de fitas K-7?
ACABANDO SEM ACABAR
Bem, deu para sacar que eu só queria era jogar mais merda na cabeça de vocês, até porque eu não tenho uma solução para o problema. Na verdade a questão é justamente essa: não há (ainda) uma solução para o problema da pirataria. É um assunto complexo, que envolve muitos outros problemas. A única forma conseguir pensar em algo é uma mobilização coletiva. Não adianta dar sua opnião, seja ela a favor ou contra, dizer foda-se para os outros e ficar de braços cruzados, não vai adiantar nada.
Eu baixo jogos pela internet, alugo filmes e copio, baixo mp3 das bandas que gosto. Faço e pronto. Quando tinha um Game Boy Advance, comprei muitos jogos originais usados a R$ 60,00 feliz da vida, mas infelizmente não se acha jogos originais de qualquer console da geração atual (que além de cara ainda vive na assistência técnica). Claro que a maioria ainda compraria pirata, mesmo que um jogo saisse por R$ 30,00 (vide Outlive), mas se é um problema cultural também, então o que fazer a respeito?
Empresas que desistem de lançar seus produtos no Brasil por causa da pirataria para mim são hipócritas, porque essas mesmas empresas distribuem o mesmo produto em lugares como a China, que dispensa qualquer apresentação.
Enfim, não adianta ficar apontando dedo na cara, indicar culpados e inocentes, mocinhos e bandidos, é preciso se mobilizar e fazer algo. Se não, tudo não vai passar de uma briguinha qualquer de opniões. Pensem, opinem e façam.
* Revisado em 30/07/2013 às 00:11:22
Compartilhe